sábado, 24 de agosto de 2013

MÉRITO DEÍFILO GURGEL

Mestrando Pastoras e Namorando Gajeiros

O saudoso pesquisador  foi homenageado com a criação da Medalha do Mérito Deífilo Gurgel
Por Isaura Rosado*

“Deifilo Gurgel nasceu praieiro de mar e de rio, na ilha de Areia Branca, paraíso de dunas e de ventos, terra de sal e de versejadores. Menino, andou se alumbrando com o adusto chão avoengo de Caraúbas e lá, no alto sertão da Potiguarânia, conheceu as casas do ‘Quadro’, deve ter visto as ‘pinturas’ das ‘Pedras dos Índios’, e dado cangapé na água límpida do Olho D’água do Milho.
Em Natal, jovem, apareceu poeta. E dos bons. Na Capital, foi estudante, bancário, advogado, professor – tudo com muita competência, zelo e, acima de tudo, exemplar modéstia, coisa do seu temperamento, do seu jeito de ser. Por amor, casou com Zoraide, moça bonita, teve filhos – e continuou poeta. Réu confesso, aos quarenta e quatro anos de idade, arrumou, de estalo, sarna pra se coçar: uma imensa e extensa paixão temporã pelo folclore.
Essa ‘senhora’, airosa e balzaquiana, nunca antes o havia tentado. Passava, apenas – para ele, Deífilo – ao longe, sem maior brilho ou atrativo, dengosa, mestrando pastoras, namorando gajeiros, dando umbigada nos batuques, desfilando nos palanques de Djalma Maranhão. Cascudo e Veríssimo de Melo, entre bem poucos, viviam para cima e para baixo cortejando-a, gastando energia, tempo, papel, tinta, e selo postal”...
Assim, o poeta Laélio Ferreira definiu Deífilo Gurgel, o patrono desta medalha, homenageado pela Governadora Rosalba Ciarlini e pela Secretaria Extraordinária de Cultura por ocasião do seu “encantamento”.
A opção desta gestão, sem prejuízo de outras iniciativas, tem sido pela cultura de tradição. Inclusive já consagrada no Primeiro Plano estadual de Cultura, discutido em 40 fóruns por 1.500 pessoas
Os fundamentos e argumentações para o nascedouro do Agosto da Alegria que se enlaça com o turismo vão além do significado econômico aí imbricado. Tanto para a cidade - quando Natal se transforma no endereço e referência para a discussão e celebração da cultura de tradição - como para os brincantes, quando os seus festejos e manifestações se tornarem o grande espetáculo para os nossos olhos e para os nossos sentimentos.
Essa política de valorização da cultura também tem se manifestado no fomento às festas populares, inaugurando o apoio direto aos brincantes, como, por exemplo, no Carnaval, no Ciclo Junino. Aqui esse governo já investiu mais que qualquer outra administração em todo um mandato. Ou, quiçá, em mais de uma gestão. Um milhão e meio de reais.
Fizemos o primeiro apoio governamental ao Circo, proposto pelo próprio segmento. O João Redondo sentou, discutiu e definiu seus pleitos em conjunto com a ABOPT. Os violeiros disseram onde queriam cantar. A ”Escola” de João Redondo vai formar novos grupos de mamulengos. As pesquisas científicas já estão sendo publicadas.
O Salão Chico Santeiro já em sua terceira edição tem destacado artistas que, ao chegar à capital, por si só, já seria uma vitória, como é o caso de Zé de China de Major Sales. No seu “objeto”, num catavento, urdido para as “cumeeiras” das casas, bicicletas passeiam e gostosas paçocas são preparadas em pilões, cuja força do vento o faz de ação intermitente. José Fernandes de Santa Cruz, talhou a estátua da padroeira, Santa Rita. Aquela que zela pela cidade, em imagem gigantesca (maior que o Cristo Redentor, maior que a Estátua da Liberdade de Nova York), e inspira artistas e artesãos. # Wagner de Oliveira do Açu, sem ser naïf é terno e ingênuo. Estão lá, todos, expostos com elegância e dignidade na maior casa de cultura e de governo, o Palácio Potengi.
A homenagem amplia o conceito do objeto de interesse e de trabalho perseguido por Deífilo: o folclore. Em sintonia com os estudos mais atuais, despindo-se da carga ideológica que alguns encontram na palavra folclore, enaltece, sublinha e louva a cultura de tradição. E aí, destacamos não só os brincantes, as instituições, os estudiosos, o modo de ser, o jeito de escrever – por exemplo - de Paulo Balá, a forma de viver, ou a devoção de Nem.
Vida longa ao Mérito Deífilo Gurgel!  E que todos aqueles que de alguma forma apoiam as culturas tradicionais, em qualquer de suas linguagens e formas, possam ser reconhecidos! Muito obrigada.

* Fala da professora Doutora Isaura Rosado, Secretária Extraordinária de Cultura por ocasião da outorga do Mérito Deífilo Gurgel em 07.08.2013, no TAM.
** O Mérito Deífilo Gurgel foi criado pela Portaria n° 117/2013, para homenagear instituições, estudiosos e brincantes que atuam na preservação das culturas de tradição.
*** Foram agraciados com o Mérito Deifilo Gurgel em sua edição de 2013 (primeira edição) as seguintes instituições: Conexão Felipe Camarão, Scriptorium Candinha Bezerra, Fundação Hélio Galvão e Comissão Norte Rio-grandense de Folclore. Como Estudiosos receberam o Mérito os Professores: Luiz Assunção, Antonio Marques, Iaperi Araujo, Anna Maria Cascudo e Paulo Balá. Os brincantes Pedro Correia, mestre dos Congos de Calçola de Ponta Negra e Severino Roberto, mestre dos Caboclinhos de Ceará-Mirim. Ainda receberam homenagens o Maestro Bembém, pelo trabalho de musicalização desenvolvido junto aos jovens; Mãe Nem, pela defesa e propagação das tradições afro-brasileiras; e Chico Daniel, in memoriam.

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