domingo, 25 de agosto de 2013

“Papo reto”
(*) Rinaldo Barros
Esta é uma tentativa de entender como o contexto histórico atual do nosso mundo consegue gerar fenômenos do tipo manifestações autoconvocadas pelas redes sociais, com misteriosos grupos de mascarados, autodenominados “Black Bloc”, impulsionando milhares de pessoas em direção à fuga da realidade, através da “brincadeira de faz de conta”, na busca de um sonho impossível (?).
Desconfio que se trate de um processo embutido no “inconsciente coletivo” (se é que isso existe) de nossa população, notadamente dos mais jovens. Processo que possui suas bases na nossa dura realidade, injusta, feia, sórdida, violenta, e eivada de decepções e frustrações políticas; tudo embalado na mesmice do cotidiano e no vazio dos discursos dos poderosos.
Tudo isso gera uma incontrolável vontade de “fugir” desse mundo cruel e caótico: “pára o mundo que eu quero descer”.
Como encontrar o acesso à magia, ao reencantamento do mundo, à utopia, a uma razão para viver? Através da poesia, dos sonhos mirabolantes, do amor louco, do escândalo, da zombaria, do humor, do protesto no espaço público, do vandalismo contra os símbolos do poder, da disponibilidade para o humano, enfim.
É lógico: se a realidade é amarga, e eu não me identifico com ela, crio em minha mente um mundo diferente, da cor e do tamanho do meu devaneio: “Passagem gratuita para todos os transportes públicos, já”. A tentação é grande.
Teoricamente, é possível dizer, longe do que pensam alguns "críticos" racionalistas, que o surrealismo nada tem de "irreal" sendo, ao contrário, a busca intransigente de uma supra-realidade. Seu ponto de partida é o próprio cerne do que há de mais elevado e sublime no coração de cada ser humano: o surrealismo busca atingir e expressar a transparência do sonho.
Por outro lado, constata-se que nossos jovens estão confusa e profundamente afetados pela desesperança, pelo descrédito nas instituições e nas autoridades, sem bússola e sem horizonte. Qual a saída?
Construir o mais lindo dos castelos de sonhos, unindo poesia e transformação social, a mover céus e terras para dar-lhe expressão no mundo real. Esta a motivação maior dos surrealistas de todos os tempos e Nações.  
Aliás, fronteiras, pátrias, governos, espaço, tempo, tudo isso é considerado ilusório, questionável pelos surrealistas.
Nada mais fácil de entender, principalmente para os jovens, a atitude surrealista de imaginar que pode tentar transformar a vida na cidade onde vivem como num sonho, ainda que seja mirabolante louco ou grotesco. É o novo dentro da mesmice. Lamentavelmente.
As passeatas de protestos com inúmeras bandeiras de luta, ao sabor das relações virtuais entre os jovens desencantados com os políticos profissionais e com as instituições, no Brasil e no mundo; expuseram algumas lideranças políticas ao ridículo, todos assustados e com medo de segurar a lanterna nas próximas eleições.
Dilma, por exemplo, perdeu a chance histórica de - com o apoio do povo nas ruas - exigir dos aliados o compromisso programático (aprovado pelo seu partido em Congressos Nacionais) com as grandes questões sociais do povo brasileiro, como as reformas indispensáveis (tributária, urbana, política, agrária, universitária), as quais o governo do PT nunca sequer discutiu com o parlamento nem com a sociedade.
Todavia, a presidente optou pelo pragmatismo, de olho em 2014. Esse erro pode custar caro.
É a hora e a vez de mudar o compromisso diante da vida, resgatar e transmitir, através de exemplos e atitudes, os valores sobre os quais foi erigida a civilização: verdade, justiça, honestidade, beleza, dignidade, pais e mães da esperança de se construir um futuro melhor para a Humanidade.
Bem que os atuais potenciais candidatos poderiam, de imediato, utilizar o seu poder de comunicação com o eleitorado para alertar acerca da responsabilidade de cada um na hora de votar. Seria uma ótima oportunidade de colaborar com uma forma concreta de contribuir para a construção da cidadania.
Brincar de faz de conta é muito bom, mas somente com muito estudo e trabalho é possível transformar o mundo. E, na hora de votar, não adianta tirar onda. É bom analisar quem tem “papo reto” com as novas gerações.
Votar é papo sério!

(*) Rinaldo Barros é professor - rinaldo.barros@gmail.com

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