sábado, 1 de dezembro de 2007

O POETA DA CAMISINHA



Valter Campanato/ABR

Nairobi (Quênia) - O poeta João da Cruz Ramos Filho mostra trabalho feito em embalagem de preservativo durante o 7º Fórum Social Mundial.
Nairóbi (Quênia) - João da Cruz Ramos Filho apresenta-se como o “poeta da camisinha'”, em alusão aos versos que publica em embalagens de preservativos. Com patrocínio de uma fábrica brasileira e apoio do Ministério da Saúde, ele usa o tempo que sobra do cargo na Justiça do Trabalho para distribuir gratuitamente as “camisinhas poéticas” nas ruas da cidade que escolheu para morar, Itajai, no litoral catarinense.A arte, diz ele, permite que os preservativos sejam doados em qualquer local. “Hoje eu consigo distribuir poesia, quer dizer, preservativo, em qualquer lugar: restaurante, festival, faculdade, mercados”, conta. “Sem ela, infelizmente, ficaria muito difícil se eu chegasse num restaurante e puxasse uma camisinha para distribuir''.Os poemas foram reunidos e publicados em um livro, Fragmento Especial. Mas, ao contrário da edição, Ramos Filho não conseguiu apoio financeiro para viajar ao 7º Fórum Social Mundial e distribuir as camisinhas na África, continente onde vive um terço das pessoas portadoras do vírus HIV em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).Assim, o poeta pegou um empréstimo bancário para pagar, do próprio bolso, a viagem até Nairóbi. ''Eu não podia perder a oportunidade de mostrar o meu trabalho para o mundo''.Ramos Filho sentiu o esforço recompensado quando, na cerimônia de abertura do fórum, conseguiu fazer com que um de seus poemas chegasse até o mestre de cerimônias. A tradução para o inglês de "Água de Cacimba'" foi lida para o público, que, segundo o poeta, aplaudiu os versos "'Vem, Mãe África! Vem beber em minhas aguas, e desnudar de minhas entranhas, no emoldurado de um soluço".Como o poeta, o casal de estudantes da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Rodrigo Rodrigues, de 18 anos, e Rosseline Tavares, de 24 anos, teve de juntar dinheiro para realizar o desejo de voltar a participar do fórum. "Manaus é muito distante de Porto Alegre [onde ocorreram a primeira, a segunda e a terceira edição] e não podemos pagar avião. “Mas quando foi em Caracas [na Venezuela, onde foi feito o fórum no ano passado] conseguimos fechar um ônibus até lá”, diz Tavares.Para a edição africana, eles conseguiram um financiamento do governo estadual para uma parte da passagem. O restante foi coberto com doações de R$ 200 a R$ 3 mil de empresas amazonenses. A motivação era apresentar uma oficina da organização Antropologia e Cidadania na Amazônia, formada por três pessoas. Além dos dois estudantes da Ufam, Leila Thome, que é a orientadora de ambos na faculdade.A oficina, que tinha como tema a antropologia no Amazonas, durou três horas e acabou virando um debate sobre relação Brasil-África e as perspectivas do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Segundo os estudantes, a oficina teve participação de sete franceses, tres antropólogos moçambicanos, duas italianas e uma sindicalista goiania. "'O que a gente pensava que seria só uma explanação virou um debate, que foi muito legal", conta Rodrigues.

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