DESDÊMONA
Apontamentos revelados (suíte)
Ciro José Tavares
“Não permitam os céus que vosso amor e nossa
felicidade cessem de crescer antes que terminem nossos dias !”
William Shakespeare, in Otelo Ato II
Num disciplinado canto o rouxinol,
arauto da manhã pousado nas réstias dos primeiros raios,
parecia pedir que diáfanas cortinas fossem afastadas,
janelas abertas para despertar a luz
na nudez marfim e perfumada do teu corpo.
Presos um ao outro escutávamos
o farfalhar do vento nos salgueiros,
inebriados pelo aroma suave soprado dos jacintos.
Para renascer fugi da dor e do eclipse,
submerso numa fonte de lágrimas emergi,
envolto num ambiente de sombras vim ao sol.
A esperança que tanto tempo nos alimentou,
a mesma que nos fez astros opacos na distância,
até que Cloto na roca de prata entrelaçou,
os fios dos destinos além do esquecimento.
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