(*) Rinaldo Barros
Faz um tempinho que estou querendo entender melhor - mania
de sociólogo - esse surgimento de uma “nova classe média”, aqui no patropi.
Diariamente, todos os brasileiros convivem e visualizam os
resultados decorrentes da pobreza, na qual a maioria da população nacional se
encontra. Curiosamente, uma parcela da população (senso comum) acredita que a
condição de miséria de milhares de pessoas espalhadas pelo território
brasileiro é causada pela preguiça, falta de interesse pelo trabalho,
acomodados à espera de programas sociais oferecidos pelo governo.
Em verdade, nas últimas décadas, o desemprego (e a fome)
cresceu em nível mundial paralelamente à redução de postos de trabalho, que
diminuiu por causa das novas tecnologias disponíveis que desempenham o trabalho
anteriormente realizado por uma pessoa, a prova disso são os bancos que
instalaram caixas de auto-atendimento, cada um desses corresponde a um posto de
trabalho extinto.
É o desemprego estrutural.
Isso tem promovido a precarização dos vínculos de trabalho,
isso quer dizer que ninguém está garantido em seu emprego, e todos buscam uma
permanência no mesmo.
Quando um trabalhador é demitido e não encontra um novo
emprego em sua área de atuação, ou em outras, fica impedido de gerar renda
através de sua força de trabalho. Sem o seu trabalho, o homem não tem honra; e
pode até mesmo ser envolvido pelo submundo da criminalidade.
O desemprego obriga as pessoas a procurar lugares impróprios
à ocupação urbana, sem esgoto, água tratada, transporte, saúde, educação,
segurança.
Em que pese a constatação de que essa desigualdade ainda
permanece; nos últimos anos, o aumento da renda do brasileiro, via políticas
compensatórias e crescimento econômico, incorporou 27 milhões de pessoas às
camadas médias, mudando a divisão dos recursos e alterando os padrões de
consumo no País.
Hoje, as camadas médias brasileiras (aquelas com renda
domiciliar entre R$ 1.064,00 e R$ 4.561,00), composta por cerca de 108 milhões
de pessoas (num total de 204.292.395 almas), de acordo com dados da Fundação
Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
O fenômeno despertou o interesse dos grandes empresários.
Tanto que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) idealizou e realizou um
amplo estudo da classe média, analisando comportamento social, ambições
profissionais, projetos de sociedade e padrões de consumo. O projeto resultou
no livro “A Classe Média Brasileira – ambições, valores e projetos de sociedade”,
escrito pelos cientistas políticos Amaury de Souza e Bolívar Lamounier.
Uma coisa é certa. Para impulsionar a “nova classe média”, é
crucial manter a inflação baixa, baixar os juros, aumentar ou manter o nível de
empregos formais, assim como melhorar a educação (ainda) de baixa qualidade
oferecida pelas escolas e universidades. Tudo o que o governo do PT está
destruindo, e - em desespero - apelando para um “ajuste fiscal” para tentar
escapar, sem cortar a própria gastança.
É preciso não esquecer, entretanto, que ainda falta muito
para que essa “nova classe média” se estabeleça de forma mais sólida. E,
principalmente, porque o conceito de classe se define na esfera da produção, e
não na ponta do consumo.
Isso revela outro equívoco grave do governo do PT. Ou seja,
ao invés de fortalecer a esfera da produção, com incentivos e melhoria da
infraestrutura, estimula o consumo e o crédito, aumentando o lucro dos bancos.
O aumento do consumo desta “nova classe média” é sustentado
pelo endividamento das famílias, ou seja, pela oferta de linhas de crédito
direto ao consumidor, com juros muito altos. Os estudos sobre a inadimplência
apontam para o futuro (incerto) desses novos e sôfregos consumidores.
Quantos endividados honrarão suas dívidas? Os empregos serão
mantidos?
Ainda é preciso observar por mais algum tempo para aferir se
este é um fenômeno duradouro (estrutural), ou se é apenas uma bolha
conjuntural, resultante de um crescimento artificial e temporário da economia,
sustentado pelo endividamento.
Por enquanto, o que é certo é que a chamada “nova classe
média” brasileira é ainda apenas uma camada social formada por milhões de
pessoas endividadas.
Oxalá não voltem à miséria!
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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