domingo, 21 de outubro de 2007
POESIA - CANTO DO MANGUE- POETA JÁECIO CARLOS DE OLIVEIRA
CANTO DO MANGUE
E assim nasceu o hábito
de ficar às margens do Potengi
no fim das tardes
em companhia de mesas humildes
cobertas de plástico
entre risos e falas
entre tapiocas e peixes frescos
ouvindo o canto compassado
das suas mansas marolas
da maré enchendo...
o Canto do Mangue
na velha Ribeira e no fim das Rocas
reúne vozes, pessoas e pescadores
em tardes de convívio informal...
assim vem o paladar
cheio de vorazes tentações
à bordo de cachaças e cervejas...
histórias e relembranças
presenças e ausências
de sonhos e saudades...
assim é o Canto do Mangue
e seus mistérios
suas viagens camufladas de estrelas
seus nativos trôpegos
de indecifráveis conversas
e de horizontes longínquos...
barcos descansam depois da pesca
e são refugio de esperanças...
seco,
o rio mostra seus pés de pedra cinza-chumbo
desnudos no repouso de siris,
passarinhos e segredos...
homens-do-mar vivem sem sonhos
falam conquistas e vitórias lúdicas
em momentos de agonia e anonimato...
não há prazer
nem expectativa neles,
apenas vivem o momento depois da pesca
com seus peixes e frustrações
na contagem regressiva dos dias...
assim é o Canto do Mangue
caminhando com suas próprias histórias
seus peixes frescos
suas tapiócas de coco
seus pescadores escuros de tanto sol
suas bebidas fortes
suas angústias
seus “por-de-sol” dourados
suas luas cheias de prata
suas mansas / fortes marolas
seus abismos
seus noturnos de cervejas e cantorias
suas barracas de madeira
e seus gatos famintos...
...e tem ainda
a lagosta na brasa
assada por Izaqueu das rocas,
num fogareiro de pedra e carvão
no chão da praça
cheia de areia e restos
de construção
e amigos de fé....
ah! Canto do Mangue
porto seguro / inseguro
portador de recados de deuses
e de nós
seus súditos benditos:
JAÉCIO DE OLIVEIRA CARLOS
Do livro “Poemas Explícitos”
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