segunda-feira, 5 de novembro de 2007

PERSONALIDADE CULTURAL - ESCRITORA MARIA EUGÊNIA MONTENEGRO


RECORDAÇÕES DE UMA POETISA MINEIRA – ASSUENSE, ESCRITORA, CRONISTA, TROVADORA, CONTISTA, POETA , ARTISTA PLÁSTICA E IMORTAL.



Nascida em terra mineira, precisamente em Lavras / Minas Gerais, Maria Eugênia Maceira Montenegro dividiu - se entre Minas e Assu, no Rio Grande do Norte, quando conheceu e casou – se com o engenheiro agrônomo - Nelson Borges Montenegro.
Escritora por talento e vocação, Gena (como era mais conhecida) começou a escrever aos 12 anos (os leitores reconhecerão essa assertiva, num dos seus últimos livros, prefaciado por Lúcia Helena Pereira e intitulado: “LAVRAS - TERRA DE LEMBRANÇAS* (um romance de suas reminiscências entre Minas e o Rio Grande do Norte).
Além de escritora, poetisa, cronista, trovadora, contista, exímia cozinheira e artista plástica de sensibilidade bastante apurada, Maria Eugênia era uma mulher de extraordinária capacidade narrativa, daí eu ter lhe cognominado como Historiadora do Vale do Assu.
Escreveu seu primeiro livro na década de 60: “Saudade, Teu Nome É Menina” e não parou mais, até o dia do seu encantamento, com mais de 80 anos de idade, deixando títulos brilhantes como “Alfar, A Que Está Só”, “Perfil De João Lins Caldas”, “A Andorinha Sagrada De Vila Flor”, “ Lembranças E Tradições De Assu”, “A Piabinha Encantada e outras histórias”, “Porque o Américo ficou lelé da Cuca”?, Lourenço. O Sertanejo” e outras obras.
Integrou várias antologias regionais e nacionais, tanto da AJEB da qual foi Delegada Regional (1980 a 1989), como de outras entidades. Foi Presidente do Conselho Regional dos Direitos e das Minorias, em Assu / Rn e Prefeita do município de Ipanguaçu (1972 – 1976), numa administração irrepreensível, era integrante da Academia de Trovas do RN.


DENTRE OS SEUS INÚMEROS POEMAS DESTACAMOS:

O SOLUÇO DA SEMENTE

Eu ouvi a semente chorar dentro de mim
E ouvi seu choro manso e morno,
De furtivas lágrimas rolando pelos rios d´alma
Como adornos de uma cascata inexistente.
Eu ouvi o soluço da semente
E o seu anseio fremente de vida.
-Se não nasceste, semente de minha vida,
É porque carregas o destino de não viver.
Estás dentro de mim, na tristeza do não ser,
Sempre viva! Eternamente viva,
Como as sementes que cresceram e deram frutos!


LÁGRIMAS

Lágrima!
Pérola salgada,
A rolar, desesperada,
Pelos sulcos da face.

Amálgama de sal e água,
A rolar, sempre sentida,
Pelo salso mar da mágoa!



FLOR DO AMOR

Quero te ofertar a flor
Dos beijos que plantei em tua boca.
Tem o perfume suave do amor
E a ternura de almas se encontrando.

Quando vires a flor entreaberta,
Lembra - te, querido amor,
Das lágrimas que a regaram.

E sentirás, quando beijá - la,
Um amargo sabor de sal
Que as pétalas trêmulas captaram.

A DANÇA DAS HORAS

As horas começam a dançar pela manhã.
Esfregam os olhos no orvalho
E dançam um balé matinal,
Nas searas crescendo,
No arrulhar dos pássaros,
Nos filhotinhos nascendo.
Lá fora as crianças vão correndo para as escolas,
Mamãe olhando as horas chama os meninos.
- Onde está a menina - moça?
- Com o namorado lá fora,
Olhando o balado das horas.
Não se cansam de dançar as horas,
É noite! É dia! É novamente noite! Novamente dia!
E as horas dançando nas auroras,
Nas noites de luar,
Nas manhãs douradas,
Acompanhando as espigas ao sol,
Das sementes plantadas!
Os vaga - lumes não dormem,
Piscam a noite inteira e batem palmas piscando,
À dança das horas.
À dança das horas!
Há uma nova menina - moça,
Novos campos de flores brotando,
A vida eterna passando,
Cantando seus ternos amores
E as borboletas noivando
E as horas dançando...
Quando o bailado vai terminar?
Meus cabelos já estão brancos,
Meu vestido de noiva já não tem cor,
Meu menino cresceu,
Tanta gente morreu...
E as horas dançando, dançando...
Até quando? Até quando?





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