Homenagem ao poeta-maior do Rio Grande do Norte
Walcy Joannou (*)
A decisão da prefeitura de Natal (RN) de homenagear com uma estátua na Praça Pôr-do-Sol o poeta Othoniel Menezes de Melo é o reconhecimento oficial da importância para a cultura da cidade e da terra potiguar daquele que foi eleito por intelectuais "o príncipe dos poetas do Rio Grande do Norte".
Contemporâneo de Câmara Cascudo, Othoniel transformou em versos o seu amor pela sua terra, com destaque para o Rio Potengi, que banha Natal. Autor da "Canção tradicional da Cidade", Serenata do Pescador, ou "Praieira", musicada por Eduardo Medeiros, o poeta enfrentou perseguições políticas por suas posições definidas e sua fidelidade ao amigo João Café Filho, que viria a eleger-se vice-presidente da República e mais tarde, em 1954, assumiria a presidência, com o suicídio de Getúlio Vargas. Passou privações, foi abandonado por muitos que se diziam amigos e não escondia, nos derradeiros anos de sua vida, já acometido pelo Mal de Parkinson, a amargura e a desilusão por tudo o que passara.
Conheci o poeta quando em 1950, com onze anos, fui visitá-lo na casa de sua filha Terezinha e do genro Lauro Braga, herói da FEB, em Marechal Hermes, zona norte do Rio de Janeiro. Com a timidez própria da idade impressionei-me com aquela figura austera que afagando minha cabeça disse sorrindo: - Então esse é o Walcy de que tanto ouvi falar? Ali estavam também seus filhos, meus contemporâneos, Laélio (Lelo) e Hermilo (Netinho), com quem no decorrer dos anos me identifiquei profundamente, a ponto de considerá-los irmãos fraternos.
Os laços de amizade entre minha mãe, nascida em Ceará-Mirim, e a mulher do poeta, Maria da Conceição, vinham de muitos anos atrás. As duas contavam que existia até um grau de parentesco longínquo entre elas, fortalecido pelo fato de Maria ter batizado minha mãe quando moravam naquela cidade.
Quando o poeta Othoniel mudou-se em definitivo para o Rio de Janeiro, em 1962, já com os sintomas da doença se intensificando, passamos a ter mais contato por morarmos no mesmo prédio, na Rua Queiroz Lima, 18, no Catumbi. Sempre que podia gostava de conversar com aquela extraordinária figura, homem culto, capaz de analisar qualquer assunto, fosse político ou ligado à cultura. Iniciante no jornalismo na época, algumas vezes mostrava-lhe matérias que escrevia para o jornal Tribuna da Imprensa e poesias ou crônicas que brotavam da cabeça de um jovem romântico e boêmio, como ele o fora também na mocidade. Esperava que lesse os meus escritos e ansioso aguardava sua opinião. Não se furtava a criticar quando achava erros ou falta de inspiração, no caso das poesias.
O Rio Grande do Norte e mais especificamente a cidade de Natal estavam devendo ao poeta Othoniel Menezes de Melo uma homenagem desta magnitude. Deve ser ressaltado o empenho de Laélio, com quem trabalhei na redação da Tribuna da Imprensa, em 1965 - ele um promissor repórter -, em manter viva durante todos esses anos a lembrança do poeta, seu pai.
A prefeitura de Natal está de parabéns pela iniciativa, apesar de achar que o poeta deveria ter recebido homenagens em vida e não relegado ao abandono, como ocorreu. Ressalto a tenacidade e a garra de Laélio, que em todos essas anos não tem medido esforços para tornar viva a lembrança de um dos maiores vultos da cultura do Rio Grande do Norte, que morreu em 1969, amargurado e triste pela perda, um ano antes, da fiel companheira Maria, no decorrer de seu auto-exílio no Rio de Janeiro, quando tentava esquecer as decepções com a indiferença com que era tratado na terra que amava e exaltava na suas obras poéticas, dentre as quais "Sertão de Espinho e de Flor" (1952), "Canção da Montanha" (1955), e talvez sua maior composição, a "Serenata do Pescador", ou "Praieira" (1922). Guardo com carinho os versos desta canção com que ele me presenteou com o seu autógrafo. Farei todo o possível para estar presente à inauguração da sua estátua e emocionado dizer, olhando para ela: - Veja, poeta, a justiça tarda, mas não falha. Agora você pode descansar em paz.
(*)
Jornalista, registro no MTb 11.888/1968, graduado em Direito (1979), registro na OAB-RJ nº 43.025.
Ex-presidente dos Comitês de Imprensa da Assembléia Legislativa do antigo Estado da Guanabara e Assembléia Constituinte e Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, assessor de imprensa e de relações públicas, assessor parlamentar, repórter e redator de política, economia, cultura, cidade, esportes e jornal falado.
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