"Crise ressuscita Marx", por Rinaldo Barros
Os ideólogos neoliberais argumentaram, em 1989, que o capitalismo liberal (fundado no deus-mercado) havia triunfado para sempre, e que a história havia chegado ao fim. Ou seja, que o neoliberalismo era um sistema de relações humanas definitivo para todo o sempre.Na última década, vimos a crise financeira do leste asiático, que começou no verão de 1997; a crise econômica Argentina de 1999-2002 e, sobretudo, a crise dos empréstimos hipotecários que começou nos Estados Unidos em 2006 e agora tornou-se a maior crise financeira do pós-guerra: 4 trilhões de dólares desapareceram das Bolsas, em uma semana.Em meio ao desespero, está surgindo um fenômeno bastante interessante.Segundo Eric Hobsbawm (nascido em Alexandria, no Egito, em 1917), um dos mais importantes historiadores marxistas europeus vivos, "há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado".Karl Marx fez algumas previsões descrevendo o mundo capitalista moderno em termos globais, em seu Manifesto Comunista, de 1848.Naquele tempo, o barbudo já alertava: "A necessidade de um mercado em constante expansão para seus produtos persegue a burguesia em toda a superfície do globo. Ela precisa se aninhar em toda parte, se estabelecer em toda parte, e criar conexões por toda parte. A indústria moderna converteu a oficina do mestre patriarcal na grande fábrica do capitalista industrial.". A novidade é que Marx está de volta. São os capitalistas, mais que outros, que estão redescobrindo Marx. Vários capitalistas admitem que o filósofo ainda oferece uma análise valiosa do fenômeno da globalização. Ao sugerir que o livre comércio era uma condição de progresso, Marx identificou a China e a Índia como sócios potenciais do capitalismo. Também preveniu que o capitalismo lutaria para administrar as tensões associadas à economia global. Como podemos explicar esse súbito ressurgimento? Primeiro, o fim do marxismo oficial da União Soviética libertou o pensamento do homem Marx da identificação pública com o leninismo em teoria, e com os regimes leninistas na prática. As pessoas começaram a notar, uma vez mais, que há coisas realmente muito interessantes em Marx, nas idéias marxianas. E isso, em certo sentido, conduz a segunda e principal razão: que o mundo capitalista globalizado que emergiu nos anos 1990 era, em certos aspectos, muito parecido com o mundo que Marx previra em 1848 no Manifesto Comunista.Alerta ainda Hobsbawm, "Se a política da esquerda no futuro será inspirada uma vez mais nas análises de Marx, como ocorreu com os velhos movimentos socialistas e comunistas, isso dependerá do que vai acontecer no mundo capitalista". Isso se aplica não somente a Marx, mas à esquerda considerada como um projeto e uma ideologia política coerente. Posto que a recuperação do interesse por Marx esteja consideravelmente baseada na atual crise da sociedade capitalista, a perspectiva é mais promissora do que foi nos anos noventa. A atual crise financeira mundial, que pode transformar-se em uma grande depressão econômica mundial, dramatiza o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado e obriga, inclusive o governo norte-americano, a escolher ações públicas esquecidas desde os anos trinta: intervenção do Estado na economia.Ou seja, Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista.Resumo da ópera: a globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo (hoje, financeiro, fundado na especulação), geradora de exclusão social, miséria, ignorância, violência e crises. Marx será o filósofo do século XXI. Será?
Rinaldo Barros é professor da UERN –
CONTATO: rinaldo.barros@gmail.com
Fonte: http://www.liberdade96fm.com.br/sintonizado/index.php
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Teremos o maior prazer em receber seu comentário.