NÎMES
Também assim se morre,
ouvindo as cigarras tisnando o dia,
no quarto, antes de dormir.
Também ao querer fruir,
memorizando paisagens,
emoldurando pensamentos,
no trajeto de uma viagem.
Também por querer o repouso
do corpo fatigado de dias intermináveis
e frios, atrás de portas e janelas travadas,
para evitar o barulho dos automóveis.
Também assim se morre: vivendo.
31.08.1998
2. O templo de Diana
Esta é a ermida da palavra.
Os verbos ainda escorrem das pedras,
ressoando sentidos
nas frestas e nos nichos.
Os substantivos permanecem,
tisnando seu sumo no assoalho gasto.
A palavra tombou numa eternidade
de esquisita calma e aceite de transcender
as idades e os costumes,
de se permitir ser fantasma,
aguardando eventuais poetas com olhos de pauta.
Estas colunas e arcos
resguardam um arcano,
uma presença do simples
para os que também habitam
os interstícios das palavras.
31.08.1998
AS SEREIAS
O que de mundos houver,
com seus mananciais de arcanos,
formas, idéias e símbolos,
ofertamos sem recato, sem parcimônia,
as chaves para a franca entrada
nas sendas dos tantos regatos de significantes.
O que de mundos houver,
chafurdaremos nas pelágicas regiões,
onde nunca chega a luz, o saber, a consciência
que arruma, contorna, figura,
ordenando o apresentado como caos.
Ofertamos tão somente a luminância da razão.
02.04.2010
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