sábado, 3 de abril de 2010

POESIAS DE MARCOS DANTAS

NÎMES

1. A arte de morrer

Também assim se morre,

ouvindo as cigarras tisnando o dia,

no quarto, antes de dormir.

Também ao querer fruir,

memorizando paisagens,

emoldurando pensamentos,

no trajeto de uma viagem.

Também por querer o repouso

do corpo fatigado de dias intermináveis

e frios, atrás de portas e janelas travadas,

para evitar o barulho dos automóveis.

Também assim se morre: vivendo.

31.08.1998

2. O templo de Diana

Esta é a ermida da palavra.

Os verbos ainda escorrem das pedras,

ressoando sentidos

nas frestas e nos nichos.

Os substantivos permanecem,

tisnando seu sumo no assoalho gasto.

A palavra tombou numa eternidade

de esquisita calma e aceite de transcender

as idades e os costumes,

de se permitir ser fantasma,

aguardando eventuais poetas com olhos de pauta.

Estas colunas e arcos

resguardam um arcano,

uma presença do simples

para os que também habitam

os interstícios das palavras.

31.08.1998

AS SEREIAS

O que de mundos houver,

com seus mananciais de arcanos,

formas, idéias e símbolos,

ofertamos sem recato, sem parcimônia,

as chaves para a franca entrada

nas sendas dos tantos regatos de significantes.

O que de mundos houver,

chafurdaremos nas pelágicas regiões,

onde nunca chega a luz, o saber, a consciência

que arruma, contorna, figura,

ordenando o apresentado como caos.

Ofertamos tão somente a luminância da razão.

02.04.2010

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