Ciro José Tavares, in As elipses de Phoenix
Que neblina é essa, afinal?
Que neblina é essa
Que não deixa entrar pelas vidraças
Lanças de ouro do universo?
Que insiste inundar átrios
De noturnas claridades?
Que neblina é essa
Que me esgarça os fios pelo tempo
E rompe as linhas que bordaram vidas?
Que neblina é essa
Que me silencia as ruas,
Anoitece as casas,
Extermina os sonhos?
Que neblina é essa
Que conduz à lágrima,
Cria o estéril, reprime o riso?
Que neblina é essa
Que me morre
Triste nas lembranças,
Que me turva a vista
Diante dos retratos desbotados?
Que neblina é essa
Que me esconde os calendários,
Destrói meus santos
E rasga os véus dos templos?
Que neblina é essa
Que não me responde,
Não me questiona, ontem, hoje, sempre?
Não me festeja a vinda, não me diz adeus?
Que neblina é essa, afinal,
Que não me apaga sequer
As luzes da memória?
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