sábado, 6 de novembro de 2010

À Leste de Greenwich Village



Ciro José Tavares, in As elipses de Phoenix

Que neblina é essa, afinal?

Que neblina é essa

Que não deixa entrar pelas vidraças

Lanças de ouro do universo?

Que insiste inundar átrios

De noturnas claridades?

Que neblina é essa

Que me esgarça os fios pelo tempo

E rompe as linhas que bordaram vidas?

Que neblina é essa

Que me silencia as ruas,

Anoitece as casas,

Extermina os sonhos?

Que neblina é essa

Que conduz à lágrima,

Cria o estéril, reprime o riso?

Que neblina é essa

Que me morre

Triste nas lembranças,

Que me turva a vista

Diante dos retratos desbotados?

Que neblina é essa

Que me esconde os calendários,

Destrói meus santos

E rasga os véus dos templos?

Que neblina é essa

Que não me responde,

Não me questiona, ontem, hoje, sempre?

Não me festeja a vinda, não me diz adeus?

Que neblina é essa, afinal,

Que não me apaga sequer

As luzes da memória?

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