terça-feira, 30 de novembro de 2010

POESIA DE CIRO JOSÉ TAVARES


Sinfonia Hubble

Finale

Na viagem, procurando portas

Do outro lado do céu,

Seguimos

Inexorável trajetória

Sem saber

Se estamos adiante

Ou se voltamos.

Vamos bêbedos

Na beleza do mistério.

Submersos

No oceano circular

Refletido

Em fragmentos ofuscantes

De espelhos inclinados.

Precisamos sempre,

E sempre mais,

De energia,

Para impedir

Que o cosmos desmorone,

Regressando ao buraco

Negro do princípio.

Antes da atualidade

No futuro,

Nada resta físico.

A lembrança permanece

E o sol

Terá sido

Lendária máscara

Dourada da infância ,

Explodida na galáxia,

Reduzindo a espera

Da fuga acelerada.

Na viagem

Ao céu do outro lado

Das estrelas,

Será doce ouvir

Bandurras programadas

Despertando antigos

Sons das gestas,

Enquanto, tristes,

Mapeamos nos computadores

A ressurreição

Do espaço descoberto

Através das vigias

Ovaladas da nacela.

Navegamos insensíveis,

Noite adentro,

Que nos ronda

No ritmo dos acordes

Compassados

Da invisível mão

Que move

A mecânica celeste.

Ciro José Tavares, in As Elipses de Phoenix

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