VIAGEM DENTRO DO TEMPO*
No dia da noite seguinte, aurora
sangrará toda linha do horizonte,
purificando nuvens formatadas
corpos humanos pelas mãos dos deuses.
Flores brotarão avermelhadas
poluindo rios mortos nas nascentes.
Nas cidades suspensas, ruas de espaços
arderão sob enlouquecidas luas
apagando noturno olhar de homens.
No dia da aurora, sempre a noite
e seus transeuntes deprimidos,
que ressuscitam na manhã seguinte,
num renovar-se crescido de incertezas.
No útero da noite o dia explode
tempo refeito sem saber destino,
fictício azul esgarçando-se na luz.
*Ciro José Tavares,
in Anêmonas
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