Decidida a estar e a manter-me fisicamente bem sem me submeter ao
bisturi
e aos horrores das invasivas cânulas que lipam todas as indesejáveis
gordurinhas,mas nos
deixam o corpo com marcas e hematomas terríveis,além de muitas dores,
resolvi tornar-me frequentadora assídua das academias de ginástica,cumprindo as
atividades
programadas para obter uma boa forma física,indo da natação ao pilates.
Insatisfeita com a minha performance,resolvi fazer aulas de
Balé.Perceberam a ousadia?E lá fui eu roxa de vergonha e de medo,por
ter que enfrentar uma professora,um espelho enorme,além de outras alunas mais
jovens do que eu e o pior de tudo:o meu total despreparo.Havia feito aulas de
dança moderna na juventude,há mais de duas décadas,digamos.Mas a alavanca
impulsionadora desse despróposito era o desafio.Era saber-me capaz de sair de
uma área de conforto para desestruturar a rigidez do meu corpo,flexibilizar
movimentos,alongar os meus músculos acostumados a tensão que a prática de
musculação impõe,além de transgredir um preceito de que Balé é só para jovens.
A dança sempre me fascinou,mas me equilibrar em ponta sobre um par de
sapatilhas para ensaiar um plier aos quarenta e tantos anos,ninguém
acredita.Foram quatro meses pagando mico nas aulas,mas determinada a acertar
alguns passos.A gota d'água foi no final do semestre ter que ensaiar uma
coreografia para ser apresentada no Teatro Alberto Maranhão.Tirei as sapatilhas
e encerrei o meu curso de Balé Clássico.Faltou coragem para continuar o
desafio,o que me frustrou um pouco.Sabemos que além de ser um exercício
prazeroso,a dança resgata nossa auto-estima,nos faz confiantes,nos
torna mais flexíveis e sensuais.Enfim,dançar por si só já é ótimo,mesmo que pra
nada servisse.
Danço mesmo que seja sozinha,mas com a atitude que as aulas de Balé me
ensinaram.É muito mais excitante e agradável aos olhos
de quem apenas observa por não ter coragem de se aventurar no salão.Dancemos sem
nos importar com o ridículo,concentrados apenas,
num ritual que exige uma sintonia absoluta com a música que está tocando,com o
próprio corpo e com o parceiro que está se propondo
conduzir ou ser conduzido.Aprendi que basta confiar,acertar a sucessão regular
de tempos fortes e fracos (o ritmo),e se entregar a essa forma diferente e
mágica de convivência,a essa conexão silenciosa que pode nos levar
ao êxtase.Dancemos nós,com ou sem sapatilhas,mas dancemos!
Diulinda Garcia
Natal,10/09/2010
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