terça-feira, 28 de dezembro de 2010

POEMA DE JORGE DE LIMA

Espírito Paráclito

Jorge de Lima

Queima-me Língua de Fogo !
Sopra depois sobre as achas incendiadas
e espalha-as pelo mundo
para que Tua chama se propague !
Transforma-me em Tuas brasas
para que eu queime também como Tu queimas,
para que eu marque também como Tu marcas !
Esfacela-me com Tua tempestade,
espírito violento e dulcíssimo,
e recompõe-me quando quiseres
e cega-me para que os prodígios de Deus se realizem,
e ilumina-me para que Tua glória se irradie !
Espírito, Tu que és a boca de todas as sentenças,
toca-me para que os meus irmãos desconhecidos
longínquos e estranhos compreendam a minha fala
para todos os ouvidos que criares !
Exceder-me-ei em meus limites,
crescerei em todas as distâncias,
serei a palavra transcendente, a profecia,
a revelação e as realidades !
Devora-me, renova-me, ressurge-me
em sua vontade criadora diante da morte e diante do nada !
Aguça a minha intuição,
descansa em minhas pupilas,
agita a minha lentidão,
faze-me numeroso como Tu,
cobre todo o meu corpo de pálpebras
que espreitem todas as latitudes e longitudes
e expectativas e anunciações e partos e concepções
e gerações e séculos de séculos !
Ressurgirei de todos os ventres e voarei no sentido
da perpetuidade sobre as águas e sobre as terras !
Desata-me Espírito Paráclito ! Corta os meus laços,
sopra a terra que há sobre a minha sepultura !
Enche-me de tua verdade e sagra-me Teu moderno apóstolo !
Amo como poeta a forma com que Te apresentaste
à Assembléia do Cenáculo !
E sinto a Tua presença,
a Tua aproximação, a Tua unção sobre minha alma !
Dá-me Tua fecundidade sobrenatural,
Tua heroicidade e Tua luz !
unge-me teu sacerdote, teu soldado, teu vinho, teu pão,
Tua semente, Tuas perspectivas !
Espírito Paráclito, dedo da direita do Pai,
soergue as minhas pálpebras descidas
e sopra sobre elas o Teu hálito e Tua essência !
Espírito Paráclito, amo-Te, com os meus cinco sentidos,
com a minha imaginação, com a minha memória
e com os outros dons poéticos e proféticos
e reconstituidores
que ultrapassam minha espessa matéria
e meu espírito translúcido !
Sou teu ramo de oliveira que trazes
dos dilúvios constantes da humanidade
e cujo óleo ungirá os iguais e os desiguais do meu tamanho !
Espírito Paráclito, Tu que és o único pássaro que desce
sobre mim na minha noite untuosa,
fura os meus olhos para que eu veja mais,
para que eu penetre na Unidade que Tu és,
a liberdade que Tu és,
a multiplicidade que Tu és,
para eu subir de minha pequenez e me abater em Ti !


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