quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

COMENTÁRIO SOBRE LIVRO DE JANSSEN LEIROS


ALELUIA DO HOMEM NOVO

Reflexões à margem

Ciro José Tavares

Os personagens não passam ao esquecimento. Ficam retidos na memória sendo possível imaginar as aparências, o modo de caminhar e os sonhos.

Jansen Leiros, com seu estilo fácil e pedagógico, sustentado pelos fios da ciência e caminhos metafísicos, devolve-me ao universo ficcional de Arthur Clarke.

Estar em Amuna Khur é como se estivéssemos em Rama, do outro lado do céu, ouvindo as canções da terra distante. Morya, que nos leva a um dos satélites de Júpiter, e Heloin que nos recebe como um pai e nos diz adeus suspenso no ar com sua luz prateada, confirmam a possibilidade de nossa ressurreição como homens novos, capazes de transpor os obstáculos das forças involutivas, tão presentes nos dias atuais, retrato dos seres humanos como grandes ou maiores predadores na face do planeta azul.

Arthur Clarke admite que não estamos sós no universo e Jansen, material ou espiritualmente,está filiado à corrente do escritor inglês.Ao longo do tempo, mergulhado na minha paixão pelo mito, tenho refletido sobre nossos destinos, depois que o Pai do Tempo, para usar a expressão do poeta alemão Hölderlin, solicitar nossas presenças para prestação de contas.E como acredito que na vida nada é ocasional e tudo determinado estou certo que, de alguma forma iremos muito mais longe, aqui ou viajando pelas estrelas.A perfeição da máquina humana, examinados os aspectos anatômicos e fisiológicos, conduz nosso raciocínio lógico, à admissão de ser pouco provável termos sido criados para existência tão curta. Quase ao final, Jansen adota essa diretriz ao abordar o triângulo Heitor, Eline e Luíza Helena. A tragédia acabará por uni-los, corroborando a sentença: “Em nossas veias corriam o mesmo sangue. Enfim, somos irmãs desde priscas era.”

Há um detalhe na obra de Jansen que deve ser enfatizado. Ele conduz o texto como se maestro fosse regendo uma sinfonia, indo, inesperadamente, do adágio ao andantino, focando detalhes, diminuindo ou elevando no momento preciso a sonoridade para dar ritmo ao texto.

Minha observação resulta do hábito na composição poética e, para exemplificar, transcrevo o poema final da Sinfonia Hubble, inserido no meu livro As Elipses de Phoenix:

Na viagem, procurando portas do outro lado do céu,

Seguimos inexorável trajetória sem saber

Se estamos adiante ou se voltamos.

Vamos bêbedos na beleza do mistério.

Submersos no oceano circular refletido

Em fragmentos ofuscantes

De espelhos inclinados.

Precisamos sempre e sempre mais,

De energia para impedir que o cosmos desmorone,

Regressando ao buraco negro do principio.

Antes da atualidade no futuro,

Nada resta físico. A lembrança permanece

E o sol terá sido lendária máscara

Dourada da infância, explodida na galáxia,

Reduzindo a espera da fuga acelerada.

Na viagem ao céu do outro lado das estrelas

Será doce ouvir bandurras programadas

Despertando antigos sons das gestas,

Enquanto tristes mapeamos nos computadores

A ressurreição do espaço descoberto

Através das vigias ovaladas da nacela.

Navegamos insensíveis,

Noite adentro, que nos ronda

No ritmo dos acordes

compassados

Da invisível mão

Que move a mecânica celeste.

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