Há uma saudade incontida
queimando meus sentidos desde que
meu barco arrebentou nos arrecifes
de tuas praias feácias.
Fiz-me cativo de tua pele clara
e de tuas ninfas dedilhando
harpas de cordas de ouro.
Submeti-me aos teus sonhos
para sonhar,
às tuas lembranças,
para lembrar.
As mais simples,
as mais complicadas,
as mais puras,
as mais doloridas.
Perdoa-me porque custei
a rever doído
teus cabelos alongados,
brilhando sob antiga luz artificial.
Assisti ao fogo devorar
o sangue de Heitor
e a poeira das planícies vestir
o corpo de Aquiles.
Dá-me teu corpo e deixa
que eu me amanheça,
amanhecendo
adormecido em ti.
Ciro José Tavares
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