quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PRAGMATISMO

Públio José – jornalista

(publiojose@gmail.com)

O pragmatismo foi idealizado, formulado e estruturado como movimento filosófico tendo por base a defesa do conceito da verdade no confronto com as dificuldades e desafios que acontecem na rotina humana. Seria, no caso, transpor, para o dia a dia das pessoas comuns, complexas fundamentações filosóficas envolvendo a essência da verdade como prática comportamental, de maneira a firmar nelas uma sólida postura psicológica, vivida nos ambientes familiar, social, profissional, político, a fazê-las determinadas defensoras da verdade. Vê-se que, inicialmente, o pragmatismo se assemelhou em sua estruturação à doutrina cristã, ao envolver a defesa da validade de um conceito ao longo da existência da vida – como semeado no cristianismo em relação à defesa da fé. Pelo lado cristão, o exemplo extremo foi dado no Coliseu, no famoso sacrifício aos leões, em fidelidade a uma concepção espiritual de vida.

Já o pragmatismo teve seu significado esgarçado ao longo do tempo. Seu conteúdo deturpou-se tanto que hoje nada tem em comum com a essência do que foi idealizado e estabelecido pelos fundadores. Seu berço de origem foi o território americano, entre a virada do século 19 e os primeiros anos do século passado, tendo por expoentes os filósofos Charles Sanders Peirce e Wiliam James, inspirados na visão, percepção e proposições de Ralph Waldo Emerson, tendo outros acadêmicos de renome e matizes variados participado de sua conceituação. De início, o objetivo era fixar seu arcabouço científico/intelectual no meio acadêmico – e sua praticidade como elemento rotineiro para uso e utilização pelas pessoas em geral – convencidos de que o pragmatismo só subsistiria como proposta filosófica válida na medida em que fizesse parte da vida comunitária, da rotina do chamado “cidadão comum”.

Tanto é assim, que – pela sua concepção inicial – a ênfase era voltada às conseqüências de sua utilidade, tendo o sentido prático como componente vital da verdade, princípio que, acima de tudo, deveria prevalecer. A conseqüência desse ideário levou a um raciocínio pelo qual o pragmatismo passou a se caracterizar pela descrença no fatalismo, injetando em seus seguidores a certeza de que só a ação humana – movida pela inteligência e energia – poderia alterar a realidade existente. Entranhado, assim, de tanto pragmatismo, o pragmatismo desvencilhou-se do dogma da verdade e adquiriu o dogma da praticidade, tornando-se uma mera “filosofia de resultados”. A busca pelo prático, pela solução rápida, pelo objetivismo existencial ganhou espaço em sua dinâmica, transformando-o em simples instrumento a serviço da ordem realista, da proposição lógica, da feitura útil na solução de desafios.

Trilhando tal caminho, o pragmatismo viria se chocar mais adiante com a ética, com as normas morais que regem o comportamento humano. De tanto esticão que sofreu em seu significado, é tido hoje como o conjunto de atos e iniciativas praticados por alguém que age rápida e objetivamente na solução de qualquer desafio – não importa se atropelando a honestidade, o respeito ao próximo, o bem comum. Ser pragmático, enfim, é ser sabido demais, ganhar muito em pouco tempo, subir vertiginosamente na carreira profissional, chegar em primeiro lugar em tudo, mesmo sendo condenáveis os métodos utilizados. O problema para quem o faz em excesso é perder a noção da realidade, desconhecer os limites que separam seus direitos dos direitos dos outros e, por conseqüência, trombar com os ditames da lei. Lindíssima sua concepção. A primeira. A original. Flores pra ela. E saudade. Muita saudade...

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