quinta-feira, 28 de julho de 2011

APODI QUE EU AMAVA




APODI QUE EU AMAVA

William Lopes Guerra


Não o Apodi infestado de automóveis poluentes,
De trânsito vexatório, cruzamentos perigosos...
Mas aquela dos muares e dos carros de boi!
Evoco o Apodi dos Mascates,
Apodi que sempre amei ontem,
Apodi não violento, sem progresso,
Apodi da minha infância.
As tardes de domingo eram mais bucólicas,
mais românticas - as Valsas nas residências -
o futebol no campo da antiga timbaúba...
plantada por Rozinha de Zé Reinaldo.
Chico Gato vendendo pão, de porta em porta,
um cesto enorme aprumado numa rodilha sobre o cocuruto;
os pregões dos picolés de Nhô Baité;
as velhas cachimbando nos batentes...
pici-nez na ponta do nariz a maniganciarem os bilros...
Apodi da lagoa sem poluição;
das comadres sentadas na calçada;
conversa de costureiras;
os preparativos festivos de casamentos.
As ruas estreitas, as casas se segurando umas nas outras,
a cumplicidade, os segredos, a inocência.
Apodi de hoje, com sons histriônicos pelas ruas,
Festas sem intermitência, luzes incandescentes,
Música de gosto quizilenta, não me atrai...
Mas aquela luz da lua, aquele violão plangente,
Quanta recordação... Quanta saudade...
Por que sumiram os redemoinhos levando a sujidade embora?
Acabaram com a algazarra da meninada nas enxurradas;
Não se vê mais casais de namorados na pracinha...
Apodi atual, repleta de computadores,
dos brinquedos virtuais, das conversas on-line,
do apogeu da moda importada e controvertida,
da malícia, do modernismo de toda ordem..
Preconceito, não! Mas civilidade, sim!
Por isso tudo e mais a falta da minha rua descalça,
onde armava o nosso trivoli,
onde plantava bananeira,
pensava que era feliz, só pensava...
Apodi passado que não volta mais, aquele eu amava...
Aqui, nessas linhas mal traçadas, imitei o poeta
na hora do protesto de veneração e respeito.


(Em 23 de março de 2011)

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