terça-feira, 9 de agosto de 2011

A ÚNICA COISA QUE NÃO MUDA É QUE TUDO MUDA




Por Flávio Rezende*

Quando mais jovem gostava muito de participar de todos os eventos esotéricos que aconteciam em Natal. Apesar do assunto ser um tanto quanto novo nos idos dos anos 80, 90, já ia para palestras do Dr. Flávio Zanatta sobre macrobiótica; entrevistava o homem do Rá, Thomas Green Morton; frequentava o restaurante Amai, de Véscio Lisboa, que depois passou a ser chamado de Subhadro; comia ainda no A Macrobiótica do já desencarnado Dr. Martins e, chupava cristais, dormia dentro de uma pirâmide, lia o Bhagavad Gita, praticava Meditação Transcendental do Mahahishi Manesh Yogi, além de cantar o mantra Hare Krishna e fazer jejuns prolongados entre outras milongas mais.
De todas essas experiências restou hoje a adesão ao vegetarianismo, a devoção ao santo e educador indiano Sathya Sai Baba, o gosto pela prática do seva - que é a filosofia de que se serve a Deus servindo aos homens e, o amor por tudo e por todos, esteja onde estiver, fazendo o que for.
Lembrando do quanto as coisas passam faço uma leitura positiva da vida e da trajetória que venho tendo, incorporando a meu viver um rosário de boas lembranças e, a certeza que ao decidir enveredar por estes assuntos dei o rumo certo a minha vida.
Acredito que se não tivesse tido interesse nestas questões espirituais, especialmente sob o prisma da cultura oriental, estaria hoje mais materialista que espiritualista e, mais egoísta que solidário, cuidando mais do meu ouro, que do pão do próximo e, focado mais no meu nariz, que no coração do irmão necessitado de ajuda fraterna.
A vida passa e vez por outra faz bem a gente olhar o passado para que possamos compreender melhor o presente. Meu interesse pelos mestres indianos e pela filosofia espiritualista aconteceu por volta dos meus 20 anos. Quando esta pérola luziu de maneira mais forte estava envolvido com álcool, maconha, cigarros Plaza ou Hollywood e vivenciava a difusão da idéia do cada um por si e um Deus mais alegórico que real, por todos.
Se não tivesse começado a juntar as areias que foram construindo este castelo interior dentro de meu ser, tenho certeza que hoje, poderia estar com minhas paredes ruidas, mal pintadas e, meu castelo abrigando apenas meus próprios sonhos.
Olhando pelo retrovisor do tempo lembro como se fosse hoje, que foi ao cobrir jornalisticamente o lançamento do livro de um paulista devoto de Krishna que, surgiu interiormente, o desejo de ir ate à Índia. Aquela viagem marcou minha vida e foi onde travei contato pela primeira vez com Sai Baba, que credito ter sido o responsável pela grande mudança em minha presente encarnação, pois, foi através da crença em suas afirmações que consegui abandonar todos os vícios, direcionando minha vida do meu para o nosso bem estar, do egoísmo para o universalismo, conseguindo, mesmo sem a adesão da grande maioria de minha geração, seguir por um caminho que considero ter sido a coisa certa que foi feita.
Em algum momento de nossa vida os caminhos surgem e precisamos ter alguma certeza de seguir para o lado certo. Hoje meu castelo é habitado por uma multidão de seres, pois, segui o caminho da inclusão. Abraço as causas sociais, amo verdadeiramente as pessoas carentes, tenho preocupação com elas, encontro tempo para buscar melhorias para essas pessoas em todos os níveis e, sei que não faria isso se não tivesse enveredado pelo caminho espiritual tempos atrás.
O bom neste olhar para o passado é que essa rota espiritual que segui nunca foi radical, amo igualmente Jesus, Buda, Krishna, Krishnamurti, Sai Baba, Osho e tantos outros mestres ascensionados ou não, que vou conhecendo neste caminhar. Não excluo ninguém, freqüento e ajudo todas as correntes, já fiz assessoria de imprensa voluntária para espíritas, evangélicos, católicos, iogues, eventos diversos de todas as filosofias exotéricas, esotéricas, hindus, indianas, o que for.
Gosto de tudo e de todos, vejo em todos os mestres e em todos os seres a centelha divina, me vejo em todos, sinto que estou em todos e todos estão em meu ser, por qual motivo então os condenaria se ali também existo?
A vida segue, tudo muda, hoje acordei no bairro República, passei a manhã caminhando entre pessoas drogadas, chantadas nas calçadas de São Paulo, com seus pés descalços pretos, cobertores sujos, uns tremiam, outros estavam praticamente mortos, foi uma caminhada dura.
Depois um amável sobrinho, o Beto Rezende, me pegou no hotel e agora estou em seu apartamento no Itaim-Bibi, belo bairro paulistano. De frente para este sexto andar frondosas e maravilhosas árvores, ao fundo os prédios com suas luzes já acesas anunciam a noite. Torres diversas e coloridas da Avenida Paulista revelam um novo tempo, a era das comunicações.
Dos meus vinte anos para cá muitas coisas mudaram e, olhando para trás sinto que tomei o rumo certo. Da manhã de hoje para este início de noite algum tempo passou e vivi duas realidades, a de pessoas escravas de escolhas que as aprisionaram num mundo que mais parece um inferno e, as pessoas que vivem e moram num lugar saudável, com padarias sortidas e lindas paisagens ao redor.
Como disse Zanatta em uma de suas palestras na Natal dos anos 80, "a única coisa que não muda, é que tudo muda", então, olhando para trás e para o aqui e agora, observo no silêncio da contemplação desta cidade, seja na claridade que me revelou a dor dos que dormem nas calçadas, seja na escuridão que revela as luzes deste bairro prazeroso, que devemos trabalhar por uma eterna mudança em nós, nos outros e, no planeta, mas, uma mudança, claro, que possa nos levar e elevar a todos, para caminhos de luz, de paz e de beleza interior.
Se a todo instante tudo muda, faça da sua mudança pessoal, a mudança que você deseja que aconteça no mundo, como já afirmou o sábio Gandhi, que ao ver os irmãos sendo maltratados na África do Sul, levou para a Índia e espalhou pelo planeta, a sua politica de não-violência, a ahimsa, passando para a história como um homem que mudou para melhor a vida de muitas pessoas.
Ao construir seu castelo procure sempre utilizar o cimento dos valores humanos e, no acabamento final, pinte suas paredes com as tintas do amor verdadeiro, não o amor filosófico, virtual, sexual, o amor verdadeiro é o que encontra no UM, na unidade, o real sentido da vida e, no caminho para a dissolução final nesta unidade, viva a diversidade com respeito, carinho e servidão.

* É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

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