Vaguei no silêncio das ruas tortuosas
vendo estrelas refulgir sobre o templo de Jerusalém.
Vaguei perguntando-me quem era e o que fazia ali,
sem respostas até chegar à porta do cenáculo.
Vinde forasteiro, logo será servida a ceia,
somos apóstolos resignados dentro da tempestade.
Não sou digno, senhor, do vosso teto e companhia,
do pão e do cálice que partilhareis com vossos convidados.
Senhor sou menor que o grão da pedra fragmentada
Que Harmattan misturou às areias do deserto.
Sou o que abandonou Madalena às margens do Lago Tiberíades,
que bebeu com Herodíades e dormiu nos diáfanos lençóis de Salomé,
que não acreditou no milagre das bodas de Caná,
que recusou a água da samaritana,
repudiou o irmão pródigo
depois dele ter sido conselheiro.
Escondi-me de Simão Cirineu na Via Dolorosa
e de Verônica que enxugou a face de Jesus.
Gritei pela libertação de Barrabás,
Estive no pretório de Pilatos e nada fiz.
Quero penitenciar-me regressando à Galiléia,
ver o sangue dos pés cobrir a poeira dos caminhos,
alcançar Belém e rezar na manjedoura,
diante do sepulcro vazio de José de Arimatéia
sentir a vitória e redenção do terceiro dia.
Ainda que sejam curadas as feridas estendendo
Sobre elas o sagrado manto do Cordeiro,
imagino a solidão e agonia do Iscariotes
para compreender que não sou digno
do perdão que ofereceis, apóstolo resignado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Teremos o maior prazer em receber seu comentário.