domingo, 2 de outubro de 2011

PORTAS CERRADAS



“He andado muchos caminos,

He abierto muchas veredas;

He navegado em cien mares

Y atracado em cien riberas.”

Antonio Machado, in Soledades II

Atrás das portas o silêncio assume o porte de um deus

para abraçar minha saudade diante do oratório

de santos ausentes e vazio de velas apagadas.

A fosforescência estelar desce pelas aberturas

do teto, entre telhas e caibros esgarçados

pela implacável mão do tempo estendida

sobre sombras e lembranças do passado.

Bem atrás das portas o pátio na escuridão,

recendendo aroma de jasmins e alfazemas,

a névoa, filha do rio, soprada pela brisa,

sangue sagrado de Nessos sobre o canavial.

Diante das portas a dor de não reencontrá-los,

medo de reabrir e ver a própria face num espelho.


Ciro José Tavares

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