“He andado muchos caminos,
He abierto muchas veredas;
He navegado em cien mares
Y atracado em cien riberas.”
Antonio Machado, in Soledades II
Atrás das portas o silêncio assume o porte de um deus
para abraçar minha saudade diante do oratório
de santos ausentes e vazio de velas apagadas.
A fosforescência estelar desce pelas aberturas
do teto, entre telhas e caibros esgarçados
pela implacável mão do tempo estendida
sobre sombras e lembranças do passado.
Bem atrás das portas o pátio na escuridão,
recendendo aroma de jasmins e alfazemas,
a névoa, filha do rio, soprada pela brisa,
sangue sagrado de Nessos sobre o canavial.
Diante das portas a dor de não reencontrá-los,
medo de reabrir e ver a própria face num espelho.
Ciro José Tavares
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