terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ARTIGOS DO PROFESSOR DA UERN JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO


Notas sobre a atualidade do pensamento de Josué de Castro: Sessenta e cinco anos de publicação da “Geografia da Fome”
(*) José Romero Araújo Cardoso

Josué de Castro foi um profeta das Ciências Sociais no planeta. Quando da publicação de clássico intitulado “Geografia da Fome” no ano de 1946, lançado imediatamente pós-segunda grande guerra, um dos mais importantes livros de sua extensa produção, foi traduzido em vinte e cinco idiomas, demonstrando a importância da análise efetivada pelo consciente pernambucano.
A regionalização brasileira enfatizada em “Geografia da Fome” destacou a existência de cinco áreas com características singulares no que diz respeito aos aspectos nutricionais: A amazônica, o nordeste açucareiro, o sertão, o centro e o sul.
Josué de Castro inovou ao inserir perspectivas analíticas diferenciadoras da produção científica em voga, contestando as previsões apocalípticas de Malthus e denunciando a concentração da terra no Brasil. Provou que em 1946 havia condições concretas de alimentar a multidão de famintos se houvesse prioridade para a agricultura familiar.
Os livros “Geografia da Fome” e “Geopolítica da Fome”, publicado no ano de 1951, renderam importantes prêmios internacionais a Josué de Castro. A luta em prol da paz fez com que o renomado cientista nacional fosse indicado duas vezes para o prêmio Nobel destinado a esta categoria. Josué de Castro foi indicado ainda para concorrer ao Nobel de medicina em razão dos seus estudos sobre a nutrição no planeta. Infelizmente não foi contemplado em nenhum dos setores.
Pela publicação da “Geografia da Fome”, Josué de Castro recebeu o prêmio Roosevelt da Academia de Ciências dos EUA e em razão de sua luta sem trégua por um mundo sem guerras, pela criteriosa ênfase ao pacifismo, recebeu o prêmio internacional da paz.
Nos dias de hoje, cerca de 16 milhões de pessoas, de brasileiros, vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos de setenta reais por mês. Caso as pregações de Josué de Castro tivessem sido colocadas em prática há mais tempo a situação desumana vivida por esses seres humanos, gente como a gente, não estaria tão grave, não obstante no presente estar havendo certo alento no que diz respeito à importância de determinadas políticas públicas que visam erradicar a fome e a pobreza crônica no Brasil, embora ainda primem pelo mero assistencialismo, pois a geração de emprego e renda é absolutamente necessária a fim de combater esses males sociais.
Eficaz distribuição de terras como devido implemento às condições necessárias a fim de fixar o homem no campo ainda não foram concretizadas. O latifúndio e a ganância dos poderosos ainda perduram na atualidade, imperando as exigências do agrobusiness a fim de garantir as impecáveis exigências do mercado externo, reeditando a essência do pacto colonial que viabilizou o sistema de plantation.
Mais de 50% dos milhões de miseráveis brasileiros se concentram no nordeste brasileiro no qual nasceu Josué de Castro. Não mudou nada desde a publicação da “Geografia da Fome”, ou seja, a porção rica e privilegiada do espaço geográfico nacional encontra-se impecavelmente estruturado, não obstante haver pobreza a mais do que quando do lançamento do célebre livro, em razão do avanço da urbanização motivada principalmente pela industrialização tardia e dependente que começou a ser definida quando do governo entreguista de JK.
As denúncias esboçadas por Josué de Castro há sessenta e cinco anos ainda não suscitou correção das distorções aviltantes que fazem da sociedade brasileira uma das que mais se destaca pela concentração abusiva de renda que se responsabiliza pela exponência da fome e da miséria absurdas em território nacional.

(*) José Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto da UERN. Coordenador do projeto de extensão “Discutindo a importância e a atualidade do pensamento de Josué de Castro em escolas públicas municipais e estaduais de Mossoró-RN”

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