sexta-feira, 6 de abril de 2012

ESCRITOR CARLOS MORAIS DOS SANTOS ESCREVE SOBRE A POESIA DE EDUARDO GOSSON




 ESCRITOR E POETA PORTUGUÊS
CARLOS MORAIS DOS SANTOS
 POETA EDUARDO GOSSON
PRESIDENTE DA UBE/RN

APRECIANDO A POÉTICA DE “ENTRE O AZUL E O INFINITO”
DO POETA EDUARDO GOSSON
Por Carlos Morais dos Santos

Neste livro, o poeta Eduardo Gosson, está ali, pairando suavemente, na beleza
do "Entre o Azul e o Infinito", na essência da sua estética e poética fina e
subtil, no simbolismo do justo, perfeito e incorruptível que, simbólicamente, é
também atribuído aos Belos e Grandes Cedros das Florestas do país dos seus
ancestrais, onde os imponentes cedros, que por terem esse simbolismo tão
marcado e forte, foram utilizados na construção desse outro grande símbolo
mítico da civilização ocidental, um símbolo arquitetônico e monumental do
Palácio-Templo do Rei Salomão, onde, como o próprio signicado dos Cedros,
ele próprio administrava o Bem, o Belo e o Justo.
Tudo é claro, simples, belo, profundo e complexo, mas transparente e puro,
como a cristalina água que brota da fonte original da montahna! Tudo está ali
bem á flor dos sentidos.
É um livro que apetece revisitar e reler, para que em cada leitura se apurar e
sentir mais o perfume delicado das emoções estéticas e poéticas da poesia de
Eduardo Gosson. Para mim, foi uma descoberta e inesperada surpresa
agradável e gratificante, no quadro da poesia Potiguar, de que tenho lido
bastante, mas não o suficiente.
Este meu encontro-descoberta com a poesia de Eduardo Gosson neste seu livro
“Entre o Azul e o Infinito”, ainda no prelo, se deve à afetuosa gentileza do autor
que me permitiu uma leitura antecipada, justificada também pelo fato de me ter
honrado com o privilégio de incluir no prólogo uma recente carta minha que lhe
havia dirigido, comentando o que pensava de sua pessoa e da espontânea e
natural identificação entre nós e do afeto e consideração que, desde logo, nos
uniu, quando nos conhecemos. O Homem que já admirava, vem agora, como
Poeta, ao meu encontro com uma poética emocionante, sedutora, e para mim
surpreendente.
Emociona e seduz, porque também nos revela uma poesia éticamente edificante
na sua pureza sem artifícios ornamentais que, muitos poetas, alguns bem
considerados, para fugirem à simplicidade que não dominam e não atingem -
onde, afinal, reside a grandeza da poesia plena de verdade - usam e abusam do
excesso metafórico sem beleza que são meros artifícios gongóricos para darem
ares de superior intelectualismo, pretensamente codificado em metáforas
misteriosas, inacessíveis, que se julga evidenciarem uma linguagem culta para
elites cultas, académicas ou não, quando, em boa verdade, em grande parte dos
casos, se tratam de poéticas cuja linguagem nem os autores e os leitores,
encontram palavras para decifrar e explicar. O que quer dizer, frequentemente,
que se trata de um trabalho poético oficinal, construído pacientemente palavra a
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DO POETA EDUARDO GOSSON
Por Carlos Morais dos Santos
palavra, até se encontarem os versos e as metáforas mais carregadas de
mistérios de semânticas insondáves para impressionar (não emocionar) pseudo
elites que se julgam enaltecidas ao se reverem em tão inpenetráveis poéticas.
A melhor poesia dos grandes poetas de todos os tempos, foi sempre aquela que
“entrou”, imaginariamente, nos píncaros do sublime “Monte Olimpo” onde só
tinham lugar Os 12 Deuses que viviam em seus Palácios, sendo o Grande
Palácio de Cristal, no cume mais alto, Habitado por Zeus, onde se deliciavam
com o som da Lira de Apolo, com o canto das Musas, a dança das Cárites, e com
a poesia dos Poetas Eleitos pela sua arte, para agradarem aos Deuses. Os Doze
Deuses que governavam o Olimpo, cada um com os poderes que lhes tinham
sido atribuídos por Zeus, na verdade, simbolicamente, representavam todos os
Deuses e todo o povo grego, de modo que pode afirmar-se que os “Olimpos” do
nosso tempo, só se alcançam na poesia, como noutras artes, quando elas tocam
o coração e agitam a mente dos leitores. E os Doze Deuses do Olimpo eram
apreciadores da simplicidade da poesia pura, da palavra exata, do verso perfeito,
porque eles próprios comandavam o mundo dos mortais com apenas pucas
palavras, sem discursos, Relembro, já agora, quais eram os Doze Deuses do
Olimpo:
ZEUS - HERA – POSSIDON-HADES HÉSTIA - ATENA - ARES - APOLO – ÁRTEMIS-AFRODITE-HERMES - HEFESTO
Os “Poetas Eleitos” convidados entravam vestidos de singela túnica branca e
Coroa de folhas de louro a envolver suas cabeças, como símbolo da pureza e
simplicidade porque tinham atingiddo a grandeza do belo sublime, do simples
maravilhoso.
Monte Olimpo Plácio de Zeus no cume do Olimpo Pintura dos 12 Deuses do Olimpo
Para mim, a melhor poesia dos verdadeiros POETAS, é aquela poesia que nos
traz e oferece a emoção da palavra exata, depurada e profunda, que exprime
humanidade em emoções eternas, que nos reconduz às verdades perdidas no
pasado, nos abre as janelas ao sol nascente do presente, ou nos profetiza e
visiona as paisagens do futuro, nos narra naturalmente uma história, ou nos
agita os sentimentos como se fosse um pintor de plavras-imagens, ou nos
interpela o nosso consciente e inconsciente sem rodeios, ou nos escancara
seus próprios estados emocionais e sentimentais, nos faz aflorar uma líquida
comoção em nossos olhos, ou sentir um frémito de vida palpitante que acelera a
batida dos corações, ou arrepia as emoções na superfície da nossa pele.
Na bela poesia, a metáfora não pode ser uma bengala que ampara o desvalido
poeta. A metáfora quando surge magnífica, é como o cantar natural das águas
por entre as pedras dos rios, como um sol que resplandece nos espaços entre
nuvens, como a nota musical que identifica a melodia das palavras, das frases,
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dos versos, se despindo à luz, como o girasol, ou pudicamente fazendo entrever
os segredos sensuais que sugerem a beleza erótica das pétalas entreabertas de
uma rosa. Por isso se pode dizer que um só verso pode valer um poema, um só
poema pode valer um livro, um só livro pode valer uma Obra.
De Camões a Fernando Pessoa, de Gregório de Matos a Carlos Drumond de
Andrade, os melhores poetas da língua portuguesa nos ofereceram a beleza da
simplicidade, na grandeza das dimensões éticas, estéticas e poéticas da sua
poesia.
Esta beleza se sente presente nestes poemas de “Entre o Azul e o Infinito”, do
Poeta Eduardo Gosson. Talvez, quem sabe, o poeta Eduardo Gonson transporte
no sangue libanês que lhe corre nas veias, um pouco da alma e do elevado
espírito lírico da grande e milenar tradição poética dos poetas da antiga e rica
cultura libaneza que vem de fenícios e cartagineses, e que ainda hoje tem poetas
de grandeza universal, como, por exemplo, a poesia do grande poeta do amor e
do humanismo do século XX, que foi Gibran Khalil Gibran, também pintor e
filósofo mundialmente lido e respeitado. Poeta que tenho o privilégio de te-lo
respresentado na minha biblioteca de Lisboa, numa de suas mais importantes
obras – “O Profeta”. Também neste grande poeta podemos encontrar a beleza
da simplicidade estética que só os verdadeiros poetas conseguem alcançar.
Vejamos abaixo, o exempolo de um pequeno poema de Gigran Khalil Gibran:
Poma de Gibran Khalil Gibran
(1883 – 1931).
poeta, pintor, filósofo
“É melhor para nós e mais sábio,
Procurar um recanto à sombra
E dormir em nossa divindade terrestre
E deixar o amor, humano e frágil,
Comandar o dia que chega”.
(Deuses da Terra)
A leitura dos poemas deste livro “Entre o Azul e o Infinito” de Eduardo Gosson
me fez pensar que o poeta transporta no pulsar do seu sangue libanês, essa
sensibilidade lírica pura, compulsiva. Quando se diz que também em cada
português existe uma réstea de poeta, talvez seja pelas semelhantes razões
originais, hemo-biológicas, pois nas veias dos lusitanos, também corre parte
desse sangue libanês-fenício, o que faz de nós parentes ancestrais porque
também temos os genes dessa milenar e rica cultura, uma das mais antigas e
brilhantes culturas do Mediterrâneo e de que eu, como Lusitano sou também um
produto miscigenado dessa rica matriz, porque fomos também colonizados por
Fenícios-Cartagineses e Árabes, durante séculos, que nos legaram, entre outras
coisas, que ser poeta é também ser profeta e filósofo, e que a verdadeira arte só
existe na busca do aperfeiçoamento da sabedoria da simplicidade e que esses
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são os verdadeiros poetas que, comandados por impulsos instântâneos, sem
deixar de lado a exigese estética, são compelidos a não poderem deixar de se
exprimir de uma forma singular.
Ser poeta é ser arauto do bem, do belo e do justo, tal como se atribui ao mítico
Cedro do Libano essa mesma simbologia metafísica, espiritual, filosófica, só
própria dos poetas que o são porque não podem deixar de o ser, porque,
Independentemente da sua vontade a poesia acontece como o seu natural
respirar, em compaço com sua mente e coração, como forma inevitável de sua
própria necessidade de elevação estética e lírica,
O Líbano, de rica cultura milenar é considerado um dos berços da civilização
ocidental que se desenvolveu a partir do mediterrâneo na poesia, como noutras
artes, iluminaram com seus legados a cultura universal e deixaram também
marcas na Lusitânea. Ocorre-me, agora a voz poética da sublime maior
representante do romantismo português, sobre o que, para ela, era ser poeta.
Ela me segreda agora ao meu ouvido:
Ser Poeta
...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca - Charneca em Flor
Esta Solar Terra Potiguar é, sem dúvida, uma região do Brasil – país que já
viagei quase de ponta a ponta desde há cerca de 40 anos – onde, quer no litoral,
quer no interior potiguar, se sente e respira uma magia mística, espiriual, e um
sortilégio que captura sedutoramente os nossos sentidos e emoções. Sente-se
esse mistério tanto nas serras, como no sertão e no cerrado, como no litoral na
contemplação das dunas, como na beleza do caminhar do Potengi para o
oceano, tanto nos segedos do Mangue e da Mata Atlântica, como na magia
pictoral dos esplendrosos por-do-sol.
Aqui, nesta Terra Potiguar, talvez ainda devam morar alguns Bons Deuses do
Olimpo, na forma mortal, talvez Apolo, Deus do Sol, com sua lira e poemas,
talvez Afrodite, inspirando amor e beleza, talvez Atena, protetora das artes e da
cultura, aqui se tenham recolhido ao abrigo do caos que os homens construiram
à sua volta.
A minha alma lírica e os meus “olhares” e “sentires” de poeta que fotografa,
com frequência e sem eu querer objetivamente, se sentem afagados por esses
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mistérios, que sinto na fresca brisa marítima que acaricia a minha face; no sol
que me ilumina interiormente depois da chuva morna que me lava a alma; nos
segredos cantados pelos mangues e matas; no cheiro da terra molhada; nas
gotas de pérolas cristalinas que brilham nos braços das verdes plantas do
nosso jardim; no sorriso sensual que nos oferecem as rosas e orquídeas
selvagens que adornam as trilhas dos caminhos por onde, ocasionalmente,
adentramos nas matas; no pentear dos canaviais ondulados pelo vento; na
sinfonia do chilrear dos pássaros que frequentam a nossa “Vila Verde”, em
Ponta Negra.
Desde há vinte anos, quando comecei a me enamorar por Natal e a ficar aqui
todos os anos algum tempo de férias, até decidirmos consentir em cedermos à
sedução e ao enamoramento de Natal e construir a nossa residência, que eu
comecei a me sentir possuído por esses encantamentos, esses sortilégios,
essas místicas magias de Natal e da Terra Potiguar, o que me faz confessar, com
frequência, que já me sinto um Luso-Potiguar.
Esta expressão que me atribuo – Luso-Potiguar – não é leviana, nem tem o
intencional objetivo de agradar ou adular. Tem, sim, um profundo sentido para
mim, porque me recorda e faz sentir a identificação dos sortilégios que me
enamoram por Natal, com semelhantes sortilégios que estão inscritos na minha
alma de oriundo da mítica origem da Luz-Citânea - dessa terra da Luz quase
única em azul profundo, intenso e brilhante do céu ímpar, dessa misteriosa
“Finisterra”, onde, como cantou Camões: “...a terra acaba e o mar começa...”,
cheia de encantamentos e sortilégios de enamoramento, cantados desde Ulisses
– o mitológico grego que, dizem as lendas, terá chegado ao local da minha
cidade natal, aí se deixou prender tanto pela sedução da beleza do lugar, que
resolveu se demorar ali e fundar a minha cidade de Lisboa, palavra que,
etimologicamente, alguns linguístas atribuiem ao étimo “Ulissipus”.
Ulisses se amarra ao mastro para resistir ao canto das sereias- Ulisses navegando para Ítaca-Olissipo e região Lusitana-Ulises e Penélope
Valeu bem a Penélope o estratagema do tapete e a Ulisses que chegou ainda a
tempo de conservar o seu trono e a sua amada esposa. Ulises permaneceu 10
anos em Troia, envolvido com a guerrra, e gastou 10 anos a regressar a Ítaca.
De toda esta história de mitos e lendas, ficaram para os portugueses de Lisboa a
designação até hoje usada de serem Ulissiponenses, ou Olissiponenses. Na
gíria moderna, são designados seriamente por Lisbonenses, ou mais engraçada
e comummente por Lisboetas, ou ainda, mais troceiramente por Alfacinhas –
esta última designação, que é um apelido muito antigo e já pouco lembrado,
deriva do fato de desde o século XII até aos princípios do século XX, haver
antigamente ao redor do Castelo e mais tarde ao redor de Lisboa a maior
concentração de hortas do país, hortas que abasteciam a capital de produtos
horto-frutiferos, incluindo as muito apreciadas alfaces.
Ficou-nos também as heranças e legados culturais da poesia vinda da cultura
greco-romana antiga e, também muito da grande poesia de outros povos
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mediterâneos de ricas culturas, e que nos colonizaram por algum tempo, como
foram os fenícios, cartagineses (da Líbia), os árabes, este últimos, senhores de
uma cultura e ciências avançadíssimas, que nos colonizaram por mais de 600
anos e nos deixaram a herança de muitas artes e ciências, e uma das mais belas
poesias da história da cultura.
O resto que completa esta alma poética dos Lusitanos, é semelhante ao que
povoa o espírito poético dos Potiguares. Como já referi antes, é o sortilégio dos
encantamentos líricos que as belezas e os elementos naturais dos lugares,
fazem inspirar e que acabam por se “inscrever” no ADN (DNA) cultural que pulsa
no sangue dos poetas: O Sol e a Luz que brilham mais, as serras, as montanhas,
as planícies, as matas, as florestas, o mar e os rios que desenham encontros de
enamoramento, os ventos, as brisas que sopram músicas sinfónicas ou suaves
baladas acariciadoras, as paisagens pictóricas, o clima benovolente, e as gentes
de coração aberto ao amor e a todos os devaneios líricos.
E, julgo eu, que é tudo isto que irmana as almas poéticas de regiões como a
Terra Potiguar e a Terra Lusitana. Nossa alma poética é natural, intrínseca,
visceral, está no nosso espírito sonhador que aprendeu a olhar as linhas dos
horizontes longínquos e a sonhar, a imaginar e a visionar as lonjuras e
profundidades da alma, porque nas nossas veias corre o sangue poético de
nossos avós ancestrais, habituados aos sonhos viajantes, ao canto dos ventos
que dedilham a música poética atravessando os pinheirais de Portugal, as matas
atlânticas do Brasil e da Terra Potiguar, ou as florestas de cedros do Líbano.
Tudo isto se junta para sabermos compor e cantarmos baladas ou sinfonias
poéticas.
Como já referi, tal como da Terra Potiguar, tambem há séculos se diz de
Portugal, que somos Terra de Poetas. Que em cada português, reside uma alma
poética que tem como “fado” (destino) cantar, tal como tambem se diz que em
cada Potiguar habita um espírito trovador que poetisa e canta.
Aqui, no Rio Grande do Norte, sobretudo em Natal, a poesia alcança foros de
linguagem tão ricamente expressa e tão generalizadamente praticada, apreciada
e enaltecida, que a poesia aqui, parece estar, de fato, correndo nas veias dos
Potiguares e integra o ADN (DNA) mental e o espírito dos norteriograndenses. A
poesia, aqui, parece conservar ainda a liguagem natural, quase um idioma, do
espírito potiguar!
Também porque Natal e o Rio Grande do Norte - como Lisboa e a Lusitânea (Luz-
Citânea=Terra da Luz) - são terras de grande luminosidade solar, de doces
brisas marinhas, ou de paisagens bucólicas, de campos, serras, matas e
planícies, em que o espírito estético dos potiguares, como dos lusitanos, se
manifesta mais pelo sonho e pela palavra lírica dos poetas.
Os poetas potiguares, especialmente os da região litorânea, encomtram nas
vagas ondulantres das suas dunas douradas, na beleza do recorte das suas
imensas e formosas praias, no abraço morno das suas águas lustrais, na
sombra amiga das suas antigas matas, nos mistérios da génese da vida de seus
manguesais, os estímulos de inspiração para cantar o que sonham, imagiman,
sentem, vêm e vivem, nesta terra, “onde a mata acaba e o mar começa” –
paráfrase que me inspira este canto do mundo, tal como, se referindo a Portugal
como finisterra da Europa, Camões disse de Portugal, desse canto mais
ocidental da Europa: “onde a terra acaba e o mar começa”.
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DO POETA EDUARDO GOSSON
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E, assim, os poetas potiguares o que cantam e nos oferecem são cantares
poéticos que são compelidos por uma imaginação estética telúrica e líquida, que
é visceral, física, emotiva e espiritual, porque são filhos de uma fascinante
natureza envolvente e de uma tradição cultural comtemplativa, imagética,
amável, que faz gerar neste canto do mundo, uma terra de poetas, mas também
de pintores e artistas, enfim, aqui, como em Portugal, tudo se conjuga para
sermos líricos e apaixonados amantes, que voltam o interior íntimo de suas
almas poéticas para fora, desnudando-se ao sol, à luz e aos ventos, virados para
as matas, para as flores, para as aves e bichos, para a natureza, para os mitos e
lendas, para a vida, para os outros, enfim, para o amor total.
E descubro agora, que entre os melhores poetas potiguares comtemporâneos -
alguns de que sou amigo e leitor-admirador, Eduardo Gosson está,
seguramente, entre os melhor dotados de uma poética tambem visceral, mas
fina e pura, musical e sublime, como os sons inconfundíveis que saem do
dedilhar das cordas de uma antiga lira lusitana-potiguar, ou de um alaúde árabe
ou libanês.
Do seu belo livro “Ente o Azul e o Infinito”, delicio-me com o que há de melhor
na poesia potiguar contemporânea que conheço em parte. Retenho e reproduzo
aqui, alguns exemplos. Começo por este belíssimo e comovente poema, prenhe
de rica simplicidade, de que o poeta extraiu o feliz título para o seu livro “Entre
o Azul e o Infinito”. Tem versos de uma filigrama de ouro fino:
“mamãe, minha mãe e mãe”
De olhos florestais
E cabelos cor de mel,
Amava-nos.
Entre nós grandes silêncios!
No meio, a “Rua do Motor
com urubus e carniças”.
Agora, a Nova Jerusalém celestial
onde Deus
lhe espera
Entre o azul e o infinito.
****************************
Sintamos, agora, toda a ternura poética deste poema “A Bailarina”, dedicado a
sua netinha Rebeca. Em versos curtíssimos, palavras simples e sem recurso a
qualquer metáfora, Eduardo Gosson, consegue penetrar as nossas emoções
com uma delicadeza ao mesmo tempo suave e forte, dando-nos duas imagens
belíssimas que imediatamente nos faz passar diante de nossos olhos e adentrar
nossa alma, palavras-imagens de um modo que nós vemos e sentimos
realmente como se tivessems perante uma pintura de Monet ou vendo e
sentindo intensamente um filme ternamente poético, na cena de uma viva e
alegre criança, percorrendo graciosamente os espaços de sua casa desenhando
passes de bailarina e, em segundo plano, vemos, observando embevecido, um
avô que, cansado, logo se anima invadido pela alegria que lhe é transmitida pela
cena inesquecível da graciosa e amada neta Rebeca. É um poema sublime!
APRECIANDO A POÉTICA DE “ENTRE O AZUL E O INFINITO”
DO POETA EDUARDO GOSSON
Por Carlos Morais dos Santos
A Bailarina
7h,30 da manhã
a neta Rebeca
ensaia
passos de bailarina
pelos vãos do apartamento
Cansado,
A alegria me invade
Outro exemplo do esplendor poético de Eduardo Gosson nos é oferecido por
um verdadeiro poema-canção-hino às mulheres – às mulheres de todos os
lugares, de todos os tempos, com uma poética fortemente humanista solidária e
um ritmo musical que começa suave e se desenvolve depois em “andante
espressivo”, logo me fazendo desejar ouvir a leitura deste poema ao som de
uma sonata, tavez a Sonata e Brahms nº.3 op.5-2-Andante espressivo-2ª. Parte.
Senti-me logo tentado em lhe oferecer uma interepretaçãp desta Sonata, de que
abaixo, depois do poema, dou o código. É um poema que vale um livro!
À SOLIDÃO DAS MULHERES
Para a Desembargadora Judite Nunes
À solidão das mulheres
da ilha de Quessant
que tecem fios de lã
de ovelhas marinhas
e, pacientemente,
aguardam seus marinheiros
invisíveis
À solidão das mulheres
siberianas que,
solidariamente,
produzem o pão de cada dia
À solidão das mulheres
Nórdicas que,
na sobriedade dos gestos,
descotidianizam
a vida
A solidão dasmulheres
que, dos becos
escuros de Chicago,
alimetam o “sonho”
americano
À solidão das mulheres
da Africa sentida –
o povo tomou o caminho
da barca –
À solidão das mulheres
- eu canto !
http://youtu.be/xYqhv_BSPIw
APRECIANDO A POÉTICA DE “ENTRE O AZUL E O INFINITO”
DO POETA EDUARDO GOSSON
Por Carlos Morais dos Santos


Saraváh, meu poeta! Bem haja pelos momentos de encantamento poético que
nos oferece neste seu livro que é para ler, reler, e nos deixarmos embalar pelos
magníficos acordes da música de sua poesia em este
“Entre o Azul e o Infinito”,.
Um abraço afetuoso e comovido
Carlos Morais dos Santos
Escritor, ensaísta, poeta e fotógrafo.
Membro efetivo do Conselho Consultivo da UBE-RN
Membro da Academia Portuguesa de Letras, Artes e Ciências
Cônsul (Lisboa) da Associação Internacional “Poetas Del Mundo”
...

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