quinta-feira, 31 de maio de 2012

PABLO NERUDA

Poema LXVI


Não te quero senão porque te quero

e de querer-te a não querer-te chego

e de esperar-te quando não te espero

passa meu coração do frio ao fogo.



Te quero só porque a ti te quero,

te odeio sem fim, e odiando-te te rogo,

e a medida de meu amor viageiro

é não ver-te e amar-te como um cego.



Talvez consumirá a luz de janeiro,

seu raio cruel, meu coração inteiro,

roubando-me a chave do sossego.



Nesta história só eu morro

e morrerei de amor porque te quero,

porque te quero, amor, a sangue e fogo.







Gosto de ti calada (Poema 15)



Gosto de ti calada porque estás como ausente,

e me ouves de longe, e esta voz não te toca.

Parece que os teus olhos foram de ti voando

e parece que um beijo fechou a tua boca.



Como todas as coisas estão cheias da minha alma

tu emerge das coisas, cheia da alma minha.

Borboleta de sonho, pareces-te com a minha alma,

e pareces-te com a palavra melancolia.



Gosto de ti calada e estás como distante.

E estás como queixando-te, borboleta em arrulho.

E ouves-me de longe, e esta voz não te alcança:

vais deixar que eu me cale com o silêncio teu.



Vais deixar que eu te fale também com o teu silêncio

claro como uma lâmpada, simples como um anel.

Tu és igual à noite, calada e constelada.

O teu silêncio é de estrela, tão longínquo e tão simples.



Gosto de ti calada porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se houvesses morrido.

Uma palavra então, um teu sorriso bastam.

E eu estou alegre, alegre porque não é verdade.



Pablo Neruda (n. Parral, Chile 1904; m. 23 Set 1973 em Santiago)
in Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada
(Publicações Dom Quixote)


A  Dança
Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

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