segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A POETISA CUBANA CARILDA OLIVER COMPLETA 90 ANOS




Aos 90As coisas de Carilda
Bárbara Vasallo e Ventura de Jesus
A poetisa Carilda Oliver Labra completa 90 anos de idade. Nada puderam, ao parecer, as tribulações da vida e as decepções reais e imaginárias. Esta mulher, Prêmio Nacional de Literatura, é também uma demonstração de que vale a pena viver.
Não há assomo de cansaço nesta excelsa figura da cultura cubana e das letras hispano-americanas. Muito educada, com uma gentileza de outrora, fala em voz baixa e com simplicidade. Às vezes, deixa ver um sorriso leve, ardiloso, como divertida de sua insondável imaginação.
Só lamenta que não existam no mercado cintas para máquinas de escrever porque "não suporto os computadores, prefiro fazer manuscritos, bem tarde da noite, sou uma mulher noturna."
Expressa nostalgia por seus irmãos que abandonaram o país, seus pais que foram atrás dos netos, apesar de que ela prefere viajar "de Cuba para Cuba", disse quando seu pai lhe perguntou se preparava seu passaporte. Depois de um breve silêncio tenta resumir a ideia com outra imagem: "Nenhuma palmeira se pode ir de Cuba".
Quanto a sua incrível vitalidade, comentou: "É uma semente que não me puderam arrancar nem sequer os problemas, porque tive uma vida muito dura, apesar de que não pareça. Todas as manhãs me desperto e dou graças ao sol".
Autora de títulos muito conhecidos e de muita transcendência, ilumina-se o rosto de Carilda quando fala de obras como Se me ha perdido un hombre,
ou os poemas Canto a Fidel e Canto a Matanzas. De qualquer maneira, confessa que seu livro preferido é Al sur de mi garganta.
Fala com admiração sobre ilustres personalidades das letras com quem se relacionou, como Ernest Hemingway, Rafael Alberti, Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Dulce María Loynaz, Gabriel García Márquez, Mario
Benedetti e outros. Crê, contudo, que nenhuma outra personalidade deste mundo estabelece melhor a dimensão humana e social do homem de seu tempo que Fidel.
E precisamente seu Canto a Fidel, poema que neste ano 2012 completou 55 anos, relata:
"A visão que tenho, depois de tantos anos, é que além de ser um líder político, Fidel é um líder humanista, cientista, porque, a quem se ocorreu dedicar-se num país melhorar a medicina para mandar médicos a outros países?
"O Canto eu o escrevi no momento, por isso é tão juvenil, é o canto de uma mulher, uma moça, tocando um sinal de guerra.
"Fidel está no Canto, era o Fidel de então, que é o mesmo que eu conhecia da universidade e o relacionava com o anterior; além disso, tinha uma auréola extraordinária... Agora Fidel não cabe num Canto...".
Ao nos despedir, já na porta de sua casa, faz mostra dessa fina sensualidade que a circunda desde muitos anos, talvez sem que ela se proponha. Confessou risonha que se debatia na dúvida de vestir-se de verde ou de azul na noite de 5 de julho, véspera de seu aniversário, e que talvez o vestido de alças (presente de um amigo) não era apropriado para sua idade.
Para terminar, disse, em tom pícaro e com algo de rubor que dava brilho a seus olhos azuis em sua juventude: "O dia está bom para ir a algum lugar onde uma pessoa não seja conhecida".
Publicado no Jornal Granma – 9/9/2012 – Com um abraço do camarada Antonio Capistrano

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