Aos 90As coisas de Carilda
Bárbara Vasallo e Ventura de Jesus
Bárbara Vasallo e Ventura de Jesus
A
poetisa Carilda Oliver Labra completa 90 anos de idade. Nada puderam,
ao parecer, as tribulações da vida e as decepções reais e imaginárias.
Esta mulher, Prêmio Nacional de Literatura, é também uma demonstração de
que vale a pena viver.
Não
há assomo de cansaço nesta excelsa figura da cultura cubana e das
letras hispano-americanas. Muito educada, com uma gentileza de outrora,
fala em voz baixa e com simplicidade. Às vezes, deixa ver um sorriso
leve, ardiloso, como divertida de sua insondável imaginação.
Só
lamenta que não existam no mercado cintas para máquinas de escrever
porque "não suporto os computadores, prefiro fazer manuscritos, bem
tarde da noite, sou uma mulher noturna."
Expressa
nostalgia por seus irmãos que abandonaram o país, seus pais que foram
atrás dos netos, apesar de que ela prefere viajar "de Cuba para Cuba",
disse quando seu pai lhe perguntou se preparava seu passaporte. Depois
de um breve silêncio tenta resumir a ideia com outra imagem: "Nenhuma
palmeira se pode ir de Cuba".
Quanto
a sua incrível vitalidade, comentou: "É uma semente que não me puderam
arrancar nem sequer os problemas, porque tive uma vida muito dura,
apesar de que não pareça. Todas as manhãs me desperto e dou graças ao
sol".
Autora de títulos muito conhecidos e de muita transcendência, ilumina-se o rosto de Carilda quando fala de obras como Se me ha perdido un hombre,
ou os poemas Canto a Fidel e Canto a Matanzas. De qualquer maneira, confessa que seu livro preferido é Al sur de mi garganta.
Fala
com admiração sobre ilustres personalidades das letras com quem se
relacionou, como Ernest Hemingway, Rafael Alberti, Pablo Neruda,
Gabriela Mistral, Dulce María Loynaz, Gabriel García Márquez, Mario
Benedetti
e outros. Crê, contudo, que nenhuma outra personalidade deste mundo
estabelece melhor a dimensão humana e social do homem de seu tempo que
Fidel.
E precisamente seu Canto a Fidel, poema que neste ano 2012 completou 55 anos, relata:
"A
visão que tenho, depois de tantos anos, é que além de ser um líder
político, Fidel é um líder humanista, cientista, porque, a quem se
ocorreu dedicar-se num país melhorar a medicina para mandar médicos a
outros países?
"O Canto eu o escrevi no momento, por isso é tão juvenil, é o canto de uma mulher, uma moça, tocando um sinal de guerra.
"Fidel
está no Canto, era o Fidel de então, que é o mesmo que eu conhecia da
universidade e o relacionava com o anterior; além disso, tinha uma
auréola extraordinária... Agora Fidel não cabe num Canto...".
Ao
nos despedir, já na porta de sua casa, faz mostra dessa fina
sensualidade que a circunda desde muitos anos, talvez sem que ela se
proponha. Confessou risonha que se debatia na dúvida de vestir-se de
verde ou de azul na noite de 5 de julho, véspera de seu aniversário, e
que talvez o vestido de alças (presente de um amigo) não era apropriado
para sua idade.
Para
terminar, disse, em tom pícaro e com algo de rubor que dava brilho a
seus olhos azuis em sua juventude: "O dia está bom para ir a algum lugar
onde uma pessoa não seja conhecida".
Publicado no Jornal Granma – 9/9/2012 – Com um abraço do camarada Antonio Capistrano
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