O IDOSO E O TRABALHO
Públio José –
jornalista
Há
tempos uma dramática situação se arrasta indefinidamente sem ter das
autoridades e dos profissionais ligados à atividade uma resposta convincente ou
alguma providência. Trata-se da questão que envolve o idoso e o mercado de
trabalho. Pois, enquanto a Medicina e a Farmacologia trabalham
ininterruptamente para alongar o tempo de vida dos mais velhos, deixando-os,
portanto, a cada dia em melhores condições de saúde, o mercado de trabalho os
estigmatiza e, na maioria das vezes, os pune com o não emprego, a não
oportunidade, a não chance. Enfim, com uma rejeição desumana até –
certamente “pelo excesso de dias”. Este segmento, que agregou ao
longo do tempo conhecimento precioso e muita experiência, vem sendo deixado ao
relento do processo de tomada de decisões na grande maioria das empresas,
sofrendo, com isso, um corte profundo na auto-estima e uma desvalorização
constante na renda e no estilo de vida.
É hora, então, de se perguntar: existe explicação para isso tudo?
Tem explicação para este processo que, mesmo lento, porém de maneira
inexorável, vem infelicitando e ceifando vidas de milhares e milhares de
pessoas ainda em boas condições de trabalho? Lamentavelmente sim. Num período
que abrange os últimos 20 a 25 anos, muitas transformações ocorreram
relacionadas ao mercado de trabalho, principalmente no Brasil. Passamos
praticamente, até os anos 80, por um regime de reserva de mercado no qual as
empresas, na maioria dos casos, não se preocupavam muito a quem vender nem com
a qualidade do que produziam. Na realidade, elas tinham muito mais pessoas
interessadas em comprar do que a capacidade que elas tinham de produzir e de
vender. Era um tempo de economia fechada ao mercado externo e de grande esforço
exportador para gerar divisas necessárias ao pagamento da dívida.
É bem verdade que o pleno emprego não havia, mas as entradas e saídas de
funcionários eram mais lentas, gerando, com isso, um “turn-over”
até saudável. Portanto, era natural a permanência dos profissionais durante um
longo período nas empresas, com a conseqüente valorização dos mais antigos. Com
a abertura dos mercados, no início dos anos 90, a realidade mudou radicalmente.
A concorrência aumentou, as empresas nacionais passaram a ter acesso ao
“modus operandi” das multinacionais, pelo fluxo internacional que
se estabeleceu, e pelo qual tinham de reciclar e treinar rapidamente seus
quadros, colocando para fora os que não se adequassem às novas tecnologias, uma
febre de renovação varreu as empresas – e aí os mais antigos dançaram.
Foram prejudicados não só pela obrigatoriedade rápida de atualização, mas
– e principalmente – pela necessidade imediata que surgiu de se
economizar nas folhas de pagamento.
O negócio, então, era trocar o funcionário mais antigo, portanto mais caro,
pelo mais jovem, de exigências salariais mais condizentes com a ocasião e com
maior capacidade de aprendizagem da informática e de um novo idioma. Em seguida
veio a globalização, sistema pelo qual os países que tinham maior capacidade de
produzir mais e melhor a preços mais baixos ganhavam mais e mais mercados. Aí o
peso dos custos sobre a folha de salários passou a ser ainda mais preocupante.
Essas novas condições de mercado criaram um paradigma ainda mais forte
relacionado aos idosos, pelo qual pessoas com idade entre 40 a 50 anos foram
taxadas de velhas para muitas das atividades, enquanto as com mais de 50 anos
passaram à classificação de idosas e até de ultrapassadas e obsoletas. Na outra
ponta da questão, os progressos da ciência vieram acentuar a vida útil dos
seres humanos, ampliando assim, cada vez mais, o conteúdo paradoxal dessa
realidade.
Tem saída para esse difícil contexto? O melhor remédio, para alguns entendidos
no assunto, tem sido o de cultivar, no ambiente de trabalho, uma postura que
venha aliar a juventude à experiência, empregando jovens e mais velhos de
acordo com o direcionamento de mercado adotado por cada empresa. Esse,
portanto, é um caminho que tem todas as condições de recuperar a auto-estima
das pessoas, além de criar um ambiente de trabalho saudável e motivador. No
entanto, se faz necessário, para o atingimento desse objetivo, a quebra de todo
e qualquer preconceito. Do contrário, a empresa passa a ser uma cultivadora de
paradigmas, se tornando, logicamente, inabilitada para implementação de
programa de tal natureza. Pelo que se vê, tudo se resume a colocar um pouco de
coração no planejamento e na administração das empresas, sem desgrudar os
olhos, é claro, do faturamento. Dará certo? Aí a resposta fica com o tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Teremos o maior prazer em receber seu comentário.