sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DISCURSO DE ABERTURA DO V ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES




                                                        Foto: Lúcia Helena Pereira

                                 O Escritor Eduardo Gosson profere Discurso de Abertura

                                                   em Sessão Solene do V EPE - 29.10.2012
Meus Senhores,
Minhas senhoras,
“A morte existe, os mortos não”
(Luís da Câmara Cascudo”)
Ao abrir este V Encontro Potiguar de Escritores – V EPE gostaria de fazer um pequeno adendo e incluir nas homenagens feitas hoje aos escritores (Otto de Brito Guerra, Nati Cortez, Bartolomeu Correia de Melo e ao grupo teatral Clowns de Shakspeare, que em 2013, completará 20 anos de atividades) a figura de Fausto Gosson, meu filho,falecido tragicamente em 26 de maio deste ano, por overdose de cocaína, e que não sendo escritor e muito menos intelectual, paradoxalmente, tem a ver com a história de reconstrução da União Brasileira de Escritores iniciada em março de 2006, consolidada em março 2008 com a realização do I Encontro Potiguar de Escritores, oportunidade em que oficialmente fundou-se (na verdade, a UBE existe desde 14 de agosto de 1959) o órgão de representação dos escritores potiguares. Este jovem acompanhou os 04 (quatro) Encontros executando uma modesta tarefa. Era o garçom que servia água ao público, tarefa que executava com maior prazer porque amava os livros, os escritores e o seu pai. Por isso, peço tolerância aos que estão aqui presentes para ler um poema em forma de crônica – Eu não sabia que doía tanto! Depois, peço um minuto de silêncio para reverenciar a sua memória porque Fausto Gosson é o maior bem que perdi na vida e, como pai, só eu sei o quanto dói.(Pausa para leitura e 1 minuto de silêncio).
“ Hoje, segundo Domingo de agosto, comemora-se o Dia dos Pais. Veio a lembrança dos entes queridos que partiram na Nau da Eternidade: pai, mãe e filho. Para meu pai escrevi: “meu pai morreu numa terça-feira de Carnaval/para não ver a quarta-feira de Cinzas”. Mãe: “de olhos florestais/e cabelos cor de mel/amava-nos”. Filho: “quero dormir eternamente/junto de ti/porque agora dormes com Deus”. O triângulo mais importante em nossas vidas: patrimônio imaterial dos afetos.
“ Perder um filho foi a maior dor que senti na vida... há dias em que fico desesperado com a ausência e com o silêncio. Agora, definitivos! Esta semana a saudade foi tão grande que me deu vontade de gritar, ao olhar a mesa redonda aonde ele vinha quase todas as manhas visitar "os recantos paternos da minha alma!" e ficava com um livro na mão a dizer-me:
"-- papai, de você só vem coisas boas!". Tinha o temor reverencial por mim.
Naquele mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim. Eu não sabia que doía tanto!”.
Agora a Nau da Eternidade vai pegar os ilustres escritores que muito contribuíram para a cultura potiguar. Este ano celebra-se o Centenário de Otto de Brito Guerra. Assim como seu pai e avô, o Dr. Otto foi grande estudioso das questões regionais, especialmente as secas.
Otto de Brito Guerra nasceu em Mossoró/RN no dia 02 de julho de 1912, filho de Felipe Neri de Brito Guerra e neto do Conselheiro Luiz Gonzaga de Brito Guerra. Faleceu em Natal/RN no dia 16 de março de 1996.
Ocupou os seguintes cargos públicos: 1933-1935: Chefe de Gabinete e Secretário do Interventor Mário Câmara. 1935: 2º Promotor Público de Natal. Nos anos posteriores foi Delegado Seccional do Serviço Nacional de Recenseamento, Consultor Jurídico e Diretor do Departamento das Municipalidades, Diretor do Departamento Estadual de Reeducação e Assistência Social, Chefe da Seção de Assistência Judiciária da LBA e Superintendente desta entidade do Rio Grande do Norte (1945). 1948: Procurador e Advogado da Caixa Econômica Federal do Rio Grande do Norte. 1951: Procurador Geral do Estado durante os primeiros meses do ano, no Governo de Dix-Sept Rosado. Durante o regime militar de 1964 atuou como advogado de presos políticos.
Foi um dos fundadores da Escola de Serviço Social do Natal e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sendo o 1º vice-reitor da Instituição. Lecionou na Escola de Serviço Social, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal, na Escola de Sociologia e Política da FJA e na Faculdade de Direito da UFRN, juntamente com Floriano Cavalcanti de Albuquerque e Manoel Varela de Albuquerque.
Fez parte da Academia Norte- Riograndense de Letras-ANL, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IGHRN e da União Brasileira de Escritores-UBE/RN. Foi um dos fundadores da Academia Norte-Riograndense de Ciências; da Associação de Apoio as Comunidades do Campo do Rio Grande do Norte – AACC; membro do Conselho Diretor da Fundação Paz na Terra; fez parte da Comissão sobre Direito das Crianças; Adolescentes e Deficientes da OAB/RN e do Conselho Estadual de Cultura.
Como jornalista foi um dos primeiros diretores do Jornal A Ordem. Atuou também na Tribuna do Norte, na A República e no Diário de Natal.
Publicou os seguintes livros:
• O desenvolvimento a serviço do homem, 1973;
• Tragédia e epopéia nordestina, 1983
• Vida e Morte do Nordestino. Análise retrospectiva,1989 .
Após seu falecimento a família criou a Fundação Otto de Brito de Guerra, que herdou uma das melhores bibliotecas privadas do estado, estando agora apta a prestar relevantes serviços à Cultura Potiguar. .
Maria Natividade Cortez Gomes (Nati Cortez) nasceu em Natal/RN (Nati), nasceu em Natal em 08 de setembro de 1914, no bairro da Ribeira, filha de Manoel Marcolino da Silva e Maria Gomes da Silva.
Foi casada com Manoel Genésio Cortez Gomes, com quem teve 24 filhos, tendo criado 20.
Para a Acadêmica e Confreira Anna Maria Cascudo Barreto e sua biógrafa em Mulheres Especiais:
“Um fato de grande importância na sua vida, que facilitou conhecimentos, amizades e até o amor foi que a avó montou um bar e um restaurante que era freqüentado pelos literatos e também por pilotos franceses da Latécoere (vinha de Dácar atravessando o Atlântico) e aí ela conheceu Antoine de Saint Exupery (que falou desses bares da Ribeira em seus livros) e conversava em francês (aprendido com o professor Adauto Câmara”)
Escritora, poetisa, ufóloga, foi pioneira da Literatura Infantil Potiguar. Autora de textos sacros, foi sócia da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais - SBAT, da Academia de Trovas do RN, da ANRA
(Associação Norte-Riograndense de Astronomia). Publicou os seguintes livros:
01. Diálogo das Estrelas,
1971/Natal (teatro),
02. A Abelhinha Sonhadora, 1973/Natal (teatro); encenada em todo o Brasil
03. O Mistério dos discos Voadores, 1976/Natal (cordel)
04. AGuerra dos Planetas, Natal;
05. O Curumim Amazônico (editado em Sobito/Angola)
06.OMaribondoAmoroso.
07. O Natal no espaço sideral
08. A Guerra dos Planetas (encenado na Universidade do Colorado sob a direção de Terezinha Pereira)
Muito católica, era devota de Nossa Senhora como intercessora. Fez
parte do canto da igreja do Salesiano; pertenceu a Ordem Terceira do
Carmo; Cooperadora Salesiana; divulgava o valor do escapulário e do
terço mariano. Faleceu no mês de devoção, Maio, em 02/05/1989. Hoje,
estaria completando 98 anos. Assim escreveu sobre Maio: "Adeus maio,
até o maio eterno que não conhecerá o ocaso"...
José Bartolomeu Correia de Melo. Nascido em Natal/RN (1945), criado no Ceará-Mirim (RN), terra de engenhos, cenário temático dos seus escritos. Educado por padres salesianos e irmãos maristas, dedicou-se ao magistério. Graduado em Farmácia (UFRN) e pós-graduado em Físico-Química (UFPE e USP). Adotou agropecuária (Fazenda Aliança) como segunda atividade e literatura como primeiro lazer. Aposentado (UFRPe e UFRN) como professor de Química. Obteve com “Lugar de Estórias”, seu primeiro livro, o prêmio nacional“Joaquim Cardozo”(1997), da União Brasileira de Escritores (UBE). Seu segundo livro, “Estórias Quase Cruas” (2002) foi igualmente bem recebido. Publicou também a estória infantil “O Fantasma Bufão” (2004).
Recentemente (2010), teve lançados “Tempo de Estórias”, seu terceiro livro de contos e “A Roupa da Carimbamba”, segundo livro infantil, todos pelas “Edições Bagaço”(Recife).
Faleceu em Natal/RN no dia 18.06.2011, aos 66 anos de idade.
Após a sua morte escrevi o texto onde afirmo:
“ Bartolomeu habitou entre nós por 66 anos e fez-se Verbo: a sua palavra era tiro certeiro a criar belezas espirituais. Conheci-o na maturidade, ganhador de diversos prêmios literários. Contudo, o que mais me chamou atenção em Bartola era a perfeita harmonia entre criador e criatura. Geralmente, na seara literária, a criatura é terrível: grandes escritores, cidadãos nota zero. Bartola, não. Desde a reorganização da União Brasileira de Escritores em 2006, que Bartola vinha colaborando ativamente: dos III Encontros de Escritores participou de dois, atuou em comissões, colaborava com o site da entidade, abastecendo-o com matérias; apoiou Campanhas desenvolvidas pela UBE/RN, como a que foi lançada no final do ano passado Campanha de Valorização do Autor Potiguar”
De temperamento alegre, gostava de pegadinhas com os amigos. Todos os dia nos falávamos: ora por telefone ora por e-mail. Não sei os motivos porque gostava de mim. Hoje a Nova Jerusalém está em festa por que estamos a reverenciar a sua memória e evitando o pior: o esquecimento.
Por último vamos celebrar a vida, falando deste admirável grupo teatral surgido na cena cultural da cidade e que, em 2013, completará 20 anos. Em 1993 um grupo de jovens do colégio Objetivo, incentivado pelo professor de Literatura Marco Aurélio, resolveu montar uma peça do maior dramaturgo de todos os tempos Shakspeare e até hoje não parou mais. Já percorreram todo o país e agora estão na Espanha, no Festival de Cadiz. Há convites para Rússia, EUA, França, Equador e Portugal.
Recentemente, dois integrantes do grupo Titina Medeiros, a Socorro da novela Cheia de Charme da rede Globo e Dudu Galvão se destacaram nacionalmente. Para o diretor do grupo Fernando Yamamoto:
“A participação da Titina na novela é uma experiência pontual para ela. (…) a experiência foi muito bonita, tanto para Titina, quanto para o grupo. (…) No entanto, para uma atriz que trabalha sob uma expectativa de criadora, a televisão não nos contempla. O ator televisivo é muito mais um técnico do que um artista, um operário que coloca o seu trabalho a serviço de uma linguagem e um pensamento que não passam pelos seus desejos”.
Entre janeiro e fevereiro de 2013 o grupo estará encenando a obra-prima do bardo inglês Hamlet.
Por fim, encerro recorrendo ao Mestre de todos nós Luís da Câmra Cascudo: “ - a morte existe. Os mortos não”.
Muito obrigado a todos.
Eduardo Antonio Gosson
Presidente da UBE/RN

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Teremos o maior prazer em receber seu comentário.