sexta-feira, 30 de novembro de 2012

PT É REFÉM DO PODER REAL


 (*) Rinaldo Barros
O tema da conversa de hoje foi colocado em pauta por Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, frade dominicano, escritor, autor de 53 livros: por que a esquerda brasileira logrou ser alternativa de governo, mas nunca conseguiu ser alternativa de poder?
Esclareço logo que não falo apenas dos comunistas, mas da esquerda em geral, incluindo a católica.
Refrescando sua memória, lembro que, ao chegar ao Governo Federal – além de renunciar aos princípios do seu partido no documento “Carta ao povo brasileiro” (22.06.2002) - o governo Lula preencheu considerável parcela das mais de 20 mil funções administrativas com a nomeação de militantes do PT e aliados, líderes de movimentos sociais e sindicais; fenômeno conhecido como “aparelhamento do Estado”. O mérito e a competência não foram considerados, o que explica a incompetência e a corrupção.
Afastados de suas bases, essas lideranças estão hoje perfeitamente adaptadas às benesses do poder, sem o menor interesse em retomar o “trabalho de base”. Instados a se manifestar, são a voz do governo junto às bases, e não o contrário. Ou seja, contrariando os princípios do PT original, o governo Lula optou por uma governabilidade baseada numa política clara de beneficiar o capital financeiro e as grandes empresas, (com crédito fácil, juros altos e isenção de impostos) e; na outra ponta, políticas compensatórias para os excluídos e dominados, com milhões de famílias endividadas, iludidas pelo crédito fácil e juros altos; sem perspectiva de alforria. Os lucros astronômicos dos bancos e das grandes montadoras de veículos assim o comprovam.
Lula poderia ter assegurado sua sustentabilidade política em duas pernas: o Congresso Nacional e os movimentos sociais. Poderia, mas não o fez. Julgando-se esperto, tornou-se refém (voluntário) de forças políticas tradicionais, oligárquicas, reacionárias, que deixou como herança, e ora integram o grande arco de alianças de apoio ao governo Dilma; a exemplo do Sarney, Collor, Maluf e Renan.
Paralelamente, Lula adotou uma política para os excluídos, sem a mediação dos movimentos sociais, como é o caso do programa “Bolsa Família”, que ocupou o lugar do fracassado “Fome Zero”, o qual se apoiava em comitês gestores integrados por lideranças da sociedade civil, que controlavam e fiscalizavam a iniciativa. Com o “Bolsa-família”, o “controle” passou a ser exercido pelas prefeituras; com consequências no jogo eleitoreiro.
É óbvio também que tal prática enfraqueceu e imobilizou os movimentos sociais e, ao mesmo tempo, pôs o núcleo governante voltado unicamente ao seu próprio projeto de perpetuação no poder. O poder pelo poder. Este projeto de poder, em seu desvario, gerou monstros como o mensalão; tenebrosas transações que colocaram em risco o próprio regime democrático.
Ou seja, o fenômeno do Lulismo se descolou do petismo histórico. A direção nacional do PT, por sua vez, aceitou restringir-se ao jogo do poder. Em outras palavras, o lulo-petismo mantém um falso discurso neopopulista de esquerda ou, pior ainda, fazendo-se de vítima das “zelites”. Lamentavelmente, na verdade, é apenas uma espécie de inocente útil a favor do sistema.
Tais características apontam para a perda do horizonte ético que sempre norteou a esquerda. Trata-se agora apenas de sobreviver politicamente, a qualquer preço.
Após 10 anos de governo petista, o Brasil é hoje um Estado obeso, depredador do meio ambiente, com alta carga tributária, infraestrutura precária, obras estruturantes paralisadas ou atrasadas, sem planejamento, sem capacidade de poupança, nem de inovação, nem de competitividade. E continua a ser o campeão da concentração de renda e da desigualdade social; com pobreza urbana, violência e criminalidade crescente.
Registre-se que questões maiores da pauta histórica da esquerda, como as Reformas agrária, fiscal, urbana, política e universitária foram relegadas a um futuro incerto. Um retrocesso histórico, sem dúvida.
Dilma, por sua vez, representava a esperança dos petistas históricos, mas não conseguiu corresponder a essa expectativa. Explico: a mãe do PAC até queria, mas não conseguiu ser alternativa de poder. Em nome da governabilidade (com menos habilidade e menos astúcia que o Lula), Dilma continua refém de forças políticas e econômicas descompromissadas com o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade. Resumindo, o PT está no governo, mas não exerce o poder real; apenas o serve.
Daí a obsessão com o controle da imprensa, uma ideia fixa do PT que, envergonhado, diminuído, imagina ser possível disfarçar suas contradições e, com isso, fugir ao julgamento da história.
Termino citando Frei Betto, em seu artigo “A pasteurização da esquerda”, publicado no Le Monde Diplomatique, dez. 2008: “o Projeto civilizatório da Nação brasileira foi descartado em beneficio de um projeto de poder de um grupo dominante, fazendo alianças com partidos e forças sociais e econômicas que o PT, o PSB, o PCdoB, e o PDT, ao serem fundados, propunham enfrentar e derrotar”.
Decifro assim a charada do Lulopetismo. Todavia, fica a dúvida se a história o absolverá.

(*) Rinaldo Barros é professor - rb@opiniaopolitica.com


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