domingo, 2 de dezembro de 2012


Em Cuba, projeto dos sonhos de bailarino desperta polêmica

Havana – Trata-se de uma história que tem um quê de conto de fadas moderno: um belo astro do balé retorna à sua terra natal, Cuba, e descobre uma escola de dança abandonada que ele promete trazer de volta à vida.



Em Cuba, projeto dos sonhos de bailarino desperta polêmica
Havana – Trata-se de uma história que tem um quê de conto de fadas moderno: um belo astro do balé retorna à sua terra natal, Cuba, e descobre uma escola de dança abandonada que ele promete trazer de volta à vida.
No entanto, o sonho de Carlos Acosta – fundar um centro de dança em um dos edifícios mais célebres da era da revolução cubana – gerou uma disputa com o arquiteto original, que dividiu a elite cultural do país e chamou a atenção de arquitetos estrangeiros.
Com as mudanças graduais no modelo socialista da ilha, a discussão tem ecoado um debate mais amplo sobre o legado dos últimos 50 anos e como e por quem o futuro de Cuba deve ser definido.
'Esse é o nosso patrimônio nacional, e ele vai se perder', disse Acosta, de 39 anos, que esteve em Havana neste mês para dançar no Festival de Balé Internacional. Ele planeja se aposentar na ilha nos próximos anos e prevê que o centro funcione como um ímã para estudantes, artistas e amantes da dança.
'É importante ajudar a nova geração de Cuba', disse Acosta, um dos 11 filhos de uma família de classe operária em Havana.
O plano de Acosta para o futuro da escola de balé, no entanto, entrou em conflito com seu passado inacabado.
O edifício, projetado pelo arquiteto italiano Vittorio Garatti, é parte de um complexo de cinco escolas de arte nacionais encomendadas por Fidel Castro em 1961 e construídas em um frenesi de otimismo revolucionário no exuberante terreno de um antigo clube de campo.
Os arquitetos – Ricardo Porro, um cubano; Roberto Gottardi, um italiano; e Garatti – criaram um sinuoso labirinto de edifícios com o objetivo de resumir 'as aspirações utópicas da revolução', de acordo com John A. Loomis, cujo livro sobre as escolas, 'Revolution of Forms' ('Revolução de Formas'), inspirou o documentário 'Unfinished Spaces' ('Espaços Inacabados'), de 2011.
Mas à CARLOS ACOSTA
BAILARINO

Na medida em que Cuba foi tomando uma direção pragmática, investindo em uma arquitetura em estilo soviético, as estruturas sensuais passaram a ser vistas como exageradas e elitistas. A construção foi interrompida em 1965, deixando o complexo inacabado à mercê das inundações, invadido pela vegetação, por posseiros e catadores. Porro exilou-se em Paris, e Garatti deixou Cuba em 1974. Apenas Gottardi permaneceu na ilha.
Apesar do abandono, os prédios se tornaram célebres. Em 2000, o Fundo dos Monumentos do Mundo, com sede em Nova York, listou as escolas de arte nacionais em seu ranking de 100 sítios monumentais mais ameaçados do planeta, e em 2003, Cuba inscreveu as estruturas na possível lista de sítios do Patrimônio Mundial da UNESCO.
'Esses edifícios foram amados, odiados, desprezados e aceitos novamente', disse José Antonio Choy, 62 anos, um arquiteto cubano que estudou com Garatti. 'Eles são um testemunho da história cultural da revolução. Esse debate não diz respeito só à ética de arquitetura, mas também ao legado da revolução.'
Garatti, agora com 85 anos, tem nutrido a esperança de concluir a obra da escola de balé, uma série de pavilhões de terracota com cúpulas. Mas ele disse se sentir marginalizado por conta da iniciativa de Acosta e se opõe aos planos de alterar partes do interior do edifício.
Acosta, por exemplo, quer adaptar o 'laboratório' circular de dança para que ele possa funcionar como um teatro de 530 lugares públicos. Ele pretende transformar salas de aula já existentes em acomodações ou estúdios. Garatti se opõe a essas propostas.
'Eu tenho autoria sobre todas as alterações ou adaptações', disse Garatti por telefone de Milão, onde está envolvido em outras iniciativas inconstantes de concluir a escola. Um grupo de arquitetos cubanos e estrangeiros se reuniu sob o nome de Garatti após a Foster & Partners, empresa do arquiteto britânico Norman Foster, ter realizado um estudo de viabilidade na escola de balé no final de 2011 e construído uma maquete.
'Trata-se de um enorme problema ético', disse Belmont Freeman, arquiteto de Nova York que tem escrito sobre a arquitetura moderna cubana. 'Não se sabe de nenhum caso de um arquiteto que assumiu a conclusão ou realizou alterações em um projeto em um momento em que o arquiteto original ainda está vivo e envolvido de forma ativa.'
O envolvimento de Foster alimentou uma série de rumores, e-mails revoltados e cartas abertas, incluindo uma em que Garatti disse – erroneamente, ao que parece – que Acosta queria abrir uma escola 'privada', algo controverso na Cuba comunista. Entre alguns arquitetos cubanos, a simples menção de Foster suscita olhares arregalados de desaprovação e comentários sobre ele ter sido intrometido.
'Eu acho que nem Acosta nem Foster tinham conhecimento do ninho de marimbondos em que mexeram', disse Freeman.
Acosta disse que Foster ofereceu seus serviços, gratuitos, para ajudar a levantar dinheiro para o projeto, e que não está refazendo o projeto do prédio. Acosta e Garatti assinaram um memorando de entendimento com as autoridades cubanas em dezembro de 2011, afirmando que o projeto atual respeitaria o original e continuaria a envolver Garatti. Um representante da Foster & Partners disse em um e-mail breve que a empresa tinha 'concluído um estudo completo de viabilidade', mas que não estava envolvida em trabalhos futuros.
Vilma Rodríguez Tapanes, a autoridade do governo encarregada da restauração e construção de sítios culturais, disse que os valores arquitetônicos propostos por Garatti seriam respeitados. 'Mas a arquitetura não é estática', disse ela.
Ninguém pode tocar nas escolas de arte nacionais sem a aprovação da Comissão Nacional de Monumentos, um órgão formado por várias dezenas de intelectuais.
Mario Coyula, um renomado arquiteto que atua como membro da comissão, disse que qualquer projeto precisaria ter Garatti na equipe, uma opinião com a qual o arquiteto Daniel Taboada, também arquiteto e membro da comissão, concorda. Para Taboada, de 81 anos, a discordância tem muito a ver com as diferenças entre as gerações.
'Aqueles que sonhavam da maneira como Garatti sonhava, que ajudaram a construir as escolas, que eram parte da experiência, não conseguem acreditar que alguém cogitou mudar o projeto', disse ele. 'Mas os jovens não entendem o motivo da polêmica.'
Um desses jovens é Yanier Gomez, de 23 anos, solista do Balé Nacional de Cuba, que disse que o centro de dança de Acosta traria abertura à cena convencional de balé cubana. 'O Carlos é bastante criativo', disse Gomez após assistir Acosta dançar no festival de balé em Havana.
A criação do centro de dança, que seria dirigido e financiado pela Fundação Internacional de Dança Carlos Acosta, uma instituição de caridade baseada no Reino Unido, custaria cerca de 10 milhões de dólares, disse Acosta. A fundação arrecadou cerca de 320 mil de dólares em seu primeiro evento, realizado em setembro, e tem outros eventos importantes adiante, de acordo com Rupert Rohan, cofundador da instituição de caridade.
Para Coyula, Acosta e Garatti deveriam 'parar de ser divas' e resolver as coisas conversando, algo que eles não fazem há muitos meses.
A alternativa para a escola de balé seria ficar em ruínas. Alguns dos apoiadores de Garatti preferem isso a ver o projeto de sua autoria ser desrespeitado. Durante a última década, o governo gastou vários milhões de dólares para concluir partes do complexo, de acordo com autoridades. Apenas a escola de balé, no entanto, foi estabilizada.
Caminhando pelo teatro em ruínas, com escombros esmagados sob os pés, Acosta disse que não estava tirando Garatti de cena, e que estava aberto ao diálogo. Ele diz que poderia levar o seu sonho para outro lugar caso necessário, embora pareça determinado a realiza-lo em sua cidade natal.
'Eu quero deixar o meu legado para Cuba', disse ele. 'Eu vou lutar – realmente lutar – por isso.'
fonte:www.msn.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Teremos o maior prazer em receber seu comentário.