Mais um veraneio começa na região
nordestina, tendo o condão de atropelar o calendário dos negócios e das
coisas mais sérias do ano que se inicia, perdurando até o carnaval.
Veranear não deve ter a compreensão simplória dos dicionários, como
simples lugar distinto da residência, geralmente nas praias, serras,
lagos ou montanhas, conforme a localidade onde cada um vive.
Sua real característica permite revigorar a força física, fazer um hiato
na labuta cotidiana e um reencontro com a paz interior.
Dou-me a esse deleite desde os idos de 1947, que começou na Barra do
Cunhaú, depois na Redinha, por muitos anos e há mais de quatro décadas
na praia de Cotovelo, onde encontrei o meu “Nirvana” espiritual.
A visão do veraneio varia com a idade. Quando criança, nada mais do que o
lazer dos banhos à toda hora, pescarias e caminhadas.
Na adolescência, prepondera a convivência fraternal com os amigos e
amigas, alguns folguedos, no bom sentido e os primeiros eflúvios do
amor.
Faz-me, lembrar um filme que se passou num veraneio em uma praia
italiana, onde um garoto, mais ou menos da minha idade (16 anos),
interpretado pelo ator Gino Leurini realizou a sua primeira aventura
amorosa, com uma “Donna” mais velha que ele, que o transformaria
psicologicamente para a vida, tal a intensidade de sentimento naquela
descoberta. Isso também me impregnou até os dias presentes, embora neste
instante da vida, somente pelo desejo de conseguir de algum
colecionador uma cópia daquela película “Amor de Outono”. Ainda tenho a
esperança de conseguir!
Ao chegar a maturidade aflora a fraternidade, numa convivência
harmoniosa entre a família e amigos. Esta é a fase mais duradoura,
permitindo impulsos de criatividade intelectual e habilidades manuais
nos campos da pintura, marcenaria, hidráulica e eletricidade, nem sempre
bem sucedidas!
Mas quando se atinge a terceira idade, se eleva acentuadamente o pendor
romântico e literário, pelas lembranças dos momentos vividos e felizes,
dando a tudo uma visão especial, seja de um beija flor, um búzio, um
luar ou qualquer outra visão do belo e do bom.
No veraneio leio vorazmente e escrevo com o mesmo apetite, entrecortados
com uma geladinha ou scotch com água de coco.
Foi num veraneio na Redinha, que aprendi uma canção da autoria do meu
pranteado irmão Fernando, composta quando ainda adolescente, que tem a
seguinte letra:
REDINHA, praia linda e sem igual.
Poema lírico e imortal, onde nasceu nosso amor.
REDINHA, em teus recantos lindos,
Lembra-me o tempo de menino
Colhendo búzios em multi-cor.
REDINHA, de casas de palha e bangalô,
Onde não há escravo nem senhor,
Todos ali são iguais.
REDINHA volto de novo ao teu seio, Para viver sem receio
Aqueles tempos ideais.
AUTORIA DE CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES.
Escritor e veranista
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