domingo, 8 de setembro de 2013

O ESMAGAMENTO DO FUTURO

 Rinaldo Barros-Professor e escritor
Peço licença para abordar um tema recorrente, o qual já foi abordado por mim algumas dezenas de vezes. Falo da atitude suicida de nossa sociedade, que insiste em massacrar as futuras gerações.
Onde está a saída?
A meu ver, é urgente e indispensável (re)pensar o Brasil atual, formular um Projeto de Nação, no qual a educação deverá ter um papel essencialmente vital. Senão, vejamos.
Desemprego, pobreza e violência estão associados à trajetória dos jovens brasileiros há muito tempo. Muito mais do que se poderia prever ou desejar.
E essa tragédia tem explicação, mas não tem justificativa.
Pasme, leitor: segundo relatório da ONG Todos Pela Educação (www.todospelaeducacao.org.br/), só 01 em cada 10 alunos brasileiros encerra ciclo do Ensino Médio sabendo o que deveria em Matemática - número inferior ao medido em 2009. Em Português, a situação é a mesma.
O Ensino Médio reúne atualmente alguns dos piores indicadores da educação brasileira. É nessa etapa da educação básica que se concentram as maiores taxas de abandono escolar e também as notas mais baixas no IDEB, índice que mede a qualidade de nossas escolas.
E o pior: a situação não está melhorando. O que era ruim, está ficando pior.
A culpa não é do estudante, de nenhuma forma, nem há que se buscar explicações em supostas deficiências individuais ou coletivas das gerações futuras. O jovem é vítima do sistema educacional.
Na verdade, o Ensino Médio brasileiro é muito chato, uma colcha de retalhos que não leva conhecimento que possa se transformar em ferramentas para a vida, para a sobrevivência, para o mercado de trabalho; passando pela Universidade, ou não. 
Atualmente, o professor se sente impotente para motivar os jovens a aprender, e o aluno não consegue enxergar a ligação entre o que pedem para ele aprender e o seu futuro no mundo.
Na visão dos especialistas, o Ensino Médio brasileiro é, em suma, uma invenção do inicio do século XX que ainda teima em sobreviver nos nossos dias.
Com a mesma incompetência do ciclo fundamental (em especial, o de escolas públicas), que não ensina a ler nem a fazer contas elementares, o médio não fornece ferramentas profissionais e intelectuais a contento para jovens expostos a um mundo cada vez mais competitivo e exigente.
Com uma grade curricular "engessada, rígida e antiquada" o Ensino Médio brasileiro trabalha com uma receita infalível de fracasso.
O formato atual desmotiva os estudantes, que, por volta dos 15 anos, já sentem florescer competências, preferências e sonhos – além, é claro, de incompatibilidades, aversões e pesadelos.
Assim, apesar de cultivarem interesse por áreas específicas do conhecimento, são obrigados a enfrentar um curso sem variações, cujo currículo é igualmente aplicado a todos. São muitas áreas, e todas abordadas superficialmente.
O aluno, então, aprende à base de memorização, repetindo o que o professor fala.  
É o que eu chamo de “ensino papagaio”
Transcrevo aqui depoimento de um jovem amigo meu, estudante (15 anos) do atual ensino médio brasileiro: “Eu creio que o ensino médio é pra ser uma preparação para a faculdade ou para o mercado de trabalho e para a vida adulta; e não uma preparação para uma prova que só mostra que você decorou o que o professor disse durante o período que esteve na sala de aula”.  
Na mesma direção, ensina o professor Simon Schwartzman: "ao impedir que o aluno se aprofunde em uma área de seu interesse, restringe-se o horizonte dele".
O Brasil não precisa “reinventar a roda” para promover as mudanças necessárias no Ensino Médio.
Na Grã-Bretanha, por exemplo, os estudantes do ciclo equivalente ao ensino médio brasileiro podem escolher no máximo cinco disciplinas, que já podem ser voltadas à área para a qual os alunos pretendem se dedicar na Universidade; ou facilitar sua inserção no mercado de trabalho. São casos de sucesso.
Por sua vez, a proposta (já em debate no Brasil) de agrupar as disciplinas do Ensino Médio em quatro grandes áreas (linguagens, ciências da natureza, ciências humanas e matemática) pode ser um caminho.
            Resumo da ópera: Colocar o Ensino Médio brasileiro no século XXI é o grande desafio do povo brasileiro, implicando na defesa da soberania nacional, na redefinição das prioridades de investimentos. Não pode ser um projeto de governo ou de partido, mas um projeto de toda a sociedade, um projeto de Nação.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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