(*)
Rinaldo Barros
Eu desejei muito escrever, hoje, um texto para
transmitir otimismo e esperança.
Lamentavelmente, os fatos não permitem concretizar o
meu desejo sincero. Vejam a declaração a seguir.
“Fica a critério de cada escola ensinar, ou não, um
pouco de literatura; e adotar o livro didático que bem entender”. Essa
afirmação poderia ser do (ainda) atual ministro da Educação. Ou seja, pra empurrar o patropi de vez na direção da
ignorância, o governo (MEC) admitiu que não tem qualquer responsabilidade
quanto ao conteúdo dos livros didáticos adotados pelas escolas.
Ou seja, o PT governo está se lixando para
o que estão ensinando, ou não, às nossas crianças.
Acrescento duas
péssimas notícias:
1. Há cerca de cinco anos, a imprensa registrou o
fechamento em Berlim do único instituto existente na Europa continental
(tirante Portugal) que se destinava a difundir a cultura brasileira.
2. Desde 2010 que o departamento de espanhol e
português da Universidade de Cambridge aprovou o encerramento da Licenciatura
em Português.
Por sua vez, aqui no patropi, a Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) é bastante vaga sobre o ensino de literatura. Estabelece que a
língua portuguesa seja considerada "como instrumento de comunicação,
acesso ao conhecimento e acesso à cidadania" (art. 36, par. 1º).
Ou seja, nada impede que os textos literários
desapareçam do ensino. Um baita desatino!
Como
conseqüência desse descaso, o nosso idioma vem sofrendo com algumas agressões
cada vez mais consolidadas. A conversa de hoje gira em torno do uso de uma
expressão muito usada ultimamente, por muita gente boa, bem formada e até mesmo
bem informada. Falo do famoso "a nível de".
É irritante
ouvir pessoas formadoras de opinião insistindo numa forma equivocada de falar e
escrever, sem qualquer justificativa plausível. Vejamos.
A expressão corriqueira "a nível
de" é usada em qualquer situação, como se fora adequada.
A meu ver, não deve ser utilizada em
hipótese alguma, a não ser que se posponha à preposição "a" o artigo
"o", apresentando o significado de "à mesma altura".
Por exemplo: "Gosto de estar ao nível
do mar"; "Ele quer colocar-se ao nível dos diretores".
Qualquer outro significado que se queira
dar a ela (“a nível de”) estará errado. Considerando-se a norma culta, deve-se
substituí-la por "em termos de”, “em relação a”, “em se tratando de” ou “quanto
a".
Há gramáticos que também admitem a
substituição por "em nível de". Em minha modesta opinião, porém,
considero inadequado esse uso também.
A mesma opinião têm os professores João
Bosco Medeiros e Adilson Gobbes em seu livro "Dicionário de Erros
Correntes da Língua Portuguesa", publicado pela Editora Atlas.
Já o professor Luiz Antonio Sacconi, em
seu livro "Não Erre Mais", publicado pela Atual Editora, apresenta a
expressão "em nível de" certa apenas no sentido de "no mesmo
nível";
Por exemplo: "A reunião será em nível
de diretoria", ou seja, apenas pessoas que estiverem no mesmo nível
participarão da reunião. O certo seria dizer, por exemplo, "Em relação aos
nossos investimentos, conseguimos bons resultados", e não erradamente
"a nível de nossos investimentos..."
O certo seria dizer "Quanto à
qualidade dos discos, julgo o de Gilberto Gil melhor que o deles", e não
"A nível de qualidade..."
Mas, existem manias ainda piores. Está igualmente
insuportável a utilização exagerada da forma nominal dos verbos no gerúndio,
como se fora uma forma elegante de falar, geralmente, por pessoas tidas como “atualizadas”,
treinadas para comunicação ou atendimento ao público.
Arrisco afirmar que o gerúndio deve ser usado apenas para transmitir a
idéia de processo, de algo em andamento, em curso no presente. Não deve ser
usado para o futuro, nunca para algo que ainda vai acontecer.
Estas práticas equivocadas, além de assassinar o
idioma, nos coloca na contramão do desenvolvimento sustentável, cujos desafios
são outros: precisamos de ciência, tecnologia e inovação (CTI), as quais
são temáticas atuais e essenciais para o aumento da competitividade, para o
desenvolvimento produtivo.
Fico por aqui, com minha teimosia inabalável, na minha luta
vã contra a burrice.
(*) Rinaldo
Barros é professor- rb@opiniaopolitica.com
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