quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Evolução no mundo do trabalho

   (*) Rinaldo Barros
            O conceito do trabalho pode ser abordado a partir de diversos enfoques. A sua definição básica indica que é a medida do esforço feito pelos seres humanos. Na visão neoclássica da economia, por exemplo, constitui um dos três fatores da produção, juntamente com a terra e o capital.
            Vale lembrar que quando se fala da dimensão do trabalho como categoria primeira está se pensando em atividade que cria valor-de-uso e que trava relações entre o Homem e a Natureza, ou seja, referimo-nos ao trabalho concreto – que é divergente do trabalho abstrato, uma atividade-fetiche, que cria valor-de-troca.
            Com o desenvolvimento do capitalismo, a dimensão do trabalho concreto – que produz objetos úteis – perde espaço para a dimensão do trabalho abstrato - que produz mercadorias.
            Ao longo da história, a forma predominante do trabalho foi a escravidão (trabalho forçado, em que um homem domina outro, impedindo-o de tomar decisões livremente). A partir de meados do século XIX, a escravidão começou a diminuir e foi declarada ilegal. Desde então, o trabalho assalariado passou a ser a forma dominante do trabalho.
            Se atentarmos para a contemporaneidade pós-moderna, observaremos que a tecnologia avança a olhos nus, invadindo cada vez mais o mercado de trabalho. Seja com terminais para pagar contas, seja com cirurgias complexas realizadas por robôs, muitos acreditam até que o homem passa a ter papel secundário.
            Na medicina, é possível enxergar com clareza o impacto da tecnologia em um trabalho majoritariamente humano. Com a cirurgia robótica, conhecida por ser minimamente invasiva, robôs seguram o bisturi, diminuindo muito os riscos da operação.
            Vejo um novo modo de trabalho se estabelecendo nas empresas, baseado em colaboração. As grandes empresas enxergam um mundo novo, sem tantas estruturas fixas. Agora, preferem trabalhar a partir de times, de forma colaborativa. E isso também combina muito com a tecnologia porque eu posso, por exemplo, estar no Brasil e meu parceiro de projeto estar na Ásia. Assim, eu adianto minhas tarefas no meu horário normal de trabalho, já ele, do outro lado do mundo, adianta a sua parte enquanto já estou dormindo; e vice-versa.
            Tudo está andando muito rápido e não basta apenas tentar se informar e conhecer novas técnicas. É preciso ser curioso o suficiente para buscar novas ferramentas, permanentemente. Tudo isso em busca do aperfeiçoamento da produtividade, palavra-chave do ponto de vista do capital.
            O desafio (ou dilema) atual consiste em conseguir produzir muito mais com muito menos gente. Isso, de certa forma, enxuga o número de postos de trabalho. Quanto mais moderno é o empreendimento, menos intensivo de força de trabalho ele se mostra. Isso muda o próprio conceito de desenvolvimento. Desenvolver, no mundo atual, não significa gerar mais empregos.
            É preciso alertar, também, para a sensação de infelicidade que o excesso de tecnologia pode trazer para a vida do trabalhador, que acaba conectado o tempo todo. Hoje em dia, não tem como não ser competitivo, e pessoas sofrendo por estresse e depressão são cada vez mais fáceis de encontrar. Elas acabam se questionando se estão felizes ou se preferem ganhar menos com uma vida mais tranqüila, sem uma "conference call" na madrugada ou na hora do almoço. Vivemos achatados num eterno presente...
            Registre-se que as pessoas não se satisfazem mais com o básico, também estão ficando cada vez menos dispostas a aceitar sem reclamar serviços públicos que não atendem padrões mínimos de qualidade. Essa atitude por mais qualidade impulsiona o desenvolvimento de um mercado novo de produtos e serviços sofisticados ou inovadores. Os poderes públicos igualmente devem reciclar sua forma de oferecer os bens da cidadania. Está mais difícil viver o cotidiano.
            É preciso correr com todas as forças para permanecer no mesmo lugar.
            Zygmunt Bauman nos ensina (in "Vida Líquida", ed. Zahar) que vivenciamos hoje, sem dúvida, uma vida líquida(?), efêmera, na qual a velocidade, e não a duração, é o que importa.          
            Surgem imensas possibilidades de realizar diversas formas de trabalho ou prestação de serviços - até mesmo de elaboração, concepção, criação do conhecimento novo, da ciência aplicada, de novos negócios, novos processos, novos produtos ou novas obras de arte; desenvolvimento do ócio criativo, enfim - utilizando ferramentas virtuais ou remotas, à distância, globalmente, sem a presença do autor.
            Resumo da ópera: não vamos viver numa sociedade Matrix. Todavia, a evolução advinda com o pós-modernismo, suas inovações, não significa ruptura com o caráter capitalista do modo de produção. No fundo, o desafio hoje é lutar, de diferentes formas, para que a sociedade não fique refém exclusiva do mercado.
            O inimigo do mundo do trabalho é o consumismo, que se espatifa diariamente contra a realidade.

                (*) Rinaldo Barros é professor - rb@opiniaopolitica.com

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