quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sem norte!


Rinaldo Barros
Escritor e Professor

Não estou certo se os responsáveis atuais pelos destinos do patropi - incluindo meus colegas da universidade, como os cientistas políticos - estão se dando conta completamente das implicações e das consequências do retorno da violência na vida pública brasileira.
Só não está vendo quem não quer que o clima de mal-estar com o funcionamento de algumas instituições democráticas e com a maioria dos órgãos públicos - do PT governo e das unidades federativas - está dando lugar a inúmeras iniciativas de ação direta que, antes de se apoiar no diálogo, na negociação e nas instituições de representação, adotam a violência como forma de protesto e de expressão válida.
A morte de um jornalista, agressões a dezenas de outros profissionais da imprensa, depredações do patrimônio público e privado, ônibus queimados, abusos das polícias despreparadas, crimes das milícias e pânico da população - tudo está dando sinais de que, aos poucos, em diferentes esferas da vida social e política, o conflito - legítimo - em sociedades complexas como a nossa está sendo tratado como se a única solução fosse o uso da força, da violência e do desprezo pela lei e pela vida.
Não digam, por favor, que governos (federal e estaduais) estão sabendo o que fazer, nem que os partidos de qualquer orientação estão sendo capazes de tirar a população da sua miséria cotidiana.
A falácia de que surgiu uma nova classe média não suporta uma investigação preliminar sobre sua capacidade de endividamento. São, em verdade, pobres famílias endividadas e enganadas pela oferta de crédito fácil, contribuindo para aumentar a inadimplência na economia verde-amarela.
Rostos cobertos em manifestações, por sua vez, são sinal de reconhecimento de que se quer praticar atos ilegais, anti-humanos, da mesma forma que a prática da corrupção política mostra o desprezo pelas necessidades do povo e por regras de competição eleitoral equânime.
Ambos são crimes contra a Democracia.
Mesmo sem exagerar o diagnóstico, o que está ocorrendo no Brasil contemporâneo assusta.
Não há dúvida que a deterioração social contribui para o crime.
O quadro do desemprego e da informalidade, no Brasil, é muito grave.
Além disso, a qualidade da educação ainda é baixa para a maioria da população e não lhe dá perspectivas de melhorar de vida ou se inserir no mercado de trabalho; a rigidez da legislação trabalhista é alta, a carga tributária e os juros são assustadores. Assusta os pequenos empresários, aqueles que geram a maioria dos empregos.
Tudo isso conspira contra o equilíbrio entre capital e trabalho, e agrava a situação social.
Os criminosos, apesar de terem diferentes origens, têm uma concepção muito semelhante do mundo em que vivemos. No submundo do crime, as pessoas adquirem valores diferentes daqueles hegemônicos em nossa sociedade, acreditam poder invadir a propriedade dos outros, violentarem seus corpos, liquidarem suas vidas, pouco ligando para as perdas e o sofrimento das suas vítimas.  
Durkheim (1858 a 1917) nos ensinou (em seu livro “A Divisão do Trabalho Social”) que mais importante do que a severidade da pena é a sua visibilidade.
Ou seja, a sociedade precisa mostrar aos criminosos potenciais que a vida após o crime é mais dura do que antes da sua prática. É preciso demonstrar que a vida normal, sem punição, é possível apenas para os que permanecem dentro da Lei.
Os criminosos, mascarados ou não, precisam, no curto prazo, ver as instituições de Justiça e Segurança funcionando plenamente, com a aprovação e apoio da sociedade civil organizada.
Sem isso, continuaremos com medo, ao lado da panela de pressão prestes a explodir.
Sem norte!

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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