quinta-feira, 24 de abril de 2014

FADIGA DOS METAIS


(*) Rinaldo Barros

O Ibope anunciou em sua última pesquisa sobre a sucessão presidencial, dados deduzindo que Dilma – embora em tendência de queda, se reelegerá no primeiro turno, caso seus adversários sejam Aécio Neves e Eduardo Campos.
Claro que o cenário será diferente se a economia desandar, se o dragão da inflação acordar e parir filhotes, se a rebelião nas ruas se multiplicar, se os mal feitos da Petrobras não forem explicados, se a seleção perder a Copa em casa, e se os projetos assistencialistas do PT governo fracassarem. A lista é grande.
Tanto em política quanto em mecânica, registra-se um fenômeno implacável: a “fadiga dos metais” ou, no caso do mundo político, a fadiga dos partidos ou de suas lideranças.
Ainda mais quando, em se tratando dos “cumpanhêros”, constata-se que não tem havido renovação. Houve, isso sim, uma debandada, quando – em número significativo, a intelectualidade petista - alguns fundadores do PT - pulou fora, desiludida precisamente com a “performance”, fundada no pragmatismo exacerbado, no patrimonialismo, na leniência com a corrupção e nas alianças fisiológicas, da maioria dos líderes nacionais e regionais.
Com raras exceções, os ministros, os governadores, os prefeitos e as bancadas parlamentares do PT (e aliados) são os mesmos, há mais de 30 anos. Não há maiores sinais de novas lideranças emergirem das eleições de 2014, quando muito antevê-se o surgimento dos descendentes, como famílias imperiais.
Bem ou mal, os mesmos metais estão em plena movimentação mais uma vez, na busca do poder pelo poder; e nem o conteúdo do discurso muda. É o ódio do “eles contra nós”, a culpa é das “zelites” golpistas, do PIG - Partido da Imprensa Golpista, e outros bordões bolorentos repetidos desde sempre.
O copo encheu, ninguém aguenta mais. Até a militância de base envelheceu.
Trincou. O metal está trincado, e a maioria da população brasileira pode até não saber ainda o que deseja, mas tem cada vez mais claro em seus corações e mentes o que definitivamente não quer para o Brasil.
O eleitorado se renovou e os partidos não, o sistema político envelheceu, no pior sentido do termo.
No momento, a tendência que ganha corpo no eleitorado ainda é a fuga do processo, a omissão, que afasta o eleitor das relações políticas, confundidas com “politicagem”.
O jovem do primeiro voto não quer nem se dirigir à Justiça Eleitoral para emitir o seu título, e os que já o possuem declaram que não pretendem votar, que não confiam em nenhum candidato, e que irá anular o voto ou simplesmente não irá comparecer no dia da eleição; prenunciando-se que teremos em 2014 um recorde de abstenção e votos nulos.
Ao longo do tempo, os sinais de fratura da ordem repetem os padrões de alarme, embora para circunstâncias sempre diferentes.
Na história política, quando se evidencia a imposição de um modelo à realidade das sociedades usa-se a expressão “fadiga dos metais” para, de forma figurada, revelar que um determinado sistema, regime ou forma de governar está no limite de sua existência.
Faltou coragem e grandeza ao PT para empreender, com Lula ou com Dilma, as reformas indispensáveis à nação (reforma fiscal, política, administrativa, agrária, urbana, universitária, entre outras), em torno das quais o partido foi fundado. E, pior, zomba da opinião pública, solapando a República pela compra do Legislativo e tentativa de infiltração no Judiciário (ver “Camisetas pelo avesso”, de Miranda Sá - http://mirandasa.com.br/?p=58258)
Por outro lado, foi com avidez que a direção nacional do PT dedicou-se a gozar o poder e suas benesses, apostando no populismo assistencialista e no monetarismo especulativo, sem investir na modernização da infraestrutura desse país continental, notadamente nos modais de transportes e da mobilidade urbana; lambança que atravancou o processo de crescimento econômico e estancou o desenvolvimento.
Ou seja, o Brasil tem hoje competência para produzir mas não consegue transportar, armazenar e distribuir, nem cumprir boa parte dos contratos de exportação. Este fenômeno encheu também o copo do mercado, o qual igualmente deseja uma forma de governar, objetivamente, mais sintonizada com os interesses e metas do setor produtivo.
O resultado aí está: mesmo sem ter ainda desaparecido, o PT é uma sombra do que foi no passado. Trata-se de um enigma saber que estrutura política poderá substituí-lo. A conclusão é privilégio do caro leitor.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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