quinta-feira, 1 de maio de 2014

A SAGA DE UMA ÍNDIA TAPUIA DO APODI NO SÉCULO XXI



Lúcia Maria Tavares - Índia Tapuia-Paiacu
Presidente do CHCTPLA



Contar a Saga de uma mulher que se diz Tapuia Paiacu da Nação Kariri neste século XXI, requer compreender os motivos pelos quais a mesma se auto-intitula desta forma. Estamos falando de Lúcia Maria Tavares, mais conhecida como "Lúcia Cará". 

Lucia tem se embrenhado na pesquisa histórica, de caráter antropológica a fim de encontrar vestígios, provas e principalmente remanescentes indígenas da Tribo Tapuia-Paiacu da Nação Kariri, que são citados em todos os registros históricos como o povo primitivo que habitava essas terras semiáridas do nosso sertão antes dos portugueses e demais europeus chegarem com a meta de ampliar o território conquistado nas suas chamadas "grandes navegações. 

Segundo Câmara Cascudo, nas primeiras investidas portuguesas, esses índios resistiram à invasão do seu território, dos seus rios, florestas e de toda sua paisagem de caça, pesca e de sobrevivência ocupada pelos colonizadores de origem portuguesa. Luta esta que foi articulada pela confederação dos Cariri, com realização datada em torno do ano de 1670.

Por razão da resistência à invasão europeia, os povos foram também chamados de "bárbaros". Essa denominação não era dada apenas aos Tapuias de Poty, Pody ou Apodi, como hoje se conhece, mas de todos os povos habitantes do território do Rio Grande do Norte, que segundo Olavo Medeiros Filho se dividiam em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam. Existiam assim: os Cariris, os Tarairus, os Canindés. Eram tribos que falavam diversas línguas e eram chefiadas por vários reis, dentre os quais se destaram Janduí e Caracará.

As batalhas travadas entre índios e brancos europeus proporcionou matanças cruéis de Tapuias, perseguições, mortes e episódios tristes que até hoje ainda produzem traumas aos índios da região. Muitos fugiram para outras regiões. Os Tapuias de Apodi fugiram, uma parte para o Ceará e outra se espalhou pelas Serras de Portalegre e Martins, onde até hoje existem muitos vestígios e uma vasta remanescência, embora não reconhecida, uma vez que a saga sangrenta do passado tem se transformado em "trauma", fazendo com que os remanescentes não queiram ser identificados como tal. No próprio município de Apodi existem muitos remanescentes que não se auto-identificam como índios, mesmo que seus traços físicos demonstrem claramente a relação que pertença à etnia indígena. Há algumas pessoas que já se autodeclaram por serem, além de informadas firmes e corajosas em assumirem suas descendências étnicas, outras preferem ficar ainda escondidas, e vê-se claramente o "medo" se levantar mediante os fatos vividos pelos antepassados,  como se percebe no relato que é mostrado no vídeo abaixo gravado por Lúcia Tavares e um dos membros do Centro Histórico Cultural Tapuio Paiacu da Lagoa de Apodi. 





Em sua busca incansável para reunir fatos, relatos e peças líticas que comprovam a existência da tribo na região, a Tapuia Lúcia Tavares tem conseguido juntar muitos fragmentos de grande relevância para a reconstrução da história do município de Apodi, que como todo registro tradicional brasileiro, pouco valoriza os episódios que têm como personagens principais os nomes indígenas e não os nomes de colonizadores europeus. 

As pesquisas têm demonstrado que há muitas peças líticas espalhadas pelo Vale do Apodi, na Chapada do Apodi e nos municípios que serviram de abrigo para os Tapuios-Paiacus que fugiam das terras apodienses cada vez que eram atacados pelos comandos da colônica europeia. 


Acervo de peças líticas encontradas por Lúcia Tavares


Devido sua pesquisa, em busca de pessoas que a auxiliassem na meta de redescobrir a história de Apodi, Lúcia reuniu amigos, professores, conhecidos e alguns remanescentes tapuias que juntos se tornaram sócio-fundadores do Centro Histórico Cultural dos Tapuias-Paiacus da Lagoa do Apodi (CHCTPLA), entidade hoje legalmente reconhecida como de utilidade pública estadual e municipal. Na sua primeira diretoria, Lúcia Maria Tavares é a Presidente do Centro, a vice-presidente é a professora Mônica Freitas. Além disso, o nosso centro ainda conta com o auxílio de vários colaboradores, entre os quais destacamos o advogado Marcos Pinto, e também é historiador, o estudante de Turismo Isaac Tárcio, Antonio Praxedes Filho, o Pastor Wellington e tantas outras pessoas que se dispõem a colaborar com esta pesquisa e luta tão importante para o nosso município por ser o fio condutor da nossa reconstrução e preservação cultural. 

Presidente e vice-presidente do CHCTPLA e alguns sócio-fundadores 

Até aqui, a saga de Lúcia Tavares continua, neste universo complexo  e capitalista onde o preconceito étnico ainda prevalece contra o índio, tanto que muitos não compreendem os povos indígenas como gente; outros imaginam que os índios de Apodi não existem mais porque foram dizimados pela colônia europeia. 

A história real que Lúcia tem encontrado em suas pesquisas é outra: estamos vivos - inclusive eu que também sou descendente tapuia - e mesmo que o sistema queira esconder nossa existência, haveremos de lutar, auxiliando a Tapuia Lúcia em suas buscas e chegando ao legado final de reconstrução da nossa história para podermos obter os nossos direitos, estes que pela distorção da história, foram negados. 

Por Mônica Freitas 
FONTE:http://odiariodopovoapodiense.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Exilado

    EXILADO NA PRÓPRIA TERRA
    PROIBIDO DE VER O MUNDO
    ONDE TE DIZEM - VOCÊ NÃO É.
    NA FORMA IMPOSITIVA DE QUEM MANDA
    NO JEITO BRANCO DE DIZER NÃO.
    BRANCO PELA COR DA PELE
    MAS ESCURO NA COR DO PRECONCEITO
    QUE SAI DO OCO DA SUA CAVERNA
    ÍNDIO NÃO É ÍNDIO
    ÍNDIO NÃO É GENTE
    ÍNDIO É... UMA COISA UM ENTOJO
    ÍNDIO NÃO SABE
    ÍNDIO NÃO VÊ
    ÍNDIO NÃO FALA
    PORTANTO ÍNDIO CALA
    ÍNDIO TEM QUE ACEITAR E PRONTO.
    ÍNDIO TEM QUE FICAR NO MATO FEITO BICHO ACUADO
    CADA VEZ MAIS PEQUENO
    ÍNDIO TEM QUE ACEITAR ESPELHO
    ÍNDIO NÃO PODE ANDAR NO BRASIL
    ÍNDIO NÃO PODE VÊ AS LUZES DA CIDADE
    ÍNDIO NÃO PODE IR AO BRASIL
    ÍNDIO NÃO É DO BRASIL
    ÍNDIO NÃO TEM BANDEIRA
    ÍNDIO É PROBLEMA
    ÍNDIO NÃO AMA
    ÍNDIO NÃO TEM "ALMA"
    ÍNDIO É OCO.
    QUEM NÃO É ÍNDIO,
    NÃO PRECISA SER ÍNDIO
    ÍNDIO JÁ SABE QUE É ÍNDIO
    E BEBEMOS DA MESMA ÁGUA.
    ÍNDIO VÊ A CARA NO BRILHO DAS ÁGUAS
    ÍNDIO OLHA SEM O ENIGMA DO CINISMO
    NA INOCÊNCIA DA VIDA, SENÃO NÃO TERIAM SIDO DIZIMADOS
    NO PECADO DE RECEBER BEM OS INVASORES
    DOUTRAS TERRAS,
    DE MATRIZES ESPANHOLA, PORTUGUESA, INGLESA,
    HOLANDESA QUE DESTA TERRA SE APOSSARAM
    COMO DONOS SENHORES DE TUDO
    ÍNDIO PRECISA DE SARAMPO?
    ÍNDIO PRECISA DE DIARRÉIA?
    ÍNDIO PRECISA RECEBER ESMOLA?
    ÍNDIO NÃO É DA TERRA
    ÍNDIO NÃO PRECISA DE TERRA
    ÍNDIO NÃO PODE ANDAR NA TERRA
    ÍNDIO TEM QUE FICAR NO MATO
    RECEBER QUINQUILHARIAS E AGRADECER.
    ÍNDIO TEM QUE SER CRISTÃO
    REZAR E AGRADECER
    SE HUMILHADO E AGRADECER
    SER DESTERRADO E AGRADECER
    PERDER O DIRETO DE FALAR
    COM SEUS DEUSES E AGRADECER
    DEIXAR DE SER ÍNDIO E AGRADECER
    MESMO TENDO CARA DE ÍNDIO
    JEITO DE ÍNDIO
    E FALA DE ÍNDIO.
    SOMOS ESTRANGEIROS DENTRO DA NOSSA TERRA
    MAS, NÃO ADIANTA SABEMOS QUE SOMOS
    E INDA ÍNDIO PORAQUI. CHICO CANINDÉ

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