sexta-feira, 27 de junho de 2014

Objetivamente, o Brasil


(*) Rinaldo Barros
Resumo objetivo: As duas gestões Lula valeram-se sobejamente das condições favoráveis que o processo histórico lhe legou, mas o PT – magicamente - requisita para si o papel de protagonista exclusivo das transformações. A verdade é que nunca antes se viu um governo que compactuasse tanto com a corrupção e os escândalos. Sob o manto protetor da popularidade sem precedentes, Lula agiu e age como se pairasse acima do bem e do mal. Seus atos tentam transmitir à sociedade uma espécie de salvo-conduto para o erro, uma aprovação prévia ao malfeito, uma leniência ante os desmandos e uma condescendência com companheiros e aliados que agem fora da lei. Quanto à Dilma, ela é apenas a gerente, respondendo ao expediente, na interinidade.
O ex-presidente Lula não quer deixar à História a tarefa de julgá-lo, condená-lo ou absolvê-lo. Como só se contenta com o papel de protagonista, pretende ele mesmo emitir os juízos sobre sua obra.
É fato objetivo que o Brasil, nos dois mandatos de Lula, experimentou e coexistiu com um momento mundial de rara estabilidade política e econômica, com vigor poucas vezes visto na nossa história.
Ou seja, o nível do mar subiu e o nosso navio subiu junto. O mundo inteiro melhorou.
Mas isso foi algo que começou a ser construído no passado recente, antes do Lula. Trata-se de processo iniciado a partir da redemocratização do país, ocorrida em 1985, após o país ter atravessado 21 anos sob regime militar. São, portanto, quase três décadas de sucessivos avanços e que ora vão encontrando seu estuário.  
O governo Lula valeu-se sobejamente das condições favoráveis que o processo histórico lhe legou. Recebeu uma “herança bendita” de conquistas alcançadas ao longo dos mandatos de vários presidentes da República, mas radicalmente aprofundadas nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, quando os brasileiros conquistaram a tão sonhada estabilização da moeda, com o Plano Real.  
Atualmente, há amplo consenso em torno de premissas como a estabilidade econômica, a responsabilidade fiscal, a privatização das telecomunicações e o respeito ao Estado Democrático de Direito.
Mas nem sempre foi assim: na oposição, o PT tentou obstruir muitos dos avanços institucionais que fazem do Brasil hoje um país melhor para se viver. 
Não custa lembrar: o partido de Lula negou-se a votar em Tancredo Neves no colégio eleitoral e ainda expulsou seus parlamentares que apoiaram o presidente eleito. Em seguida, negou-se a assinar a Constituição de 1988. Negou-se a apoiar o governo Itamar após o impeachment de Fernando Collor em 1992. Negou-se a apoiar o Plano Real, que, a partir de 1994, estabilizou a economia brasileira após várias tentativas frustradas. Votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impôs rigor ao trato dos recursos públicos. 
Alçado ao comando da nação sob a promessa da mudança e da transformação social, muitos (incluso o autor destas linhas) esperavam que o PT exercitasse o viço da renovação e da ética com que acenara ao longo dos 22 anos em que lutou para chegar ao poder. Os oito anos do governo de Lula e os quatro da presidente-adjunta permitem concluir que o petismo esteve longe de preencher tais expectativas.
Foi notável o conservadorismo que dominou o governo do Partido dos Trabalhadores. Isso se deu em duas frentes fundamentais: na economia e nas relações políticas.
Ao chegar ao poder, o partido de Lula aposentou a retórica revolucionária que lhe serviu de mote desde a sua fundação. Para a sorte do país, afirmando o contrário do que praticou, os fundamentos econômicos foram preservados, mantendo intactos os esteios antes demonizados pelo petismo. Foi ótimo que o PT tenha agido, assim, contradizendo a si mesmo: qualquer outra alternativa teria posto o país no caminho da desintegração. 
Na prática política, porém, escândalos em série foi como o PT conseguiu ser lamentavelmente mais retrógrado. O governo de Lula protagonizou o maior escândalo de corrupção da história brasileira, o mensalão.
Com a descoberta do mensalão, o PT desceu aos mais baixos níveis da prática política brasileira.
O partido que se preparou durante mais de duas décadas para assumir o governo em nada aperfeiçoou a política brasileira: não realizou qualquer Reforma essencial para aperfeiçoar as instituições. Pelo contrário: ressuscitou as piores práticas de exercício do poder, o compadrio político, o clientelismo; deu vida nova a carcomidas lideranças comprometidas unicamente com o atraso do país.
Este é o pior legado da Era Lula. Uma herança maldita que nem os malabarismos retóricos do ex-presidente, seu desprezo pelo processo histórico, nem sua atrasada prática política serão capazes de dissimular.
Terá sido essa a herança maldita deixada para a sua criatura, ora pretensa candidata à reeleição?
Dilma, por sua vez, nesses quatro anos, demonstrou claramente que seu nível de competência está muito abaixo do cargo que ocupa. Ela simplesmente não dá conta; e se esconde como pode -  por trás de um personagem tipo “durona e sabichona”; sem vencer nem convencer. Objetivamente, isso é o Brasil.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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