sábado, 26 de julho de 2014

O BOLSO E O VOTO



(*) Rinaldo Barros

O IBGE projeta 202.887.288 pessoas para a população brasileira, na data em que escrevo, (IBGE - http://www.ibge.gov.br/); e crescendo no ritmo de uma pessoa em cada 18 segundos.

Curiosamente, o Datafolha constatou em pesquisa recente que o Brasil possui 90 milhões na badalada “nova classe média” (os que vivem com mais de 2 salários mínimos, e têm acesso ao crédito para comprar eletrodomésticos e carros populares, com prestações a perder de vista.

Se somos 202 milhões, a maioria - mais de 100 milhões - ainda continua sem ter certeza se vai almoçar amanhã, ou seja, ainda se encontra mergulhada na pobreza. É muita gente.

Sem dúvida, essa população emergente, com seu desejo de continuar a consumir e seu foco no progresso pessoal, é um sintoma de que o Brasil está melhorando.

Conhecer este fenômeno é, portanto, fundamental para entender o futuro do Brasil. Quem são essas pessoas? Como melhoraram de vida? Que impacto podem provocar? Quais desafios trazem para o país? 

A população brasileira aumentou, mudou do ponto de vista educacional, e atravessou uma revolução demográfica que reduziu o tamanho da família. Essa dinâmica cria a possibilidade de expansão da economia, movimenta o mercado interno e põe mais gente no elevador social.

Todavia, é importante compreender que a expansão da classe média e a redução da desigualdade de renda não é fenômeno ocorrido apenas no Brasil. Ele vem ocorrendo simultaneamente - e de forma acelerada - em todas as economias emergentes (o tal BRICS), sobretudo na China e na Índia.

A explosão da classe média, no mundo, teve início há cerca de dez anos, ainda não atingiu seu pico e, se a crise mundial deixar, deve durar pelo menos mais dez anos. Um estudo recente do banco de investimento Goldman Sachs - intitulado “O Meio que Cresce” - estima que, até 2030, 2 bilhões de pessoas terão se juntado à “classe média mundial”, conceito que, para o Goldman Sachs, inclui pessoas (e não famílias) com “rendimento pessoal mensal” entre US$ 500 e US$ 2.500 (no Brasil isso seria entre R$900,00 e R$4.500,00).

Atentos! Aqui no patropi, há uma tendência de forçar a barra para construir um novo “conceito técnico”, a partir da “renda familiar” de R$1.500,00 em diante, aliada ao endividamento no médio prazo; redesenhando o perfil dos consumidores de bens e serviços, e tentando fazer acreditar - quase irresponsavelmente - que a economia vai continuar em crescimento contínuo e sem crise ad perpetuam. Como se isso fosse possível. 

Um parêntesis para uma observação sociológica.

O homem orienta-se pela busca permanente da felicidade. A exigência para o seu porvir é alimentada por uma aspiração em nível cada vez mais alto. O que lhe é possível, hoje, e o que poderá lhe advir como um futuro melhor passa a ser o alvo de sua luta por uma vida melhor; produzindo paradoxalmente uma insatisfação crescente, a qual pode se transformar em lutas e bandeiras políticas.

Agora, estas pessoas querem mais do que comida; querem saúde, educação, segurança e transporte de qualidade. Isso explica em parte as manifestações de junho de 2013. A ascensão social subiu o nível de exigência e aspiração de milhões de brasileiros.

Por outro lado, é palpável a evanescência de muitos outrora importantes movimentos sociais (como o de mulheres, por exemplo). É visível o declínio da força do sindicalismo, como consequência do novo padrão de acumulação do sistema e do desaparecimento de postos de trabalho e profissões, por força da automação.

Preocupa-me também a tentativa governamental de censurar ou desqualificar o papel da imprensa e da internet enquanto pilares da Democracia, em meio a generalizada sensação de impunidade.

É igualmente muito preocupante a despolitização das novas gerações, às voltas com o consumismo e com um individualismo estéril, terreno fértil e perigoso para as manipulações de todos os tipos.

Para concluir, é possível afirmar que o principal adversário da presidente Dilma, em sua luta para a reeleição, é a soma de problemas de nossa economia: inflação em alta, juros apontando pra cima, endividamento das famílias, crescimento pífio, rebaixamento pelas agências de risco e sinal de alerta no seio dos investidores (como reação à desconfiança política em relação ao PT governo).

O eleitor vai votar considerando seu bolso; e as urnas podem apontar para a alternância no poder.

Faz parte do jogo democrático.




(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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