(*) Rinaldo Barros
O IBGE projeta 202.887.288 pessoas para a população
brasileira, na data em que escrevo, (IBGE - http://www.ibge.gov.br/); e
crescendo no ritmo de uma pessoa em cada 18 segundos.
Curiosamente, o Datafolha constatou em pesquisa recente que
o Brasil possui 90 milhões na badalada “nova classe média” (os que vivem com
mais de 2 salários mínimos, e têm acesso ao crédito para comprar
eletrodomésticos e carros populares, com prestações a perder de vista.
Se somos 202 milhões, a maioria - mais de 100 milhões - ainda
continua sem ter certeza se vai almoçar amanhã, ou seja, ainda se encontra
mergulhada na pobreza. É muita gente.
Sem dúvida, essa população emergente, com seu desejo de
continuar a consumir e seu foco no progresso pessoal, é um sintoma de que o
Brasil está melhorando.
Conhecer este fenômeno é, portanto, fundamental para
entender o futuro do Brasil. Quem são essas pessoas? Como melhoraram de vida?
Que impacto podem provocar? Quais desafios trazem para o país?
A população brasileira aumentou, mudou do ponto de vista
educacional, e atravessou uma revolução demográfica que reduziu o tamanho da
família. Essa dinâmica cria a possibilidade de expansão da economia, movimenta
o mercado interno e põe mais gente no elevador social.
Todavia, é importante compreender que a expansão da classe
média e a redução da desigualdade de renda não é fenômeno ocorrido apenas no
Brasil. Ele vem ocorrendo simultaneamente - e de forma acelerada - em todas as
economias emergentes (o tal BRICS), sobretudo na China e na Índia.
A explosão da classe média, no mundo, teve início há cerca
de dez anos, ainda não atingiu seu pico e, se a crise mundial deixar, deve
durar pelo menos mais dez anos. Um estudo recente do banco de investimento
Goldman Sachs - intitulado “O Meio que Cresce” - estima que, até 2030, 2
bilhões de pessoas terão se juntado à “classe média mundial”, conceito que,
para o Goldman Sachs, inclui pessoas (e não famílias) com “rendimento pessoal
mensal” entre US$ 500 e US$ 2.500 (no Brasil isso seria entre R$900,00 e R$4.500,00).
Atentos! Aqui no patropi, há uma tendência de forçar a barra
para construir um novo “conceito técnico”, a partir da “renda familiar” de
R$1.500,00 em diante, aliada ao endividamento no médio prazo; redesenhando o
perfil dos consumidores de bens e serviços, e tentando fazer acreditar - quase
irresponsavelmente - que a economia vai continuar em crescimento contínuo e sem
crise ad perpetuam. Como se isso fosse possível.
Um parêntesis para uma observação sociológica.
O homem orienta-se pela busca permanente da felicidade. A
exigência para o seu porvir é alimentada por uma aspiração em nível cada vez
mais alto. O que lhe é possível, hoje, e o que poderá lhe advir como um futuro
melhor passa a ser o alvo de sua luta por uma vida melhor; produzindo paradoxalmente
uma insatisfação crescente, a qual pode se transformar em lutas e bandeiras
políticas.
Agora, estas pessoas querem mais do que comida; querem
saúde, educação, segurança e transporte de qualidade. Isso explica em parte as
manifestações de junho de 2013. A ascensão social subiu o nível de exigência e
aspiração de milhões de brasileiros.
Por outro lado, é palpável a evanescência de muitos outrora
importantes movimentos sociais (como o de mulheres, por exemplo). É visível o
declínio da força do sindicalismo, como consequência do novo padrão de
acumulação do sistema e do desaparecimento de postos de trabalho e profissões,
por força da automação.
Preocupa-me também a tentativa governamental de censurar ou
desqualificar o papel da imprensa e da internet enquanto pilares da Democracia,
em meio a generalizada sensação de impunidade.
É igualmente muito preocupante a despolitização das novas
gerações, às voltas com o consumismo e com um individualismo estéril, terreno
fértil e perigoso para as manipulações de todos os tipos.
Para concluir, é possível afirmar que o principal adversário
da presidente Dilma, em sua luta para a reeleição, é a soma de problemas de
nossa economia: inflação em alta, juros apontando pra cima, endividamento das
famílias, crescimento pífio, rebaixamento pelas agências de risco e sinal de
alerta no seio dos investidores (como reação à desconfiança política em relação
ao PT governo).
O eleitor vai votar considerando seu bolso; e as urnas podem
apontar para a alternância no poder.
Faz parte do jogo democrático.
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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