sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Nem FHC, nem Lula


(*) Rinaldo Barros
Espero encontrar o seu coração cheio de amor pelo Brasil. O momento presente exige.
Entendo que somos seres sociais, compartilhamos visões sociais de mundo que orientam práticas sociais. Mas, ilude-se - ou intenta iludir os outros - quem imagina-se neutro.
A neutralidade é uma forma de legitimação do sistema de dominação e mascara interesses declarados ou inconfessos. Como ensina Maurício Tragtenberg, “a ideologia do acadêmico é não ter nenhuma ideologia, ele faz fé de apolítico, servindo assim à política do poder”.
 Por outro lado, é preciso diferenciar “política partidária” e “Política”.
A primeira é restrita e se refere à política institucional, eleitoral, cujo locus preferencial é o Estado; a segunda, é mais abrangente e diz respeito à vida em sociedade para além das instituições vinculadas ao Estado; é a sociedade civil, onde é construída a cidadania.
O cidadão pode declarar-se apartidário e apolítico. Mas, isto não lhe retira a qualidade de ser um ente social e político. Lato sensu, é impossível não ser político (a). Aristóteles (384 a.C - 322 a.C) ensinou que “o homem é um animal político”. Até porque a omissão é também uma posição política. A pior delas.
Ninguém pode ser politicamente neutro. Você pode decidir ser omisso, neutro é impossível.
Atualmente, uma intervenção política de todos os cidadãos é inevitável, para evitar a ruína da nação.
Caro leitor, peço que abra sua mente e raciocine observando fatos, sem emoção ideológica-partidária.
Vamos abordar fatos de nossa história recente, para desmistificar e construir um clima de objetividade no tratamento de algumas questões. Vamos aos fatos.
Quando FHC estava na presidência o mundo tinha acabado de sair da Guerra Fria, a economia mundial encontrava-se instável, a Globalização estava se consolidando. O meio técnico-científico-informacional ainda estava se concretizando. Tivemos o primeiro contato com o Mundo Uni-multipolar, uma verdadeira Nova (Des) Ordem Mundial e isso afetou diretamente o Brasil.
Não cometa o equívoco de comparar os governos de FHC e o de Lula apenas olhando os personagens. Antes, analise as situações do Brasil e do mundo na época de cada um, observe a conjuntura e os fatores que determinaram as diferenças entre os dois governos.
Lula não foi ótimo. FHC não foi péssimo. Ambos foram bons. Ambos acertaram e erraram.
Cada um teve o Brasil nas mãos em momentos diferentes.
Lula só teve um governo que as pessoas admiram porque - no governo Itamar - FHC estabilizou a moeda do Brasil e controlou a inflação. Construiu, em equipe, com o Plano Real, um alicerce sólido na economia.
Quanto as privatizações, qualquer presidente brasileiro na década de 1990 teria feito exatamente a mesma coisa, pois deveria seguir a cartilha do neoliberalismo americano. Ou isso, ou sofreria embargos e estagnação econômica. Os EUA exigiam que os aliados entrassem no mundo globalizado.
As ações de estabilidade e crescimento de FHC para o Brasil foram de médio prazo. Por exemplo, se FHC não houvesse privatizado a telefonia, nós ainda estaríamos usando orelhões. Lembram dos orelhões?
O Bolsa Família, que substituiu o Fome Zero, é resultado da unificação e ampliação de ações semelhantes do governo FHC. Um gesto largo (?) do Lula, que reconheceu o seu alcance social e político.
Atentos! O progresso brasileiro recente, o crescimento de nossa economia e a melhoria de nossa qualidade de vida foi fruto da competição entre os diversos setores da economia, e do avanço das forças produtivas, da inovação, e das novas tecnologias. Não foi ação do governo federal, nem de FHC nem de Lula.
FHC e Lula, o príncipe e o sapo, já entraram para a história. São personagens.
E, por fim, na conjuntura atual (de crise) do Brasil e do mundo, um novo Governo deve ter a chance de cuidar do que o PT não foi capaz. Alternar o Poder é imprescindível para fortalecer a Democracia, com uma sociedade mais inclusiva, tolerante, marcada por melhores condições de vida e índices menores de criminalidade; na qual as “bolsas” e “cotas” sejam trocadas por salários dignos e empreendedorismo.
O Brasil precisa de uma economia baseada no desenvolvimentismo, fortalecendo a infraestrutura e incentivando os setores produtivos; em lugar da especulação financeira. Com foco no futuro.
Mais do que isso, é urgente resgatar a educação como uma tarefa sagrada: construir ensino público que abra para o país as portas do futuro com desenvolvimento sustentável, com a conquista da classe média para a escola pública, como fiadora de sua qualidade; enfim, promover uma força de trabalho qualificada e consciente de que o capital humano é um poderoso motor do desenvolvimento.
Para construir seu futuro, o Brasil precisa que um novo reencantamento de esperança se faça vida.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica..com

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