Tomislav
R. Femenick
Contador, Mestre em Economia e Historiador
O
próximo presidente da República, ele ou ela, terá muitos, imensuráveis,
problemas pela frente. Convenhamos, não é fácil administrar um país com tantas
diversidades como o nosso. Somos complicados, como complicados são os países
com extensão que mais parecem continentes. A nossa terra tem regiões com
características totalmente diferentes. A exuberância da floresta amazônica contrasta
com o raquitismo da caatinga nordestina; as noites frias do inverno de Santa
Catarina e das serras gaúchas são um contraponto para o calor escaldante de
Cuiabá e do Piauí, no período de verão; às vezes temos, ao mesmo tempo, seca no
Nordeste e em São Paulo e enchentes no Norte e Centro Oeste.
Se
assim é nossa geografia, mais complicada ainda é nossa composição como nação. Tomemos
como exemplos o matuto nordestino e o caipira mineiro ou paulista. Ambos têm em
comum o viver no campo, a pouca instrução, o recato social e a desconfiança
para com os moradores das cidades. No entanto suas personalidades, se
analisadas de perto, evidenciam mais diferenças que igualdade. O matuto é mais
extrovertido, canta emboladas, dança maracatu e se comunica pela poesia dos cordéis.
O caipira é reservado, introvertido e só se faz ver pela música cantada em
duplas.
É...
não é tarefa para principiantes governar toda essa terra e toda essa gente.
Não
bastassem os problemas naturais – a formação da terra e do povo brasileiros –, há
o descontrole dos atos governamentais que criam entraves ao desenvolvimento. A
agricultura produz alimentos e grãos, mas não tem como escoar sua produção.
Faltam estradas, trens e portos, que são poucos. A indústria sofre com esse
mesmo caos viário, com a concorrência dos importados subsidiados em seus países
de origem, os tributos em cascata, as altas taxas de juros, a burocracia
estafante, o desinteresse dos burocratas e a enxurrada regulatória que cria
jabuticabas artificiais (coisas que só existem no Brasil): a tomada de três
pinos, a cópia autenticada e o reconhecimento de firma.
Nas
bastasse tudo isso, vivemos o ressurgimento da inflação, que corroí os salários
e o valor das mercadorias se não reajustadas; resultado, alta dos preços. Nesse
cenário é difícil produzir, crescer e fazer o desenvolvimento.
Todas
essas excentricidades e a excessiva interferência governamental têm reflexo
direto na economia e geram os “pibinhos” ridículos e ameaça de déficit na
balança comercial, com reflexo na balança de pagamento. Temos, ainda, gargalos fiscais,
tributários, creditícios, fundiários, comerciais, tecnológicos, trabalhistas,
previdenciários, financeiros, ambientais e organizacionais, ente outros.
O
futuro presidente – o novo ou a que continuará, não importa quem – terá que
enfrentar tudo isso e mais o inevitável reajuste dos preços dos derivados de
petróleo, da energia elétrica, das matérias-primas e dos produtos de consumo
importados, o que afetará o poder de compra dos trabalhadores e da classe
média.
Junte-se
a isso a imobilidade dos governos de todos os níveis. Obras se iniciam e param.
Em todo o país há centenas de esqueletos de hospitais cujas construções foram
paralisadas. As obras de ferrovias, de portos, da transposição do Rio São
Francisco, das refinarias de petróleo, anunciadas com estardalhaço, andam com
passos de cágados ou foram abandonadas; muitas nem saíram do papel. O
ressurgimento da indústria naval foi abortado, a indústria automobilística dá
férias coletivas, lança mão de “bancos de horas”; no geral o setor já
desempregou milhares de operários. No campo há as invasões, as frustrações de
safra, a evasão de mão de obra, os altos custos dos fertilizantes e dos
defensivos.
Essa
será a herança que receberá o novo governante dos brasileiros.
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