Tomislav R. Femenick
Contador, Mestre em Economia
e Historiador
Uma pergunta que
ultimamente me tenho feito é esta: quem vai governar o Brasil nos próximos
meses? A Dilma que na campanha política prometeu mundo e fundos de bondades ou
a presidente que herda dela mesmo um país com a economia em frangalhos? Sim,
porque o panorama não está nada bom e desta vez a herança é maldita mesmo.
Teremos a doçura da Branca de Neve ou a carga de maldades da bruxa, sua
madrasta?
Vamos começar pela trindade
cujos preços foram represados no período pré-eleitoral: juros, derivados de
petróleo e energia elétrica. Os juros já subiram, o aumento do preço da energia
(em torno de 20%) já foi autorizado para o Rio de Janeiro e outros Estados e
logo-logo atingirá todo o país e, finalmente, o aumento do preço da gasolina e
do diesel já foi autorizado. Tudo isso leva ao crescimento dos custos de
produção na agricultura, na indústria e no comércio que, fatalmente, serão
repassados aos consumidores. O resultado será uma inflação muito maior que a
anunciada pelo governo. E quem vai pagar o pato é o povo.
Mais há outras nuvens
negras no horizonte. As contas do governo federal estão no vermelho. De janeiro
a setembro a diferença acumulada entre o total da arrecadação e os
gastos ficou negativa em R$ 15,7 bilhões, o pior rombo da história recente da
República. Para cobri-lo o governo Dilma terá que aumentar o endividamento
público, tomando dinheiro no mercado financeiro, forçando novas altas dos
juros, o que provocará mais inflação. A outras opção seria recorrer às reservas
internacionais. Mas ai também há problemas. Em outubro a balança comercial
(exportações menos importações) apresentou o pior resultado desde 1998, o que
elevou o saldo negativo acumulado no ano
para US$ 1,871 bilhão.
Uma
característica do governo federal tem sido recorrer a métodos não ortodoxos
para registrar suas contas, inventando uma “contabilidade criativa” que esconde
os resultados que não lhes sejam favoráveis. Mas, contra a realidade, não há criatividade
que resista por muito tempo.
Fora dos
palanques de reeleição, a presidente Dilma terá que tomar medidas amargas se
não quiser que sua gestão desande de vez. Certamente não é por vontade própria
da “gerente competente” que o retrato do seu governo se destaca por obras
inacabadas, por promessas não cumpridas: a construção das hidroelétricas em
passo de cágado, a transposição do Rio São Francisco e as construções de
ferrovias desaceleradas, as creches e as moradias populares (ótimas
iniciativas) em número bem menor do que o prometido, a revitalização da
indústria naval abortada, por todo o país há esqueletos de obras inacabadas e o
trem-bala morreu de morte natural.
Por essas e
outras é que o governo escondeu os dados do IPEA-Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, órgão ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, e só agora, passadas as eleições, é que divulgou o
aumento do numero de brasileiros em condições de miséria. No ano passado existiam
10,08 milhões de miseráveis, 370 mil a mais que no ano anterior. Esses
10.080.000 de brasileiros são aqueles que ganham até R$ 77,00 por mês.
Divulgar
esses fatos não é “canto de Cassandra”. É alertar a sociedade para o que pode
acontecer. Leiam bem, “o que pode acontecer”. Nós economistas não temos bola de cristal e não
tentamos fazer adivinhações sobre o futuro. Não acreditamos em leitura da
sorte nas linhas das mãos ou nas cartas de tarô, não jogamos búzios e não somos
profetas, pitonisas ou adivinhos de qualquer espécie. Nós apenas aprendemos a
ler as estatísticas e os
indicadores e a evidenciar vieses e tendências do comportamento das organizações e da sociedade.
Não temos culpa quando o céu está escuro e nem temos o credito pelas cores do
arco-íris.
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