segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Administração não rima com emoção


                                    Tomislav R. Femenick 
                                    Contador
                                    Mestre em Economia e sócio do IHGRN.

No início dos anos 1970 tomei conhecimento de um dos grandes livros escritos no século XX e que bem retrata a alma do povo brasileiro. Trata-se de “Tristes Trópicos”, do pesquisador francês Claude Lévi-Strauss, que é considerado o pai da antropologia moderna. É um relato de suas viagens pelo interior do Brasil, realizadas nos anos 1930, quando o jovem professor veio ao nosso país para lecionar na recém-criada Universidade de São Paulo. O livro, em edição francesa, estava sendo lido pelo meu padrasto, Xavier Vieira, um poliglota, jurista, matemático, filósofo, teólogo e poeta, uma das maiores culturas que conheci, porém acomodado em um alto cargo do Banco do Brasil, na capital paulista.
            Mas o que importa é o livro e voltemos a ele. Na sua obra, por vias indiretas Lévi-Strauss descreve a alma do nosso povo. Seriamos uma nação ciclotímica, ao mesmo tempo triste e alegre, cordata e que se envolver em disputa; um padrão de personalidade caracterizado por períodos de excitação e euforia, que se alternam com tristeza e inatividade.
            Esse grande livro veio-me a mente quando recentemente me detive sobre a maneira como os homens públicos e os executivos da iniciativa privada dirigem o país: com a emoção e não com a razão. Essa maneira de ser de nós brasileiros nos mais das vezes nos leva a situações de desconforto, se não desastradas. A nossa história recente está cheia de exemplos: o golpe de 1964 foi consequência de um movimento para garantir a democracia e terminou em uma ditadura, a eleição de Collor foi contra os marajás e derivou para o esquema de P. C. Farias, a CPI da Petrobras foi instituída para evidenciar os escândalos na estatal e culminou na inocência de todo mundo, o iluminado Eike Batista era na verdade um tremendo apagão, a presidente da República trata seus ministros e outros altos escalões do governo como se fossem seus capatazes – e elegem os que ela gosta e os que deles desgosta. Exemplos desse nosso procedimento errático há muitos.
            O pior de tudo é quando esse estado de coisa impera na iniciativa privada. Muitos dirigentes de empresas tratam suas organizações como se fossem feudos. Sua maneira de se relacionar com os outros executivos e empregados são como se eles fossem simples agregados à sua Casa Grande, numa atitudes de prepotência, desrespeito e arrogância que espalha clima de medo e receio de perda de cargo ou de emprego. Esse tipo de liderança é o mais deletério que se pode ter no cenário empresarial, pois inibe o poder criativo que todas as pessoas têm e, sem criatividade, a empresa estagna no tempo, na sua qualidade e no seu poder de competitividade, dando vez a que os concorrentes ocupem todo o mercado.
            Porém não se deve confundir as coisas. Os dirigentes empresariais devem sim tomar atitudes firmes na condução de seus negócios. Cobrar desempenho, cumprimento de metas em prazos certo; cobrar resultados. Ai é que está o problema: a maneira de agir é que faz a diferença. Como fazer as cobranças, como impor os procedimentos corretos sem incorrer no erro da impropriedade?
            A meta principal de toda organização mercantil é ser economicamente produtiva, moderna e socialmente viável. As pressões são necessárias para se atingir esse alvo, porém as empresas “são construídas com base na confiança, que, por sua vez, é construída com base na comunicação e na compreensão mútua”, como diz Peter Drucker, um dos papas da moderna administração de empresas.
            Como compreensão mútua não se consegue na base do grito, há que se administrar com a razão e não com a emoção.


Tribuna do Norte. Natal, 14 dez. 2014.

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