“No campo da ética, houve uma grande decepção com o PT” (Dom
Raymundo Damasceno, presidente da CNBB)
(*) Rinaldo Barros
A conversa de hoje foi inspirada na obra do psiquiatra e
escritor Içami Tiba, autor de 22 livros sobre a questão educacional. As ideias
do mestre Tiba deveriam tornar-se paradigmas para a reconstrução do sistema
educacional brasileiro. Compartilho algumas reflexões.
Lembra o professor Tiba que a educação no Brasil ficou muito
tempo em torno do seu próprio umbigo, sem se dar conta do quanto estava se
tornando obsoleta em relação ao mercado de trabalho e ao mundo. É incrível como
as ideias resistem à mudança, em que pese a velocidade com que o mundo está se
transformando à nossa volta.
Dizem que é errando que se aprende. Mas a educação errou
tanto e por tanto tempo e não aprendeu. Isso porque simplesmente manteve o erro
em vez de corrigi-lo. A passividade do continuísmo do insatisfatório levou o
Brasil ao que estamos reduzidos hoje: somos um dos últimos classificados do
mundo no ranking da educação escolar, apesar de o nosso PIB (em queda) estar
entre os dez maiores do mundo.
O Brasil está mais rico, todavia, longe de ser “pátria
educadora”; seu povo não está educado.
Ultimamente os professores têm sido responsabilizados pelos
pais para educarem os seus filhos, numa sobrecarga que não lhes compete.
Cobra-se também uma educação perfeita, sem material necessário para formação
atualizada, sem valorização pessoal, sem salário compatível com a sua
importância na construção de uma sociedade saudável.
Quase ninguém quer mais ser professor no Brasil, professores
competentes abandonam suas carreiras para poderem sobreviver financeiramente.
E, perigosamente, corremos o sério risco de um apagão educacional. Quase nenhum
jovem aspira ser professor no patropi.
Como diz o senador Cristovam Buarque, ex-ministro da
Educação, educacionista é a pessoa que acredita na educação como um dos pilares
da recuperação do Brasil. Todos os professores deveriam despertar o
educacionismo profundamente adormecido dentro de si, ou até mesmo recuperá-lo
do coma que entrou por tanto descaso que sofreu.
Como educacionista, estou convicto de que é fundamental
compreender a questão educacional como parte de um Projeto civilizatório de
Nação e, sendo este um compromisso histórico, é urgente partir para o
enfrentamento das contradições que impedem a redução da desigualdade histórica
e cultural em nossa sociedade, expondo sua diversidade enriquecedora,
mobilizando as vanguardas intelectuais de toda a sociedade civil e todos os
níveis de poder, a partir da defesa de uma bandeira política, como uma ação
programática, propondo um novo pacto federativo que reduza as desigualdades à
luz da equidade, um novo projeto político-pedagógico para o Brasil, e realizar
amplo debate nacional.
A história nos revela que nunca houve no Brasil um projeto
de Estado para a Educação que levasse em conta uma mudança imperiosa de
paradigma, simultaneamente, econômico e educacional; lacuna que nos tem
desviado do objetivo maior de transformação da sociedade a partir daquilo que a
Educação oferece de mais fundamental e precioso: a formação e o desenvolvimento
físico, intelectual e moral do ser humano.
É importante repetir que, a meu ver, a Educação não pode ser
um projeto de governo ou um projeto de partido, mas um projeto da sociedade, um
projeto de Nação.
É imprescindível questionar os princípios que regem os
processos formativos em nossa sociedade, à luz da igualdade de condições e
oportunidades, respeito à liberdade, pluralismo de ideias e concepções,
universalização e federalização do ensino fundamental e médio, valorização da
escola e resgate moral do papel do professor, gestão democrática, supremacia da
ética no convívio social, garantia de qualidade e vinculação da escola ao mundo
do trabalho, da ciência, da cultura e da vida social.
Por fim, entendo que a construção de um estilo de vida
urbano moderno na sociedade brasileira, pela prática de um novo projeto
político-pedagógico, ainda é uma história a ser escrita a muitas cabeças e
mãos, para que superemos a peculiaridade atual das práticas urbanas e
resgatemos o indispensável papel da Educação dentro delas. Vamos precisar de
todo mundo.
O Brasil somente será salvo pela Educação universal de
qualidade; até porque já estamos perto da anomia (governo sem credibilidade e
sem rumo), caldo de cultura para o surgimento da barbárie.
A única saída é o Educacionismo. Oxalá, e esse é o maior dos
oxalás, esse sonho se torne vida!
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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