quarta-feira, 18 de maio de 2016

NOSSA TÃO GRANDE CULPA


Estamos vivenciando o começo do fim de uma das mais dolorosas crises políticas do Brasil. Pergunto: tal desfecho será motivo para comemorações? Acredito, que não! Entendo que este seja um momento para reflexões e avaliações.
Afinal, não é novidade para ninguém, que os verdadeiros culpados por esse conflito podem ser identificados a qualquer instante, em quaisquer dos quadrantes do país. Basta pararmos diante de um espelho para ficarmos cara a cara com o dito. Isto mesmo: nós, o povo brasileiro, somos os culpados. Nós, eleitores. Nós, cidadãos tolerantes, coniventes e propensos a cometer pequenos delitos.bd
Escrevi este texto após reler um artigo de João Ubaldo Ribeiro, denominado Precisa-se de matéria-prima para construir um país, publicado no Jornal do Meio Ambiente, em 14 de novembro de 2005. O que o autor externou ali, dez anos atrás, está tão atualizado, que chega a doer de revolta por nada haver mudado.
Ele procurou explicar que, nós, a matéria-prima do país, permanecemos a mesma matéria desqualificada para ajeitar ou dar um rumo melhor à nação. Isso porque ainda subornamos o policial quando infringimos leis de trânsito, adulteramos o Imposto de Renda para tungar o erário, instalamos gatos para furtar água e energia elétrica, apresentamos atestados médicos sem estarmos doentes e comprovamos despesas inexistentes com notas fiscais fraudadas.
Gozando de boa saúde, ocupamos vagas de idosos e inválidos em estacionamentos públicos. Orgulhamo-nos do jeitinho brasileiro de ser e da esperteza descabida. Exaltamos o enriquecimento fácil, porque tal prática denota senso de oportunidade. Praticamos os fundamentos da Lei de Gerson, porque querer levar vantagem em tudo é astúcia, e não malandragem. Na maior desfaçatez, participamos de concursos públicos ou entrevistas de empregos com certidões falsificadas.
Na concepção da matéria-prima brasileira, a falta de pontualidade é charme, e não falta de educação. Saquear cargas de veículos acidentados é tirar partido, e não furto. Destruir patrimônio público é protesto, e não burrice criminosa.
É duro afirmar, mas é essa mesma matéria-prima contaminada, que elege presidentes da República e parlamentares para o Congresso Nacional. Temos autoridade suficiente para cobrar-lhes integridade, retidão, honestidade e ética em suas ações? Não será uma incoerência reclamar-lhes dos erros cometidos?
Acusar o governo é nos acusar, pois ele é o retrato fiel do povo, moldado à imagem e semelhança da matéria-prima que o elegeu. Ao denegrir o parlamentar amoral estamos desvalorizando a nós mesmos. Afinal, eles são o nosso prolongamento, e guardam as mesmas falhas que nos forjaram. Procurando esconder o sol com uma peneira, perguntamos inocentemente: cadê nossa tão grande culpa?
Mudar é fundamental, porque urge deixarmos o descaso de lado para eliminarmos vícios corriqueiros e perniciosos. Devemos realinhar a postura de como conviver em sociedade, tendo a noção exata do que seja civismo e dignidade; focar no direito de votar com seriedade, para conseguir um parlamento operoso; e, cortarmos os nacos podres da política para sanearmos o atual panorama sombrio e asqueroso, dando um basta ao pesadelo de final incerto que tanto nos angustia.
Sendo otimistas, se começarmos a exercitar tais práticas a partir de agora, talvez construamos uma nação melhor para nossos bisnetos. Da qual se ufanem de pertencer, e ao socar o peito estufado de orgulho, exclamem: sou brasileiro, sim, senhor!

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