quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A CULTURA DO FUTEBOL - FLÁVIO RESENDE

DE FUTEBOL, FRASQUEIRA E ALEGRIA DE VIVER.
Por Flávio Rezende*

Sou apaixonado pela vida. Aos poucos fui descobrindo as delícias e os prazeres desta passagem pelo plano material. Amo a natureza, o cantar dos passarinhos, a imensidão do mar, as paisagens e o vento balançando as árvores. Gosto igualmente das pessoas, caminho e desejo amor para todo o universo, num exercício muito agradável e que me causa extremo contentamento. Penso diariamente num mundo melhor, fico feliz e choro ao ver gestos do bem, pessoas ajudando pessoas, salvando animais, fazendo algo pelos semelhantes.
Dentro deste espírito de se apaixonar pela vida, está inserido também o amor pelo futebol. Em tempos mais pretéritos, fui um torcedor assíduo do ABC, chegando num tempo, a ter a maior bandeira do time. Era a época de Maranhão, Danilo Menezes, Alberi, Sabará, Preta, Morais, Jorge Demolidor e tantos outros que "endoidavam" os rubros e extasiavam os alvinegros. Ótimos tempos.
Depois o apetite futebolístico diminuiu e fiquei freqüentando esporadicamente o templo das quatro linhas até que, meu filho Gabriel Kalki, chegou à idade de 6 anos e, decidi introduzi-lo no mundo dos espetáculos da pelota, numa jogada para mim inteligente, já que, certamente, sua atenção no futuro também será tentada por outras jogadas, que travestidas de prazer, podem vir a serem verdadeiras drogas, que levem sua preciosa vida, para o córner ou o impedimento do perfeito viver.
E a tática deu certo. Ele é hoje, um apaixonado e educado torcedor do ABC, do Flamengo e do São Paulo e eu, voltei a ver no futebol, um dos doces da vida, me embriagando com o açúcar da vitória e ficando feliz com tudo relacionado a esta arte em pernas driblantes e balé de corpos em movimentos acelerados com objetivos iguais: acertar o interior das redes e, com prazer, faze-las balançar.
E por falar em alegria de viver e futebol, ontem fui mais uma vez ao Frasqueirão. Chovia. Ai olhando a torcida e ouvindo alguns comentários pelo rádio, tive algumas percepções. Desde que comecei a torcer pelo ABC que todo mundo elogia a torcida, chamada de "Frasqueira". Os comentários revelam a força e a disposição dos alvinegros, mas percebi que na hora do planejamento dos estádios, templo dos jogos e casa dos seus torcedores, a torcida, a fiel torcida, formada sempre por pessoas mais humildes, pelo chamado "povão", que sendo a alma do time, não tem o devido tratamento que merece. Tanto no estádio do ABC, como no da prefeitura, o lugar reservado para a torcida do ABC, é sempre o que pega sol de frente. No caso do "Frasqueirão", além de sol, não tem cobertura. O mesmo não acontece para quem fica nas cadeiras, lugar das pessoas de mais posses. Ali se senta em cadeiras boas, tem cobertura e em dias de sol é o lado da sombra.
Se a 'Frasqueira" é a alma do ABC, é quem dá vida ao time, acredito que o estádio deveria ter sido planejado para beneficiá-la. Acredito ainda que se não esteja planejada uma cobertura no futuro, que se comece a pensar nisso. É desrespeitoso e hipócrita elogiar aos quatro cantos o amor da torcida e, deixa-la entregue as chuvas e ao sol. Reivindico ainda a colocação de cadeiras, como nas especiais e, que sempre que algo for pensado, planejado, que na mesa, nas mentes e nas ações, esteja sempre e prioritariamente o conforto dos mais humildes, pois são eles, os torcedores que formam o que resumem em "povão", que precisam de prestígio, de amor e carinho por parte dos dirigentes.
Nós ricos, que já vivemos dormindo em quartos maravilhosos, com ar-condicionado, que vamos de carro para os estádios e lanchamos sempre nos intervalos, além de termos sempre nossos MP3 com AM, FM e celulares para trocar mensagens chiando com os amigos, podemos sim, ficar no sol e sem proteção, pois sei, temos sempre sobrando para bonés e guarda-chuvas.
A história nos revela o favorecimento das classes mais abastadas e as péssimas condições de moradia e lazer para as pessoas menos favorecidas, mas sei também que a história muda e, que os tempos, os novos tempos, pedem mais justiça social e solidariedade humana.

É escritor e jornalista em Natal/RN ( flavioldrezende@gmail.com)

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