terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um busto para Othoniel Menezes - por Laélio Ferreira de Melo

Othoniel nunca foi chegado a homenagens, igrejinhas, sodalícios e silogeus. Nunca sonhou com estátuas e/ou bustos em praça pública (v. abaixo). Era um homem encaramujado, amigo dos amigos, cioso do seu valor, culto, probo e pobre. Chegou até, há poucos dias – eureca! -, a merecer a honrosa classificação de “bom poeta” – conclusão a que chegou, depois de noites de sono, calculo, um importantíssimo acadêmico conterrâneo, de sapiência interplanetária, currículo a toda prova! Merecia um bronze (Eri Medeiros) e eu o tenho, pago às minhas custas. Só não vou entregá-lo, de mão beijada, à Prefeitura da Capital, Deus me livre! Bastou-me a sujeira (v. abaixo) que fizeram Carlos Eduardo e Dácio Galvão lá pelo Canto do Mangue. E eu não tinha pedido nada. Se não foi Exupèry, pra que, pois, Othoniel?!

Por enquanto, só posso garantir que a efígie do Poeta no metal descansará “à margem verde” do “Potengi amado”, voltada para o poente, recebendo o terral das tardes, sem “nortadas e cerrações”...
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“Filho de Othoniel Menezes aprova homenagem ao poeta na Praça Pôr-do-Sol

Segunda-feira, 11/02/2008 às 18h11

(http://www.nominuto.com/vida/cultura/filho-de-othoniel-menezes-aprova-homenagem-ao-poeta-na-praca-por-do-sol/11826/)

Para Laélio Ferreira, presença de Saint-Exupéry em Natal é um factóide.

Por Alexis Peixoto

O poeta Othoniel Menezes em uma de suas últimas fotos, no final da década de 60.

Após consultar alguns historiadores e especialistas, a Prefeitura de Natal decidiu acabar com a polêmica em relação à homenagem feita ao escritor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, na Praça Pôr-do-Sol, recém-inaugurada no Canto do Mangue. Uma vez que não existem provas concretas da presença de Exupéry em Natal, a estátua do francês será substituída por outra do poeta Othoniel Menezes.

Recém-chegado de viagem, o filho do poeta foi pego de surpresa com a notícia. "Estava de viagem pela Europa e só fiquei sabendo da homenagem e dessa polêmica toda em relação à estátua de Exupéry ontem [domingo]", disse Laélio Ferreira.Apesar da surpresa, a notícia foi bem recebida pela família."Considero a homenagem muito justa. Papai foi um poeta ligado à cidade, cantou o Potengi e é autor da Canção Tradicional da Cidade", diz, referindo-se ao poema "Serenata dos Pescadores - Praieira", musicado por Eduardo Medeiros. "Acredito que posso falar em nome de toda a família, quando digo que estamos todos muito felizes com a homenagem".Em relação à presença de Saint-Exupéry na cidade e à relevância de uma homenagem neste sentido, Laélio Ferreira se mostra cético. "Isso é um factóide. Não existe registro concreto da presença dele aqui. Não estou afirmando que ele não tenha vindo a Natal, ele pode até ter passado por aqui rapidamente. Mas, nada que justifique uma homenagem. Faz muito mais sentido homenagear um natalense, ao invés de um aviador francês, desconhecido não só dos moradores da área onda a praça está localizada, mas também da maior parte da população da cidade", argumenta. Para que a homenagem fique ainda mais completa, Ferreira pretende sugerir à Prefeitura que seja construída outra estátua ao lado da do poeta Othoniel Menezes, representando o compositor Eduardo Medeiros. "Eduardo Medeiros foi parceiro de meu pai, foi ele quem musicou os versos de "A Praieira". Acredito que ele mereça também uma homenagem. E além do mais, ele foi morador das Rocas, é uma figura conhecida e muito admirada naquela região. Tem tudo a ver", afirma.”

Othoniel Menezes, no “Sertão de Espinho e de Flor”, “falando” em nome de Ferreira Itajubá:

–”A terra onde tenho o nome,
mata os poetas – de fome.
Profeta, nenhum se viu...
A parábola de Cristo
não teve melhor registo,
mais dura não se cumpriu!

“Moura-torta (7) de poetas!
Em minha vida, completas
o que fizeste aos demais!
Não venhas, depois, no trilho
dos meus versos: – Ai, meu filho!–
carpir, (8) madrasta mendaz!(9)

És linda. Iara (10) morena,
pulando da água serena
do Potengi, (11) a cantar,
nua, à sombra dos coqueiros,
perfumada de cajueiros
– os seios furando o mar...(12)

–Jamais quiseste, entretanto,
ouvir o amoroso canto
de um filho. Formosa e cruel,
à míngua os matas. E, calma,
lhes negas tivessem alma.
És mãe – como a cascavel...(13)

Porventura, alguma estátua
já ergueste, cabocla fátua,(14)
a quem fosse meu irmão?
Se a políticos se faça,
quando farás, e em que praça,
a de Alberto Maranhão?(15)

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Notas de Laélio Ferreira:

(7) Entidade fantástica do folclore português, personagem mourisca malfazeja, o oposto da moura-encantada.
(8) Arrancar (o cabelo) em sinal de dor. Tratar de, dizer, contar, exprimir, lamentando-se; queixar-se de; lamentar, chorar.
(9) Mentirosa, hipócrita, falsa. Traiçoeira, desleal, pérfida.
(10) Segundo Câmara Cascudo (Dicionário do Folclore Brasileiro – 9ª. Edição Global Editora), “Nome convencional e literário da mãe-d’água, iara, senhora”. A Enciclopédia Compacta Brasil – Larousse Cultural, Nova Cultura, 1995, define-a como “figura mitológica difundida entre os indígenas e caboclos após o século XVII, de aculturação provavelmente européia e tendo suas raízes nas sereias. Loira e muito bonita, a mãe-d’água atrai os pescadores, ou quem quer que se aproxime de rio ou praia à noite, e leva o pretendente a afogar-se em busca de diversão. Em algumas comunidades é reputada como protetora das águas e pescas. Sendo meio peixe e meio mulher, apresenta-se a pentear os cabelos, a cantar ou mesmo conversando com algum passante. Encantado e quase que sob efeito hipnótico, o pretenso parceiro mergulha nas profundezas da água, onde sufoca e morre”.
(11) “Rio em cuja margem direita está a cidade do Natal. O mesmo Rio Grande do Norte, dando nome à Capitania, Província e Estado. De poti-gi, rio dos camarões” (Luis da Câmara Cascudo, Nomes da Terra, Fundação José Augusto, 1968). A “iara morena” de OM, hoje em dia, não se arriscaria a mergulhar nas águas do rio – o “Potengi amado” da “Serenata do pescador” (Ver O cancioneiro de Othoniel Menezes, neste volume). O mito folclórico, hoje, não resistiria à poluição do curso d’água, altamente comprometido por culpa da administração pública e da ganância empresarial. Bela e pobre iara!
(12) O poeta construiu a imagem dos “seios furando o mar” levando em conta o forma semicircular do litoral natalense entre as Pontas de Genipabu (ao Norte) e a do Pinto (ao Sul).
(13) A cascavel (Crotalus durissus) é ovovivípara (animal cujo ovo é incubado no interior do organismo materno, sem se nutrir à custa desse organismo). Os ovos se rompem dentro da fêmea e nascem as cobrinhas formadas. Diz-se, no sertão, que a mãe cascavel pratica o infanticídio, matando e devorando (canibalismo) os filhotes que se aproximam do seu focinho.
(14) Estulta; néscia, tola, insensata.
(15) Quase oitenta anos depois, Alberto Maranhão continua sem um bronze em praça pública. Enquanto isso...
FONTE:WWW.OTEOREMADAFEIRA.BLOGSPOT.COM
BLOG DO ESCRITOR E POETA LÍVIO OLIVEIRA

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