Sangue, suor e muitas, muitas lágrimas
Estamos em meio a multidão, juntos somamos mais de dois milhões e duzentos mil braços brasileiros trabalhando para que os hospitais, os postos, as clínicas e casas de saúde não deixem de produzir saúde no Brasil, na sua maioria mães, esposas, donas do lar que são adicionadas entre os já citados pelo psicólogo social, Fernando Braga da Costa como “invisíveis públicos”, a menos que ocorra um erro humano, aí somos nós que surgimos na mídia, e não o sistema, os co-autores, afinal tem que haver um Cristo, um bode expiatório para ser imolado pelos pecados de todos, a nossa voz não se faz ecoar nos espaços constituidos como “nossos”, temos “o direito de permanecer calados, e tudo que dissermos pode ser usado contra nós” , aliás para uma minoria somos bem melhores quando se mantemos calados, quando dizemos apenas “sim senhor(a)”, se alienados, apolíticos, se indiferentes ao nosso papel como ser social, por aqui parece que reclamar direitos chega a ser ilegal ou imoral, algo digno de punição; em que era estamos? Em que e para que evoluimos? Alguém me oriente por favor! Será que estou desorientado no tempo e no espaço? Cadê a tão proclamada democracia?
Ocupamos os aproximadamente 30cm2 nos transportes coletivos, a nós de direito como a qualquer um pela passagem paga, seja dia, seja noite. Ao sair de casa ficam as mil recomendações, não levamos consigo a certeza do retorno no dia ainda em curso, ou no dia seguinte, e assim seguimos para mais um dia de labuta, enquanto deixamos no lar alguns sem o amparo dos nossos cuidados, carinhos, atenção,... se ateremos por longas horas a cuidar de outros independente de grau parentesco, de sexo, idade, religião,... esse é o nosso ofício, enquanto o ser humano encontra-se em seu estado mais frágil, talvez tenham eles mais necessidades. Não são poucas as oportunidades em que temos de enfrentar, além de tudo, um ambiente de trabalho sem provisão de materiais básicos, para desenvolvermos o ofício, falta a toalha de papel para secagem das mãos, do esparadrapo, do nº de pessoal adequado para se dar conta de toda demanda de atividades; incontáveis são as horas dos dias de lazer (feriados e fins de semana) que deixamos de curtir com os familiares em prol da assistência de outrem, elas nos seriam importantes para reativarmos as nossas energias positivas; também não temos dedos para contar os inúmeros conflitos que isso traz ao lar, as vezes chegamos até a acreditar que o trabalho é o melhor lugar para estarmos. A vida de um profissional Auxiliar e Técnico de Enfermagem chega a se resumir apenas em trabalho árduo, desumano, e na maioria das vezes trabalho irreconhecido. Quantas oportunidades em que na hora de descanço nos ofereceram apenas um chão e um colchão, esquecendo-se da cama, do lençol, do ventilador, do travesseiro, da proteção dos ruídos, das condições dignas em que deve dormir um trabalhador para que sejam recompostas as suas forças, suas esperanças, seus sonhos, infelizmente até a hora do descanso tem se tornado árdua, quando reclamamos de tudo isso há quem nos classifique de “revoltados”, “aéticos”, “agitadores”,... Reservaram inúmeros formulários para que relatemos tudo que se passa com o nosso assistido, criaram dezenas de programas de “Humanização”, esqueceram que o trabalhador é um ser humano, a semelhança entre quem assite e o assistido, não há formulário para que eu registre tudo o que ocorre com o meu corpo, a dor nas costas, as cefaléias, os picos hipertensivos, a dor nas pernas, as cólicas menstruais que se intensificam ao esforço físico, toda vez que tenho de mudar o enfermo daqui para ali, o cansaço, a fadiga, o aumento do peso corpóreo, e na minha mente, a perda da personalidade, o sentimento de exclusão, as preocupações, o medo de errar, a saudade dos colegas de plantão, hoje muitos estão inválidos, amanhã quem será? os inúmeros problemas que são listados, todavia quando recebo ligações telefônicas originadas do meu lar, a tarefa de casa que terei de ensinar ao(s) meu filho(s), isso se retornar ao lar em tempo hábil para ensiná-lo(s), os afazeres domésticos, o desejo de estar no meu leito, as contas para quitar,...
As condições de trabalho vividas pelo Auxiliar e Técnico de Enfermagem são descritas por diversos autores além da má remuneração, como péssimas e/ou as piores do Brasil, a sobrecarga de trabalho e responsabilidade desafiam os limites humanos, há um enorme número de conflitos no seu lar, muitos divórcios, outros tantos acidentes de trabalho e de trânsito envolvendo esses profissionais, e muitas outras estatisticas que estão subnotificadas conforme alerta a literatura.
Viva a semana da Enfermagem! Viva?
ALEXANDRE PEDRO DA COSTA
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