domingo, 14 de agosto de 2011

POESIA DE CIRO JOSÉ TAVARES PARA O SEU PAI DR. JOSÉ TAVARES (IN MEMORIAN)





Dr. Ciro José Tavares




ÍTACA

Ciro José Tavares

Para José Tavares, meu pai

Aos domingos, Laertes, tuas mãos

madrugavam pulsos contando teu tempo

que sabias pendente por um fio.

Postas em conchas pareciam sustentar o tronco envelhecido.

Equilíbrio do corpo, quando apoiadas

nas sólidas paredes das salas solitárias

protegiam a visão mutilada, espantando a claridade.

Corriam acima de polidos móveis ancestrais,

buscando alcançar espaços fictícios,

na casa imersa no vazio intransponível.

Aos domingos, Laertes, tuas mãos, abençoadas,

moviam-se no andamento das berceuses,

eram aquietadas nos ocasos para vigiar noites e estrelas.

Seguravam a lupa docemente arrastando-te,

Mudo e sem receios ao paraíso do saber.

Aos domingos, Laertes, tuas mãos, ausentes.

Frágeis lembranças das vidas que salvaram,

ressurgem micênicas, insepultas.

Definitivamente pousadas no horizonte,

flutuam sagradas, acenando sobre a superfície do Egeu,

companheiras de Calipso, filhas de Minerva.

Aos domingos, Laertes, tuas mãos, além dos espaços

incompreensíveis, as extremidades mais próximas,

retornam, sem enigmas, para alimentar

Tróia, sitiando Ulisses de regressos.

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