ÍTACA
Ciro José Tavares
Para José Tavares, meu pai
Aos domingos, Laertes, tuas mãos
madrugavam pulsos contando teu tempo
que sabias pendente por um fio.
Postas em conchas pareciam sustentar o tronco envelhecido.
Equilíbrio do corpo, quando apoiadas
nas sólidas paredes das salas solitárias
protegiam a visão mutilada, espantando a claridade.
Corriam acima de polidos móveis ancestrais,
buscando alcançar espaços fictícios,
na casa imersa no vazio intransponível.
Aos domingos, Laertes, tuas mãos, abençoadas,
moviam-se no andamento das berceuses,
eram aquietadas nos ocasos para vigiar noites e estrelas.
Seguravam a lupa docemente arrastando-te,
Mudo e sem receios ao paraíso do saber.
Aos domingos, Laertes, tuas mãos, ausentes.
Frágeis lembranças das vidas que salvaram,
ressurgem micênicas, insepultas.
Definitivamente pousadas no horizonte,
flutuam sagradas, acenando sobre a superfície do Egeu,
companheiras de Calipso, filhas de Minerva.
Aos domingos, Laertes, tuas mãos, além dos espaços
incompreensíveis, as extremidades mais próximas,
retornam, sem enigmas, para alimentar
Tróia, sitiando Ulisses de regressos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Teremos o maior prazer em receber seu comentário.