Por Eduardo Gosson (*)
Viver é despedir-se – digo eu. “ Viver muito é
doloroso porque a gente vai enterrando
os outros” – diz o Mestre Oscar Niemayer. Essas duas citações vieram à mente depois que um ciclo
de mortes se abateu sobre a nossa
família, aniquilando toda uma geração: foi inaugurado por meu pai Elias
Antonio Gosson, em 27 de fevereiro
de 1990, vítima de infarto agudo do miocárdio, e encerrado agora no dia 27 de
dezembro último com Jorge Antonio Gosson.
Seis irmãos partiram na Nau da Eternidade: Elias(1990) Francisco(1996), Hulimase(2002), Jamyles, José
e Jorge(2011). Passarei a falar sobre cada um deles porque é preciso sarar
o luto, enterrar os mortos e evitar o
esquecimento.”Morrer não dói, o que dói é
o esquecimento”, proclama um guerrilheiro da Nuestra América: o
Subcomandante Marcos.
Elias Antonio Gosson. Exatamente numa terça-feira de
Carnaval morria meu pai;daí, em poema, eu ter escrito: “Meu pai morreu numa terça-feira de Carnaval/para não ver a
quarta-feira de Cinzas.”. Duas metáforas: morreu moço, aos cinqüenta e dois
anos de idade e evitou estender a melancolia que nos acompanha no ocaso da
vida.Era natural de Maranguape/Ceará, filho de Antonio José Gosson e Sofia
Hamaney Gosson, ambos do Líbano, que ultrapassaram fronteiras em busca de novos horizontes. Os
árabes ocuparam o Nordeste brasileiro
nos primeiros trinta anos do século passado. Os
Gosson (significa Árvore Frondosa em Árabe) que para cá vieram eram três irmãos: Antonio, Moisés e Abdon. Fixaram-se em no Ceará, em Maranguape, terra de Chico
Anísio. Após alguns anos o mais moço – Abdon-
veio para o Rio Grande do Norte; depois, o meu avô Antonio e o outro Moisés preferiu ficar em
Maranguape/CE constituindo família. Na velhice sempre vinha nos visitar e guardo
na lembrança a seguinte imagem: aquele senhor costumava botar os pés numa bacia
de água morna e começava a barbear-se e a filosofar: “ – meu sobrinho, essa vida sem uma ilusão é uma merda!”, num
português arrastado.
Meu pai , dos seis irmãos, era o que
tinha mais vocação para o comércio. Foi um misto de funcionário público,
comerciante e jornalista. Escrevia semanalmente crônicas para os jornais, tinha
um programa semanal na Rádio Trairi e foi presidente por longo 12 anos da
Federação de Umbanda do RN: gostava de estudar as manifestações afro na
Cultura Brasileira. Na hierarquia do
Candomblé chegou a ser babalorixá, o equivalente à cardeal no Catolicismo. Foi
candidato a vereador na legenda do MDB
nos idos de 1970 em dobradinha com Antônio Câmara, obtendo em torno de 152 votos. Foi quando compreendeu que a nossa
Democracia é de araque: só ganha quem tem e quem sabe gastar dinheiro na compra
de votos. Tinha três qualidades que agradam a Deus: 1. Humildade;
2.simplicidade;3.honestidade. Hoje, mora na Nova Jerusalém, ao lado da
resplandecente estrela da manhã!
Dando
continuidade ao percurso, a Nau da
Eternidade pára para pegar mais um passageiro: Francisco Antonio Gosson
(Dezembro, 27, 1996). No último trimestre deste ano, o Prof. Francisco começou
a sentir problemas com a voz e a garganta. Ficou preocupado porque seu
ofício era o de Professor da Faculdade
de Farmácia, onde lecionava a disciplina de Parasitologia e Análise Clínica.
Após exames de rotina, descobriu que era portador de um câncer na garganta.
Entre a descoberta e a sua morte passaram-se três meses. No final do ano
embarcou em direção à Eternidade,
deixando viúva a senhora Mercedez
Fernandez (de nacionalidade Paraguaia) e um filho único: Ricardo Wagner Fernandez Gosson, que
também formou-se em Farmácia. Ao contrário do meu pai – Elias Antonio Gosson – não
tinha a menor aptidão para o Comércio. Certa vez declarou: “—eu não teria a menor estrutura para passar o dia em pé, esperando o
freguês”. A sua praia era a Ciência. Quando os microscópios da faculdade
quebravam, não era preciso levá-los para São Paulo. Ele sabia consertá-los.
(*) Escritor e Poeta. Preside a
União Brasileira de Escritores – UBE/RN
que maravilha de relato, esse |Eduardo é um medonho mesmo. Gde escritor.
ResponderExcluir